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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XXIV

                                            Luiz Daniel Baronto
 

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Publicar coluna social sempre foi um fascínio que impactava não apenas os leitores. Também os jornalistas se encantavam com a repercussão das coisas que conseguiam escrever e publicar. Luiz Daniel Baronto, colunista social influente na mídia do Estado de Sergipe ao longo da década de 1960, relatou em depoimento ao autor deste texto que buscava sempre a repercussão das coisas que escrevia.

Para Daniel Baronto, era “formidável você escrever aquilo e no dia seguinte pegar no jornal e depois ver e ouvir as reações do público. Eu mesmo sentia um prazer muito grande. Era como se eu tivesse feito e estivesse aparando um filho. E depois, fazia também a minha autocensura”

Publicar jornais na década de 60 do século XX era uma epopeia. A coluna social ganhou muita importância com o uso intensivo da fotografia. Todavia, os jornais mais modernos da metade do século XX utilizavam o sistema de linotipo na sua composição. A linotipo era uma máquina que fundia em bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina de escrever. Para fundir as linhas, a máquina possuía uma caldeira fervente com chumbo derretido que era moldado como negativo, com o texto em alto relevo.

O colunista social Luiz Daniel Baronto fez uma síntese de tal processo gráfico do jornal, sob a ótica dos que atuavam na redação, principalmente considerando que naquele período era muito importante para as colunas sociais a publicação de fotografias. “Naquela época, pra fazer um jornal, botar o jornal em circulação, era muito mais difícil. Você pegava a fotografia, fazia um alto relevo gravado numa liga de metal e pregava aquilo numa barra de madeira para imprimir no papel. Era um ato de heroísmo colocar um jornal para circular. E as sete horas da manhã ele estava na rua sendo distribuído”.

Jornalista de muito prestígio em Sergipe no gênero coluna social, durante a década de 1960, Luiz Daniel Baronto assumiu a titularidade da sua primeira coluna no jornal Gazeta de Sergipe, em 1963. A sua memória não sabe mais precisar de quem teria partido o convite para tal responsabilidade. “Eu tenho a impressão de que foi o jornalista Ivan Valença, editor do jornal, ou o próprio Orlando Dantas, diretor geral da Gazeta”.

Daniel Baronto era figura muito presente nas festas do Iate Clube de Aracaju, da Associação Atlética de Sergipe e também nas reuniões das mansões das famílias da elite de Sergipe. Sua coluna logo ganhou prestígio e grande repercussão, mas, segundo o próprio Baronto, foi necessário muito zelo com a escrita para se distanciar de vícios graves presentes corriqueiramente nos textos de coluna social até esta segunda década do século XXI.

Algumas vezes foi chamado pelo jornalista Orlando Dantas para conversar sobre o estilo de coluna social pretendido pela Gazeta de Sergipe. O próprio Baronto relatou uma dessas conversas. “Uma vez eu fui entregar minha coluna no jornal e ele me chamou. Disse: Você escreve uma coluna social aqui no jornal. É bom para o jornal ter uma coluna social. Você escreve direitinho, agora vou lhe dar um conselho – acabe com os íssimos. Vocês, cronistas sociais, têm mania de superlativo. Tudo é íssimo. É boníssimo, elegantíssimo. Acabe com isto, porque no dia que for verdade ninguém leva a sério”.

Baronto afirmou a sua concordância com a orientação de Orlando Dantas e disse ser vício do gênero até os dias atuais a utilização abusiva de superlativos. “É um conselho que eu dou a todos os colunistas: acabem com os superlativos”.

Professora e revisora de Língua Portuguesa, na década de 1960 jovem que frequentava as grandes festas e os clubes sociais da elite sergipana, Tânia Meneses exemplificou alguns textos de colunas sociais nos quais há exagero no uso do superlativo. “A senhora Fulana de Tal (esposa do ilustríssimo Fulano de Tal) marcou presença no baile de formatura do curso de Medicina da UFS. Ela trajava um elegantíssimo vestido em seda puríssima e finíssima, usava sapatos altíssimos e estava portando joias raríssimas, que pertenceram a sua avó, a digníssima senhora Beltrana de Tal, viúva do Diplomata XXX, um intelectual brilhantíssimo. – E por aí seguia a crônica da gente finíssima da high Society de Aracaju”.

Luiz Daniel Baronto foi colunista social nos jornais Gazeta de Sergipe, Diário de Aracaju, Jornal da Cidade e A Cruzada, o jornal da Arquidiocese de Aracaju. Neste último, foi demitido por determinação de alguns setores da Arquidiocese que manifestavam insatisfação pela ausência de alinhamento de Baronto em determinadas posições políticas. Em sua defesa, o jornalista afirma: “Eu nunca gostei de política, eu nunca fui político”.

Também trabalhou na Rádio Difusora de Sergipe, na Rádio Jornal, na Rádio Liberdade e na Rádio Cultura, esta última emissora católica sob controle da Arquidiocese. Nas décadas de 50, 60 e 70, o colunismo social foi muito forte e presente nas emissoras de rádio do Estado de Sergipe e vários jornalistas exerceram grande influência fazendo coluna social no rádio.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação. 

Comentários

  1. "Nas décadas de 50, 60 e 70, o colunismo social foi muito forte e presente nas emissoras de rádio do Estado de Sergipe e vários jornalistas exerceram grande influência fazendo coluna social no rádio." Por certo que exerceu influência, mas não sobre as classes menos favorecidas. A população pobre vivenciava à época mencionada um contexto histórico bem conhecido, o do analfabetismo, e não comprava jornais. E para que os pobres comprariam os jornais se não os leriam?... Quanto aos programas radiofônicos, esses sim, eram a tônica democrática, especialmente quando surgiu o famoso radinho de pilhas, quase todos estavam sempre com o aparelho ligado. Mas, não custa lembrar que os aparelhos, na década de 60, eram caros e as marcas sempre importadas. Em nossa casa, um dos primeiros que vi era um Phillips holandês. Os pobres, eu me recordo, usavam os jornais velhos adquiridos pelas ruas para enrolar produtos vendidos em bodegas e no mercado.

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