Jorge
Carvalho do Nascimento
Indiscutivelmente,
a televisão foi preponderante no resultado das eleições realizadas em 1974, quando
a ditadura militar celebrou o décimo ano governando o Brasil. A oposição,
sabemos, conquistou 16 das 22 cadeiras em disputa para o Senado Federal. A
eleição em Sergipe do médico Gilvan Rocha como senador foi marco na história
política do Estado. Entendê-la requer que se lance um olhar mais acurado sobre
o papel da TV naquela campanha.
Uma
das consequências da eleição do senador Gilvan Rocha e mais 15 senadores
emedebistas nas eleições de 1974 foi a edição, em 1977, do chamado Pacote de
Abril. Para evitar um novo resultado adverso em 1978, o presidente Ernesto
Geisel, com o seu Pacote, criou a figura do “senador biônico”.
O
chamado Pacote de abril estava contido na Emenda Constitucional número oito e
em seis decretos-lei. O artigo 13 da Constituição Federal foi alterado,
estabelecendo que do Colégio Eleitoral encarregado de eleger os governadores e
vice-governadores participariam não apenas os deputados estaduais, mas também
um delegado de cada Câmara Municipal e mais outro por cada 200 mil habitantes
existentes no município. Na verdade, com essa medida, o presidente Geisel
buscou impedir que o MDB elegesse a maioria dos governadores dos Estados, em
face dos bons resultados eleitorais que o partido havia alcançado em 1974.
A
alteração que gerou maior polêmica foi a do artigo 41, ao estabelecer que a
cada renovação de dois terços do Senado Federal, um terço seria escolhido pelo
mesmo Colégio Eleitoral encarregado de eleger os governadores. A pedra de toque
do pacote de abril foi a regulamentação da propaganda eleitoral no rádio e na
TV (a chamada Lei Falcão). Pelo novo regulamento os partidos ficaram limitados
a mencionar a legenda, o currículo e o número de cada candidato,
acrescentando-se na TV apenas uma fotografia de cada pleiteante ao mandato.
O
governo Geisel tinha clareza do quanto a propaganda eleitoral na TV fora
importante para que o MDB elegesse 16 senadores em 1974. Em Sergipe, a eleição
de 1974 foi preparada cuidadosamente pelo MDB, a fim de evitar a repetição dos
problemas que correram em 1970.
Em
dezembro de 1973, José Carlos Teixeira, presidente e principal líder do
partido, definiu a sua estratégia eleitoral, que influenciaria as decisões
partidárias, ao publicar o “Manifesto ao Povo Sergipano”, com algumas definições
da maior importância: “(...) Assim, nas próximas eleições de 15 de novembro de 1974,
serei candidato a deputado federal, pelo Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), esperando contar com o vosso apoio e a vossa solidariedade que, aliás,
nunca me faltaram (...)”.
O
partido oposicionista realizou sua convenção no dia 15 de julho de 1974, no
plenário da Assembleia Legislativa, homologando os nomes dos candidatos ao
Senado Federal, à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa. Além do
médico Gilvan Rocha e do suplente de sua chapa, Antônio Tavares, foram
indicados os nomes de seis candidatos a deputado federal e 23 candidatos a
deputado estadual.
Como
é sabido, nas eleições daquele ano, o partido governista, a Arena, sofreu uma
derrota estrepitosa nas eleições para o Senado Federal. A televisão foi a
grande novidade das eleições brasileiras em 1974. Todo o programa do MDB em
Sergipe foi apresentado pela jornalista Denise Lermen, uma competente e elegante
publicitária, responsável pelas entrevistas e pela apresentação dos candidatos.
O
MDB de Sergipe inovou, contratando uma agência de propaganda da Bahia, a Chama
Publicidade, para produzir o programa eleitoral e abriu as câmaras para o bem
articulado discurso do médico João Gilvan Rocha, candidato ao Senado.
Coordenado por João Augusto Gama da Silva, o programa de televisão surpreendeu
a Arena, por ser estruturado e bem montado.
Naquele
momento, o marketing eleitoral em Sergipe era incipiente. E Gilvan Rocha
demonstrou ser um homem muito competente na utilização da TV. O entusiasmo que
ele possuía na TV não era visível nas demais atividades de campanha, de acordo
com a entrevista que fiz com José Carlos Teixeira em março de 2008: “Era uma loucura
a dificuldade de levar Gilvan Rocha para os comícios. Ele não gostava.
Inventava umas cirurgias de última hora. Era uma loucura tirá-lo de casa para
ir a um comício”.
O
nome de Gilvan foi anunciado como candidato ao Senado por José Carlos Teixeira
no dia 25 de janeiro de 1974. O candidato do MDB fez sua estreia distribuindo o
manifesto Ao Povo de Minha Terra: “Encorajado por colegas professores
universitários, profissionais liberais, incentivado por inúmeros amigos e
representando uma ponderável corrente de opinião, ponho ao julgamento do meu
povo, a minha candidatura ao SENADO FEDERAL pelo Movimento Democrático
Brasileiro. Mesmo para os que me conhecem, no trabalho diário de médico e
professor, esta atitude poderá ser inicialmente difícil de entender. Tenho
consciência de que, para muitos, a militância política é uma atitude marginal.
Não por sua desvalorização própria, pois político é o homem social, mas porque
pertencemos a uma geração que assistiu em Sergipe a degradação e decomposição
de enganosas lideranças. Outros amigos acham que não é esta a melhor hora para
se ajudar nossa terra, engajando-se politicamente na Oposição. Acredito, porém,
por formação, que na vida há o momento para tudo. Para nascer, para crescer,
para se multiplicar, para se escolher, para morrer. Este determinismo biológico
talvez tenha me ajudado a atender o apelo de muitos. Acredito que esta é a hora
e esta é a opção melhor para os que responsavelmente desejam lutar pelo
progresso da nossa terra. Profissional liberal com longa vivência no meu
Estado, identificado com a gente humilde de minha terra, a quem pertenço por
origem, seria muito mais fácil para mim, se embalado por pura vaidade almejasse
um cargo representativo para satisfação pessoal. Cortejaria as lideranças
políticas da situação e surgiria como mais um candidato a usar amigos e
influência para a obtenção de uma sonolenta, subserviente e pacata posição
Estadual ou Federal. Preferi, porém, o difícil, trabalhoso e desigual caminho
da Oposição. Não por estoicismo ou vocação heroica, mas por convicção.
Convicção alicerçada na crença de que a Oposição construtiva, leal, honrada e
séria é o melhor lugar para quem realmente deseja servir ao nosso Estado. Minha
candidatura nasce, portanto, na hora certa, no local adequado. Representa uma
tomada de posição de uma muito numerosa quantidade de pessoas inconformadas com
a deterioração das lideranças políticas locais. Significa o anseio comum de um
povo que não mais admite a falta de imaginação da situação, que insiste em não
se renovar, em buscar novas posições na nossa juventude, na nossa Universidade,
nas nossas classes empresariais, intelligenzia
sergipana, enfim no POVO, na nossa gente, de legendária vocação para o
trabalho. Minha candidatura não veio para contestar. Sou dos que acham a
Revolução Brasileira um fato histórico definitivo. Não há razão para
contestá-la. Impatriótico, porém, seria não exercer o direito de criticar o
criticável, de não ajudá-la a reconstruir o respeito ao direito de livre
manifestação de pensamento e o acatamento à carta dos Direitos Universais da
pessoa humana. Não represento interesses nem grupos. Significo sim, com muita
honra, os inconformados, os impacientes com o desengajamento da nossa terra no
processo global, os intelectuais, os jovens postos à margem pelo despreparo dos
nossos dirigentes, os sofridos pela injustiça social, os que acham que os
homens públicos devem renovar-se. A minha candidatura nasce como um gesto de
fé. Em mim mesmo, nos meus amigos e principalmente na nossa Terra. Por isso
altivamente parto para a luta. Impessoal, viril, mais alta. Nunca contra, mas,
sobretudo, a favor. A favor do progresso da nossa grandeza como Estado, da
formação de um novo SERGIPE”.
PARABÉNS professor pela escrita voltei no tempo e lembrei como se fosse hoje essa eleição do grande Dr. Gilvan.
ResponderExcluirPARABÉNS,GOVERNADOR ROTARIANO 2024/2025.EXCELENTE ARTIGO ,ESCLARECEDOR,ELUSIDATIVO E CHAMAMENTO AO NOSSO MOMENTO HISTÓRICO.
ResponderExcluir