Quando
começou a trabalhar como repórter no jornal Gazeta de Sergipe, nos primeiros
anos da década de 60 do século XX, o jornalista Ancelmo Gois teve em Ivan
Valença uma espécie de preceptor. Assim que tomei conhecimento da morte de Ivan
na última segunda-feira, 21 de abril, entrei em contato com Ancelmo para lhe
comunicar da partida do nosso amigo comum.
A
morte de Ivan sensibilizou Ancelmo e
toda uma geração de jornalistas e cinéfilos que conviveu com ele. Hoje recebi
de Ancelmo um comentário acerca de um texto escrito pelo também jornalista
Luciano Correia a respeito de Ivan. Ancelmo relembra um depoimento que deu à
Associação Brasileira de Imprensa - ABI, no qual faz importantes referências a
Ivan Valença.
Pedi
autorização a Ancelmo e publico aqui o seu texto.
***
“Querido
parceiro. Li quase tudo que saiu na imprensa sergipana sobre Ivan. Um
reconhecimento de sua caminhada aqui na terra. Me mandaram um artigo do Luciano
Correia, muito bom sinal, sobre nosso amigo, e eu mandei este bilhete:
Grato,
grato mesmo, por enviar este texto do Luciano Correia sobre Ivan Valença, que
me ensinou os primeiros caminhos das pedras da profissão. Nas últimas 48 horas
eu não parei de pensar um minuto. De um lado, triste com a partida de quase
toda minha geração da Gazeta dos agitados anos 60 como, entre outros, Orlando
Dantas, José Rosa de Oliveira Neto, Paulo Barbosa de Araújo, Luiz Antônio
Barreto, Carlos Alberto Chatô e agora Ivan Valença.
Do
outro, pensei que sorte a minha ter sido adotado, ainda adolescente, por esta
turma - a quem devo uma gratidão eterna. No mais: gostaria de compartilhar
trechos de um antigo depoimento que fiz para a Associação Brasileira de
Imprensa. Vida que segue.
ABI
— O que mais é marcante na sua atuação no jornalismo em Sergipe?
Ancelmo
— A imensa generosidade de pessoas que me ajudaram naquele período, como os
dois grandes mestres que eu tive. Um deles foi o José Rosa de Oliveira Neto
(que já morreu) e chegou a ser dirigente do Partido Socialista. Ele me orientou
muito com relação à leitura. Eu era um jovem metido a besta, que só queria
saber de livros de Filosofia. Ele me dava bronca e dizia: ‘Você não tem que ler
livros de Filosofia p… nenhuma. Vá ler José Lins do Rego, Graciliano Ramos e
Jorge Amado’. Esse cara foi fundamental na minha vida.
ABI
— Você citou um dos seus mestres, quem foi o outro?
Ancelmo
— O Ivan de Macedo Valença, que está vivo e esteve na minha festa de 60 anos.
Ele foi o meu primeiro chefe na Gazeta de Sergipe. Um profissional com uma
grande sensibilidade jornalística. Estávamos na década de 60, quando o creme do
creme do jornalismo brasileiro era o nosso Jornal do Brasil, no qual ele se
inspirava. O Jornal do Brasil tinha o ‘Informe JB’, então o Ivan criou o ‘Informe
GS’ (Informe Gazeta de Sergipe). Ele morava em Aracaju, que naquela época era
uma cidade pequena ainda, mas vivia antenado, pesquisando o que era bem-feito.
ABI
— Que outras inovações o Ivan introduziu na Gazeta?
Ancelmo
— Na Gazeta de Sergipe ele introduziu muitas ideias gráficas que pesquisava nos
jornais, inclusive publicações estrangeiras. Mas principalmente do Jornal do
Brasil. Eu fui criado nesse ambiente até que veio o golpe de 1964”.
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