Jorge
Carvalho do Nascimento
As
meninas foram matriculadas em duas boas escolas de João Pessoa. Carmen, aos
nove anos de idade, foi aceita como aluna do segundo ano primário do Colégio
Nossa Senhora de Lourdes, mantido pelas Irmãs Claretianas, onde estudavam as filhas
das famílias mais endinheiradas do estado da Paraíba.
A
prestigiada escola oferecia os regimes de internato e semi-internato. Este último
foi a opção feita por Sônia para sua filha. A menina entrava na escola às sete
da manhã e a mãe ia buscá-la às 17 horas. À noite, após o jantar que era
servido às 18 horas, Sônia se dedicava a brincar com as filhas até as 20 horas,
quando as meninas se recolhiam para dormir.
Carla,
aos três anos, foi aceita pelo Jardim de Infância da Catedral Basílica de Nossa
Senhora das Neves, que também funcionava em regime de semi-internato. Do mesmo
modo que a irmã mais velha, chegava às sete da manhã e voltava para casa com a
mãe por volta das cinco da tarde.
Sônia
dedicava todos os seus finais de semana a passeios e brincadeiras com as
filhas. Se desdobrava para que não faltasse nada às meninas do ponto de vista afetivo.
Materialmente as meninas também recebiam todo conforto que o dinheiro pode
comprar. Sônia estava muito bem posicionada economicamente.
Como
prometera ao irmão Willison, deixara o trabalho do Night Club e dormia
em casa, com as filhas, todas as noites. Reduziu o estranhamento das meninas,
diante da nova vida, ao mínimo possível. Mãe Ninha, como elas a tratavam ia aos
poucos conquistando o afeto das crianças.
Deixar
o Night Club, contudo, não significou abandonar a prostituição, sair
definitivamente da vida de orgias e renunciar aos prazeres que tanto a
entusiasmavam. Na verdade, houve uma reprogramação dos hábitos de Sônia que
continuou a atender os seus clientes habituais em outro lugar e em outros
horários.
O
Coronel Amazonas, o mais entusiasmado deles passava ao menos seis horas, tanto
na terça como na quinta-feira, ao lado de Sônia em um apartamento do luxuoso
Hotel Globo. A cada encontro com o velho oficial das forças armadas, Sônia
faturava um bom dinheiro que ela já havia incorporado ao seu orçamento.
O
casal chegava ao hotel por volta das oito horas da manhã, assim que Sônia
deixava as meninas na escola. Tomavam o café da manhã no restaurante do Globo e
subiam para um apartamento que Sônia mantinha alugado no hotel, como
mensalista. Desciam para o almoço por volta das 12 horas e 30 minutos. O
coronel e Sônia deixavam o hotel por volta das quatro da tarde e ela seguia
para buscar as filhas na escola.
Se
o pançudo militar de pijama satisfazia sexualmente a fogosa sertaneja, ninguém
sabe. O fato é que ele ia embora do Hotel Globo sempre ostentando um sorriso de
orelha a orelha pelos bons tratos que a menina lhe oferecia enquanto eles
estavam na cama. A sua cara de felicidade não escondia o quanto tais encontros
lhe eram prazerosos.
Mas,
ele não era o único. Sônia também ganhava um bom dinheiro às segundas e quartas-feiras.
Sexta-feira era dia de perder um pouco do que faturava nos outros dias. Nas
segundas e quartas, ela costumava receber dois clientes distintos a cada dia.
Normalmente casados, eles fugiam das suas empresas e das repartições públicas
onde trabalhavam para obter os afamados favores sexuais de Sônia.
As
manhãs de segunda-feira, normalmente, eram ocupadas pelo Dr. Wandycler Alencar,
um ortopedista que abandonava o seu expediente no consultório do Instituto de
Aposentadoria e Pensão dos Marítimos – o IAPM para se entregar aos prazeres que
Sônia sabia proporcionar com maestria.
O
médico saía pouco antes de meio-dia para assinar o livro de ponto na
repartição. Sônia mal tinha tempo de tomar um banho e recompor a si e a cama,
apagando os vestígios das peripécias matinais. Por volta de uma da tarde
chegava Amâncio Santana, ourives da Caixa Econômica Federal.
Os
aconchegos da manhã de quarta-feira pertenciam a Maurício Moura, um albino
proprietário de uma pedreira em Campina Grande, expedicionário que perdera a
perna esquerda na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, ao pisar em uma mina
durante a conquista de Monte Castelo.
Os
encontros com ele valiam a pena pela generosidade quanto ao valor das
gratificações que entregava à menina ao fim de cada programa. Exigente e
criativo, demandava as mais inimagináveis orgias que se pudesse conceber. Mas,
pensando exclusivamente no quanto cobraria, Sônia não refugava nenhuma delas.
Alex
Dórea, um agiota vaidoso e sempre bem vestido fora vencido pela impotência,
tinha já muitos anos. Perto de completar 70 anos de idade, desde que a
disfunção erétil se manifestou, buscou o sexo oral como alternativa possível.
Com ele, a Sônia bastava a passividade. A cada encontro, uma boa remuneração no
final da tarde de quarta-feira.
Camilo
Paixão ocupava as sextas-feiras de Sônia. O festejado jornalista chegava ao
Hotel Globo e tomava o café da manhã com ela sempre por volta das oito da
manhã. Saía as quatro da tarde deixando Sônia exausta, sem coragem para mais
nada. E o pior, muitas vezes ao final da sessão pedia a sua amásia algum
dinheiro emprestado que jamais seria pago. Sônia, feliz, mantinha o amante
esbelto, musculoso e displicente no jeito de se vestir.
O
fato é que ela não mais trabalhava no Night Club e isto deixava o seu
irmão Willison feliz, com a certeza de que a irmã, finalmente, abandonara a
prostituição.
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