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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XVIII

                                                                  Antônio Garcia


 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Na década de 50 do século XX, os jornais aracajuanos começaram também a publicar listas com as mais e os mais elegantes, como já faziam os colunistas sociais, principalmente nos jornais do Rio de Janeiro.

Alguns colunistas como Carlos Henrique de Carvalho promoviam festas beneficentes, patrocinavam bailes de debutantes, coroavam “rainhas”, organizavam desfiles de modas. A partir de 1954, Bonequinha começou a publicar, em Sergipe, a lista dos dez homens e das dez mulheres mais elegantes do ano.

O colunista usava bordões intercalados entre as suas notas: “Agora, bola pra frente, e lá vai mecha”. Para uma mulher figurar na lista das dez mais eram necessários alguns atributos. Não bastava ser rica. Também era fundamental uma certa ostentação que se expressava através da roupa que usava, das festas que frequentava, das viagens que costumava fazer, dos carros que possuía, dos esportes que praticava, dos hábitos do marido, dos gestos de caridade que assumia e de algum lustro intelectual que tinha possibilidade de apresentar.

Na lista de 1956, havia pelo menos seis mulheres que merecem ser citadas agora, pela natureza dos comentários feitos por Bonequinha: "Senhora Aurélia Amado – decididamente a mais elegante do nosso Estado. Guarda roupa variado e decididamente na moda. Vai ao Rio todo ano. Dirige o seu lindo Pontiac de duas cores (foto). Esportiva, aprecia tênis. Casada com o Dr. Luciano, o homem mais elegante do Estado. Juntos formam um casal vinte.

Senhora Hortência Prado Brito – frequentadora assídua do high society carioca. Reside atualmente em Aracaju. Dança bem e aprecia o esporte do Society, o Pólo. Casada com o industrial Herílio Brito, já falecido.

Senhora Acácia Cruz – é a mais bonita, indiscutivelmente, entre as dez mais. Educada, tem muito finesse e atualmente ocupa brilhantemente a presidência da Associação contra a Lepra, gosta de cinema e teatro. É casada com o industrial João Cruz, conceituado sergipano.

Senhorita Silvinha Rollemberg – uma belezoca de garota, tem o palminho de rosto mais bonito do Estado, presentemente anda afastada do meio social e dizem que está usando a Flor Azul. Descendente da tradicional família Rollemberg tem personalidade marcante. Suas saias e blusas lhe ficam muito bem. Em recepções usa vestidos rodados que combinam com o seu tipo esbelto, chegando este colunista a ter a impressão de estar diante de uma autêntica nobre de Buckingham.

Senhorita Maria Luiza Barbosa – é um amoreco de garota. Dona de uns olhinhos irresistíveis. É a única senhorita que vem fazendo parte desta lista desde 1954. Tem glamour parisiense e qualidades sociais e morais elevadas. Frequenta as festas da Associação, sendo a garota mais disputada pelos playboys e homens de negócios para dançar. Habitué das sessões dominicais do Pálace.

Senhorita Isaurinha Mascarenhas – elegância aristocrática, esta jovem possui charme very kar e educação finíssima. Frequenta a Associação Atlética sempre em companhia de seus pais. Por incrível que pareça não está usando a flor azul".

As listas de dez mais publicadas por Bonequinha também contemplavam os homens que costumavam frequentar as festas do high society. A um homem não bastava ser rico. Era necessário parecer ao arbítrio do colunista um homem bem, de bens e de bem. Andar bem vestido, ou seja, com roupas exclusivas; praticar esportes; frequentar festas; viajar para lugares tidos como glamourosos.

A lista do mesmo ano de 1956 foi também muito ilustrativa: "Dr. Luciano Amado – industrial e dono do melhor guarda roupa masculino de Sergipe. Prima pelas roupas bem talhadas. Desportista 100%, admira o tênis e o foot-ball. Homem bem, de bens e de bem. Frequenta as festas sociais sempre em grupo.

Roberto Tunes – capitalista, rapaz moço que goza de um conceito muito catu na nossa sociedade, sua elegância predomina através de tropicais ingleses bem talhados. Ultimamente, circulou em Paris, Cidade Luz.

Ronaldo Calumbi Barreto – homem de negócios, o mais moço dos 10 mais, um rapaz muito estimado em nosso meio social pelas suas qualidades e pelo seu cavalheirismo. Circula constantemente em Salvador, o que nos faz crer que esteja usando a flor azul naquela boa terra. Ia me esquecendo! Piu piu para quem não gosta de mim, até 1957...".

Em dezembro de 1958, o jornal A Cruzada publicou pela primeira vez na sua coluna social a lista das 10 mais elegantes do ano. A coluna social de A Cruzada tinha uma característica que a diferenciava. SOCIEDADE EM REVISTA, o título da coluna, era um espaço comercial que não recebia a assinatura de nenhum jornalista, mas sim de uma empresa. “Responsabilidade do Departamento de Modas da SERCAL”. A SERCAL era uma indústria de roupas. O noticiário e os comentários da coluna eram produzidos por um grupo de jornalistas que não assinavam a publicação.

Na lista das 10 mais do ano de 1958, o jornal simplesmente enumerou os nomes das socialites escolhidas. “Tivemos o aparecimento da lista das 10 Mais Elegantes Senhoritas de Sergipe. Foram escolhidas as senhoritas: Silvinha Rollemberg, Maria Vilanova, Helena Oliveira, Jacira Sá Figueiredo, Yolanda Mendonça, Carmelita Caldas, Maria Cristina, Marlene Freire, Maria Luiza Cruz e Maria Augusta Garcez”.   

Colunistas sociais ajudavam a compor um quadro da vida da elite. Pierre, que em junho de 1959 era colunista do Sergipe Jornal, ao descrever uma festa ocorrida na Associação Atlética de Sergipe, produziu um singular “catálogo” das figuras de maior expressão na elite local: "Com cuidado, anotamos, após observações, que a mocidade feminina “acontecia decididamente”.

E publicava a relação: Miss Sergipe Nilza Brito, dando aulas de classe, bom gosto e distinção. Conceição Morais, Miss Elegante Bangu, defendendo muito bem o título que ostenta. Maria Luíza Barbosa, a ruivinha linda e graciosa, num figurino branco, luvas verdes, o sorriso mais lindo da noite e o seu deslumbramento que é o máximo. Nota dez. Anotamos: Comerciante José Carlos Felizola e senhora super-super elegante, D. Noélia Felizola. Fiscal de Consumo Astrogildo Silva e consorte, a elegante e animada D. Lourdes, acompanhando o broto encantador Gina Nascimento. Sr. Eduardo Fonseca, senhora D. Aidil Fonseca, muito distinta. Sr. Aderbal Fontes Góis e Sra. D. Gení Góis. Capitão “gentleman” Hipólito Paquelet e sua bonita e elegante senhora. Tenente Moura Costa, um dos baluartes do Círculo Militar de Aracaju e senhora. Comerciante Manoel Aguiar Menezes, senhora e filho Henrique. Funcionário Federal Sr. Jackson de Figueiredo e consorte, D. Glauce Figueiredo, que classificamos como legítima elegante. Dr. Antônio Garcia Filho e senhora. Ruy Bessa e senhora Maria Cândida, outra elegante que merece destaque especial. Sr. José Alcides Hora, senhora e filha, a encantadora Marialda Hora, uma moreninha que é um pecado em forma humana. Cronista Social Joana Santana, em balão branco e sua irmã Neusa Santana, parece que em adiantada fase afetiva com o Fiscal de Consumo Gabriel Ferreira, o gaúcho que chegou há dias de Goiânia, e que já aparece como um perfeito “gentleman”. Dançavam showzinho de dança. As irmãs Cristina, Wanda, Sinésia Almeida, compondo a mesa, enquanto Dulce, outra irmã, mantinha animada conversação com seu noivo Thales Pina Dantas. Miss Estudante, Maria Eugênia, depois de ausente das festas, retornou muito elegante e sempre bonita. A cronista social da trancinha, Maria Luiza Cruz, era outro ponto de convergência e de elogios. Brotinho Hortência Dórea e seu pai Napoleão Dórea. Oscar Macedo Filho admirava e comentava a beleza e elegância de Maria Luiza Cruz. E a festa acabou às 3 horas do dia 31".

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
                                                           

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