Jorge
Carvalho do Nascimento*
Não
obstante os muitos estudos produzidos durante e após o período da Pandemia do
Covid 19, ainda há muito a estudar e aprender. Contudo, algumas certezas e
determinadas marcas do período pandêmico ficaram na vida de todos nós, não sei
se para sempre, mas, certamente, aqui estarão durante muitos anos.
Ninguém
duvida que o avanço tecnológico nos colocaria como partícipes de reuniões e
encontros virtuais. Da mesma maneira, claro está que tal processo tecnológico
foi muito acelerado pelo processo pandêmico e mesmo os mais resistentes tiveram
que se curvar diante das plataformas digitais de encontros virtuais e
aprenderam velozmente a utilizá-las.
O
mundo intensificou o seu funcionamento remoto, todos nós nos habituamos a isto
e, atualmente, as mídias postas à nossa disposição pela rede mundial de
computadores ocuparam amplos espaços que anteriormente pertenceram à mídia
impressa e a emissoras de rádio e televisão.
É
muito difícil identificar alguém que não utilize redes sociais digitais como Instagram,
Twitter ou X, Tik Tok, Facebook, YouTube, WhatsApp e outras plataformas
disponíveis para todos. É o meio mais eficaz de compartilhamento e divulgação
de todo tipo de conteúdo e informação.
Certamente,
antes da Pandemia Covid 19, a divulgação científica nunca ocupou tanto espaço,
seja para o bem ou para o mal. Quando todos se voltaram para a ciência na
esperança que esta explicasse e encontrasse as saídas mais adequadas, as redes
sociais foram o veículo no qual o debate sobre o tema se estabeleceu.
Do
mesmo modo, foi nas redes sociais que grupos extremistas dos mais diversos
matizes veicularam campanhas de contrainformação científica produzindo,
seguidamente, as chamadas Fake News contra a vacinação e outras formas
eficazes de combate o Corona Virus, difundindo soluções fantasiosas e
ineficazes.
O
debate científico continua presente nas redes sociais e a cada dia ocupa um
maior espaço. Também por esta razão é muito bem-vindo o livro EDUCAÇÃO E
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA, organizado pelos pesquisadores Verônica Alves, Cristiane
Porto e Edvaldo Couto, publicado pela Editora da Universidade Estadual de Feira
de Santana, em 2023, que entrou em circulação neste primeiro trimestre de 2024.
Com
322 páginas, o livro é prefaciado pela experiente pesquisadora uruguaia Martha Cambre,
especialista em engajamento científico, engenheira química pela Universidade do
Uruguai e pós-graduada em aplicações museológicas interativas pela Universidade
de Barcelona.
Verônica
Alves, uma das organizadoras do livro, é doutora em Educação e professora da
Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, no Estado da Bahia. Também
organizadora, Cristiane Porto é doutora em Cultura e Sociedade e professora da
Universidade Tiradentes, em Aracaju, Estado de Sergipe. Edvaldo Couto, o
terceiro organizador, é doutor em Educação e professor da Universidade Federal
da Bahia, em Salvador.
O
livro, em edição bilingue (Português e Espanhol), reúne 15 artigos e 41
pesquisadores brasileiros e estrangeiros que se debruçam sobre temas como divulgação
científica, combate à infodemia, Covid 19, soundscape, apropriação
cultural, visibilização de mulheres cientistas e popularização da ciência.
Também
merecem registro os textos que se debruçam sobre a vida on line,
desinformação, negação da ciência, partilha do conhecimento, comunicação
pública, cultura científica, religião, cidadania, ciência no ambiente escolar,
ciência no ensino médio e formação docente.
A
leitura nos leva a refletir sobre as mudanças estimuladas pela pandemia, com as
quais continuaremos a conviver mesmo após o período pandêmico. Acima de tudo
acerca de um possível uso da comunicação nas redes sociais em benefício da
difusão dos ensinamentos científicos.
Um
dos textos que mais atraiu a minha atenção é o que trata do embate entre
religião e ciência nas redes sociais. Confesso ser essencial refletir sobre o
assunto e analisar as agendas que tal debate estabelece e a maneira como isto
impacta o debate social, principalmente no que concerne a formação escolar dos
jovens.
Os
artigos nos levam a pensar muito, a conhecer múltiplas experiências e a
colaborar para que a sociedade avance em direção aos preceitos da ciência na
América Latina. É fundamental compreender que a popularização da ciência vem
avançando de modo significativo entre os latino-americanos nos últimos 20 anos.
A
leitura permite uma maior compreensão do papel que cumprem em tal direção as
pesquisas, as teses de mestrado e doutoramento, cujas colaborações são
prioritárias ao entendimento das necessidades da população e de como os novos
formatos da ciência são apropriados pela cidadania.
Multidisciplinar,
o trabalho pode ser lido como documento de mera informação ou por aqueles que
são pesquisadores e possuem interesse no debate, sejam eles do campo das
humanidades, das ciências biológicas ou de outras áreas.
*Jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado e do Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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