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HOMENAGEM A CARLOS MONARCCHA


 

 

Jorge Carvalho do Nascimento

 

 

Quando eu ingressei na Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo, em 1983, iniciando o Mestrado em Filosofia da Educação, quatro colegas chamavam a atenção de toda turma pelo brilho das posições que assumiam: Paulo Ghiraldelli Junior, Luiz Carlos Barreira, Lino Castellani Filho e Carlos Roberto da Silva Monarccha.

Os quatro se transformaram em influentes estudiosos e pesquisadores da Educação brasileira. Um deles, Paulo Ghiraldelli, se desgarrou das reflexões educacionais e ampliou os seus horizontes pelo campo da Filosofia e da Ciência Política. Ocupou significativo espaço nas redes da internet quando os blogs se transformaram em espaço de comunicação relevante.

Luiz Carlos Barreira fez uma carreira competente como professor e pesquisador. Lino Castellani, a partir da sua posição de professor e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, exerceu grande influência no campo da História da Educação Física no Brasil.

O nosso Programa de Pós-Graduação era liderado pelo professor Dermeval Saviani e o quadro docente mantinha influentes estudiosos como Bernadete Gatti, Maria Luisa Ribeiro e Maria Malta Campos. Saviani incorporou ao quadro de docentes e pesquisadores do Programa alguns professores que defenderam tese de doutoramento no início dos anos 80 do século XX, sob a sua orientação: Guiomar Namo Melo e Teresa Roserley Nebauer.

Dentre as jovens estrelas de doutores ascendentes, uma delas havia iniciado a carreira com muito brilho: Mirian Jorge Warde. Num final de tarde, após uma aula do curso especial que Saviani ministrava com o tema Reflexões Sobre Educação na Obra de Antonio Gramsci, enquanto tomávamos uma cerveja num bar da rua Cardoso de Almeida, Monarccha chamou a minha atenção para a importância de Mirian Warde.

Estávamos ajustando os nossos processos de orientação para as dissertações de Mestrado que iniciávamos. Paulo Ghiraldelli e Lino Castellani haviam definido o nome de Maria Luisa Santos Ribeiro como orientadora. Eu e Monarccha a procuramos e descobrimos que ela não tinha mais vagas para novos orientandos.

Ter Dermeval Saviani como orientador era um sonho impossível. Era o mais solicitado dentre todos os docentes do Programa para atuar como orientador. Isto fazia com que praticamente todos os orientandos de Dermeval fossem alunos do Doutorado. Foi Monarccha quem me convenceu que deveríamos procurar Mirian Warde e consulta-la sobre a possibilidade de termos a jovem pesquisadora assumindo a orientação dos nossos trabalhos.

O primeiro a defender a dissertação de Mestrado foi Lino Castellani. O seu trabalho foi publicado pela Editora Cortez e se transformou num best-seller de sucessivas edições: Educação Física no Brasil – A História que não se Conta. Castellani deu uma guinada nos estudos sobre História da Educação Física e produziu uma vigorosa crítica a Inezil Penna Marinho, até então o mais importante pesquisador do campo.

Todavia, naquele grupo de mestrandos, o mais importante de todos os trabalhos foi produzido por Carlos Monarccha sob a orientação de Mirian Warde. A publicação daquela dissertação em livro pela Cortez Editora transformou Monarccha em autor de um outro best-seller extremamente citado: A Reinvenção da Cidade e da Multidão – Dimensões da Modernidade Brasileira – A Escola Nova.

Monarccha foi um querido amigo que ganhei ao fazer o Mestrado em Educação na PUC de São Paulo. Esta semana recebi, entristecido, a notícia da sua morte. Era sociólogo, mestre e doutor em Educação pela PUC de São Paulo, e professor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp.

Entusiasmado pesquisador debruçado sobre a História da Escola Nova no Brasil, Monarccha dedicou alguns anos da sua carreira a estudar a obra de Lourenço Filho. Colecionou alguns prêmios como resultado da boa qualidade do trabalho que realizava: Prêmio Lourenço Filho, por duas vezes Prêmio Jabuti e Prêmio Ciências Humanas.

Convivemos durante cinco anos, nas duas temporadas que vivi como morador da cidade de São Paulo, quando cursei o mestrado e alguns anos depois retornei à PUC para o doutorado, sempre sob a orientação da nossa querida (minha e dele) Mirian Jorge Warde. Fomos amigos e companheiros de vida boêmia e da troca de ideias acadêmicas.

Quando ingressamos no Mestrado em Educação da PUC, no ano de 1983, eu contava 27 anos de idade e Monarccha tinha 30 anos. Carlos Roberto da Silva Monarccha morreu no último dia 29 de maio, aos 71 anos de idade. A ele, as minhas homenagens.

 

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