Jorge
Carvalho do Nascimento*
Final da segunda
década do século XXI. Não conseguimos resolver problemas como a pobreza, a
ignorância e a segurança pública. Da mesma maneira, ainda não conseguimos
socializar a riqueza, o bem estar social e o conhecimento científico. Qual é então
a importância do chamado jornalismo científico? Seria apenas para divulgar
curiosidades que ele existe? Por que em muitas situações o jornalismo
científico é visto como ilustração inútil por parte de jornalistas responsáveis
por editorias de maior prestígio como política e economia ou desperdício de
tempo, por parte de alguns pesquisadores? Efetivamente, para que serve esse
tipo de prática jornalística?
No Brasil ainda há
muito por conquistar quanto ao jornalismo de divulgação científica, muito embora
não haja qualquer tipo de dúvida quanto ao fato de as suas práticas serem
objeto do interesse de diversos campos do jornalismo e de todos os campos da
ciência. O jornalismo científico possui padrões próprios e categorias de
análise específicas, tendo obtido reconhecimento nas editorias dos jornais e
nos cursos de jornalismo em diferentes países do mundo.
Noticiar e comentar
sobre o trabalho e as descobertas da pesquisa científica, bem como os
cientistas, prosperou como gênero e deu certo. Títulos de trabalhos preocupados
com as descobertas e revelações da ciência e com a vida dos cientistas
congestionam os catálogos das editoras e as prateleiras das livrarias, da mesma
maneira que as colunas de divulgação científica ocupam espaço em jornais e
revistas. Espaço utilizado agora, com preocupações com a natureza da informação
e das fontes, de modo coerente com as regras contemporâneas.
O primeiro jornal
que circulou em Aracaju foi o Correio Sergipense, em 19 de março de 1855. Tinha
uma tiragem de 300 exemplares, circulava três vezes por semana e era impresso
na Tipografia Provincial. O segundo foi O Progresso, que circulou a partir de
sete de fevereiro de 1857, na tipografia particular de B. J. J. Guedes, a
primeira da capital sergipana, para a edição de jornais, revistas e de livros e
encadernações.
Depois dos dois primeiros
jornais, vieram Aurora Sergipana, em 1857, A Época e A Borboleta, em 1859. 27
outros jornais foram criados na década de 70 do século XIX, dentre eles O
Bouquet, uma "revista literária e recreativa", redigida por senhoras.
Na década de 80 do século XIX apareceram 43 periódicos.
Francisco José
Alves fundou o jornal O Libertador, em 1880, editando-o até 1885, abraçando a
causa abolicionista. Em 1882, ele passou a editar O Descrido, enquanto o jornal
Luz Matinal tinha entre seus redatores o bacharel e crítico Prado Sampaio. O
jornal O Republicano tinha como redator o professor Brício Cardoso.
Desde a circulação
do nosso primeiro jornal, a ciência tem frequentado as páginas da imprensa em
Sergipe, seja através do noticiário, de artigos e crônicas avulsos dando conta
das descobertas e das aplicações da ciência e da tecnologia, seja por meio de
colunas publicadas com regularidade, assinadas e redigidas em estilo mais livre
e pessoal, com notas, crônicas ou artigos.
Os divulgadores da
ciência sejam eles jornalistas ou pesquisadores se impuseram, pelo menos, duas
obrigações: criar uma consciência pública acerca do valor da ciência; fazer com
que a maioria conheça as descobertas de uma minoria especializada,
democratizando o conhecimento.
O jornalismo
científico no Brasil foi marcado, durante o século XX, por nomes como os de
José Reis, Júlio Abramczyk, José Marques de Melo, Wilson da Costa Bueno e
Glória Kreinz, entre tantos outros. Em Sergipe, desde o século XIX, muitos
cientistas e jornalistas frequentam as páginas da imprensa fazendo divulgação
científica.
É claro que desde a
circulação do nosso primeiro periódico, a imprensa sergipana tem dedicado
espaço aos fatos e feitos da ciência. Não certamente o espaço que esse tipo de
informação deveria ocupar. O espaço da ciência é infinitamente inferior ao
noticiário policial ou ao que é dedicado a colunas sociais. Bisbilhotar a vida
privada tem interessado bem mais que o conhecimento científico.
Saber dos feitos da
pesquisa histórica, dos avanços do conhecimento médico, das descobertas sobre
recursos minerais ou de processos acerca da conservação de alimentos tem
interessado menos aos editores e a sociedade que o menu da última recepção
oferecida pela mulher de um importante industrial.
O espaço dedicado a
eventos do high Society e também aos fatos policiais é bem maior que aquele
dedicado à difusão da ciência, o que leva a uma reflexão indagando: por que
aquilo que é lança o olhar sobre a vida dos homens e também sobre a tragédia
humana é o que efetivamente vende jornal?
*Jornalista, professor, doutor em
Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia
Sergipana de Educação.
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