Jorge
Carvalho do Nascimento*
Na década de 50 do
século XX, os jornais aracajuanos começaram também a publicar listas com as
mais e os mais elegantes, como já faziam os colunistas sociais, principalmente
nos jornais do Rio de Janeiro.
Alguns colunistas como
Carlos Henrique de Carvalho promoviam festas beneficentes, patrocinavam bailes
de debutantes, coroavam “rainhas”, organizavam desfiles de modas. A partir de
1954, Bonequinha começou a publicar, em Sergipe, a lista dos dez homens e das
dez mulheres mais elegantes do ano.
O colunista usava
bordões intercalados entre as suas notas: “Agora, bola pra frente, e lá vai
mecha”. Para uma mulher figurar na lista das dez mais eram necessários alguns
atributos. Não bastava ser rica. Também era fundamental uma certa ostentação
que se expressava através da roupa que usava, das festas que frequentava, das
viagens que costumava fazer, dos carros que possuía, dos esportes que
praticava, dos hábitos do marido, dos gestos de caridade que assumia e de algum
lustro intelectual que tinha possibilidade de apresentar.
Na lista de 1956,
havia pelo menos seis mulheres que merecem ser citadas agora, pela natureza dos
comentários feitos por Bonequinha: "Senhora Aurélia Amado – decididamente
a mais elegante do nosso Estado. Guarda roupa variado e decididamente na moda.
Vai ao Rio todo ano. Dirige o seu lindo Pontiac de duas cores (foto). Esportiva,
aprecia tênis. Casada com o Dr. Luciano, o homem mais elegante do Estado.
Juntos formam um casal vinte.
Senhora Hortência
Prado Brito – frequentadora assídua do high society carioca. Reside atualmente
em Aracaju. Dança bem e aprecia o esporte do Society, o Pólo. Casada com o
industrial Herílio Brito, já falecido.
Senhora Acácia Cruz
– é a mais bonita, indiscutivelmente, entre as dez mais. Educada, tem muito
finesse e atualmente ocupa brilhantemente a presidência da Associação contra a
Lepra, gosta de cinema e teatro. É casada com o industrial João Cruz,
conceituado sergipano.
Senhorita Silvinha
Rollemberg – uma belezoca de garota, tem o palminho de rosto mais bonito do
Estado, presentemente anda afastada do meio social e dizem que está usando a
Flor Azul. Descendente da tradicional família Rollemberg tem personalidade
marcante. Suas saias e blusas lhe ficam muito bem. Em recepções usa vestidos
rodados que combinam com o seu tipo esbelto, chegando este colunista a ter a
impressão de estar diante de uma autêntica nobre de Buckingham.
Senhorita Maria
Luiza Barbosa – é um amoreco de garota. Dona de uns olhinhos irresistíveis. É a
única senhorita que vem fazendo parte desta lista desde 1954. Tem glamour
parisiense e qualidades sociais e morais elevadas. Frequenta as festas da
Associação, sendo a garota mais disputada pelos playboys e homens de negócios
para dançar. Habitué das sessões dominicais do Pálace.
Senhorita Isaurinha
Mascarenhas – elegância aristocrática, esta jovem possui charme very kar e
educação finíssima. Frequenta a Associação Atlética sempre em companhia de seus
pais. Por incrível que pareça não está usando a flor azul".
As listas de dez
mais publicadas por Bonequinha também contemplavam os homens que costumavam
frequentar as festas do high society. A um homem não bastava ser rico. Era
necessário parecer ao arbítrio do colunista um homem bem, de bens e de bem.
Andar bem vestido, ou seja, com roupas exclusivas; praticar esportes; frequentar
festas; viajar para lugares tidos como glamourosos.
A lista do mesmo
ano de 1956 foi também muito ilustrativa: "Dr. Luciano Amado – industrial
e dono do melhor guarda roupa masculino de Sergipe. Prima pelas roupas bem
talhadas. Desportista 100%, admira o tênis e o foot-ball. Homem bem, de bens e
de bem. Frequenta as festas sociais sempre em grupo.
Roberto Tunes –
capitalista, rapaz moço que goza de um conceito muito catu na nossa sociedade,
sua elegância predomina através de tropicais ingleses bem talhados.
Ultimamente, circulou em Paris, Cidade Luz.
Ronaldo Calumbi
Barreto – homem de negócios, o mais moço dos 10 mais, um rapaz muito estimado
em nosso meio social pelas suas qualidades e pelo seu cavalheirismo. Circula
constantemente em Salvador, o que nos faz crer que esteja usando a flor azul
naquela boa terra. Ia me esquecendo! Piu piu para quem não gosta de mim, até
1957...".
Em dezembro de
1958, o jornal A Cruzada publicou pela primeira vez na sua coluna social a
lista das 10 mais elegantes do ano. A coluna social de A Cruzada tinha uma
característica que a diferenciava. SOCIEDADE EM REVISTA, o título da coluna, era
um espaço comercial que não recebia a assinatura de nenhum jornalista, mas sim
de uma empresa. “Responsabilidade do Departamento de Modas da SERCAL”. A SERCAL
era uma indústria de roupas. O noticiário e os comentários da coluna eram
produzidos por um grupo de jornalistas que não assinavam a publicação.
Na lista das 10
mais do ano de 1958, o jornal simplesmente enumerou os nomes das socialites
escolhidas. “Tivemos o aparecimento da lista das 10 Mais Elegantes Senhoritas
de Sergipe. Foram escolhidas as senhoritas: Silvinha Rollemberg, Maria
Vilanova, Helena Oliveira, Jacira Sá Figueiredo, Yolanda Mendonça, Carmelita
Caldas, Maria Cristina, Marlene Freire, Maria Luiza Cruz e Maria Augusta Garcez”.
Colunistas sociais
ajudavam a compor um quadro da vida da elite. Pierre, que em junho de 1959 era
colunista do Sergipe Jornal, ao descrever uma festa ocorrida na Associação
Atlética de Sergipe, produziu um singular “catálogo” das figuras de maior
expressão na elite local: "Com cuidado, anotamos, após observações, que a
mocidade feminina “acontecia decididamente”.
E publicava a
relação: Miss Sergipe Nilza Brito, dando aulas de classe, bom gosto e
distinção. Conceição Morais, Miss Elegante Bangu, defendendo muito bem o título
que ostenta. Maria Luíza Barbosa, a ruivinha linda e graciosa, num figurino
branco, luvas verdes, o sorriso mais lindo da noite e o seu deslumbramento que
é o máximo. Nota dez. Anotamos: Comerciante José Carlos Felizola e senhora
super-super elegante, D. Noélia Felizola. Fiscal de Consumo Astrogildo Silva e
consorte, a elegante e animada D. Lourdes, acompanhando o broto encantador Gina
Nascimento. Sr. Eduardo Fonseca, senhora D. Aidil Fonseca, muito distinta. Sr.
Aderbal Fontes Góis e Sra. D. Gení Góis. Capitão “gentleman” Hipólito Paquelet
e sua bonita e elegante senhora. Tenente Moura Costa, um dos baluartes do
Círculo Militar de Aracaju e senhora. Comerciante Manoel Aguiar Menezes,
senhora e filho Henrique. Funcionário Federal Sr. Jackson de Figueiredo e
consorte, D. Glauce Figueiredo, que classificamos como legítima elegante. Dr.
Antônio Garcia Filho e senhora. Ruy Bessa e senhora Maria Cândida, outra
elegante que merece destaque especial. Sr. José Alcides Hora, senhora e filha,
a encantadora Marialda Hora, uma moreninha que é um pecado em forma humana.
Cronista Social Joana Santana, em balão branco e sua irmã Neusa Santana, parece
que em adiantada fase afetiva com o Fiscal de Consumo Gabriel Ferreira, o
gaúcho que chegou há dias de Goiânia, e que já aparece como um perfeito
“gentleman”. Dançavam showzinho de dança. As irmãs Cristina, Wanda, Sinésia
Almeida, compondo a mesa, enquanto Dulce, outra irmã, mantinha animada conversação
com seu noivo Thales Pina Dantas. Miss Estudante, Maria Eugênia, depois de
ausente das festas, retornou muito elegante e sempre bonita. A cronista social
da trancinha, Maria Luiza Cruz, era outro ponto de convergência e de elogios.
Brotinho Hortência Dórea e seu pai Napoleão Dórea. Oscar Macedo Filho admirava
e comentava a beleza e elegância de Maria Luiza Cruz. E a festa acabou às 3
horas do dia 31".
*Jornalista, professor, doutor em Educação,
membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de
Educação.
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