Jorge
Carvalho do Nascimento*
Nasci
no dia 28 de agosto. Passados 22 anos após o dia em que eu nasci, a mais
importante colunista social de toda a história da mídia em Sergipe publicou a
sua primeira coluna, GENTE JOVEM, no jornal GAZETA DE SERGIPE, a convite do
nosso amigo comum Jorge Lins e sob a orientação do jornalista Ivan Valença,
então editor daquele importante periódico impresso.
Hoje
estou aqui para homenagear a memória de Thais Bezerra. A partir do seu trabalho,
dediquei alguns anos da minha vida à pesquisa e me debrucei a estudar o
fenômeno da coluna social em Sergipe, inspirado pelo meu olhar curioso e pelas
observações que sempre fiz a respeito do trabalho da jornalista inspiradora que
ela foi.
O
estudo, inicialmente dedicado ao trabalho de Thais Bezerra se ampliou, e no
início do ano de 2023, resultou na publicação do livro MEMÓRIAS DO JORNALISMO E
DA COLUNA SOCIAL, pela Editora Criação.
Thais
Bezerra começou a trabalhar aos 17 anos de idade, em Porto Alegre, na agência
de publicidade Promox. Neste ano de 2024 ela completaria 46 anos de jornalismo.
GENTE
JOVEM, a página assinada por Thais, a partir de 28 de agosto de 1978, circulou
sempre aos domingos. “Gente jovem é a página que estreamos hoje sob a
responsabilidade de Thais Bezerra, ela própria um brotinho lindo que passa a
colaborar com a GAZETA. Na página 6” – comentou Ivan Valença na primeira
página do jornal daquele dia.
Esta
nota mudou a História da coluna social em Sergipe. Mesmo com a chegada de Thais
Bezerra, Leilinha Leite (pseudônimo de Ivan Valença) continuou a publicar
diariamente a coluna GENTE, por entender que o GENTE JOVEM se destinava a um
público específico. O sucesso de GENTE JOVEM foi tamanho que a coluna se
transformou no suplemento semanal Gazetinha.
Desde
a sua primeira publicação, ela mostrou que faria uma coluna social voltada para
as novas gerações que estavam saindo da adolescência. Este era o seu
público-alvo na estreia. Perceptível pelo tom dos textos que publicou naquela
sua primeira edição. “É tempo de muita onda... Está acontecendo em Salvador
esse fim de semana, o I Campeonato Norte-Nordeste de Surf. As feras da cidade
estão por lá. Participando Huguinho, Jorge, Beto, Ricardo, Ednei, Agostinho e
outros”.
A
própria Thais era surfista e praticante de outros esportes náuticos, gosto que
herdou do pai. Com ele, Álvaro Bezerra, ela aprendeu a frequentar o Iate Clube
de Aracaju.
No
mesmo dia da estreia da sua coluna, fez outros registros de interesse juvenil.
Inscrições para o concurso vestibular da Universidade Federal de Sergipe, poema
de amor, estímulos para que a juventude fosse ao teatro, discussão sobre dança.
Sugeriu leituras de Bertold Brecht e comentou a música de Gal Costa, Chico
Buarque, Elis Regina e Bee Gees.
A
coluna destacou o I Festival Internacional Paulista de Jazz, do qual estavam
participando nomes como Milton Nascimento, Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal.
Também
sugeriu que os jovens deveriam ler as revistas semanais VEJA e ISTO É. Comentou
as delícias de frequentar a praia de Atalaia Nova e valorizou o lançamento de
um jornal de estudantes: Rachadura, publicado por alunos do Colégio
Arquidiocesano.
Por
fim fez um comentário político, criticando a apatia juvenil diante da ditadura
militar brasileira, e exortou: “Não queiram deixar o sistema dominar a
juventude e a nossa geração colocando-a num estado vegetativo”.
A
primeira foto publicada por Thais Bezerra, bem legendada, foi de Cecé Duarte,
uma liderança jovem, estudante de Direito e entusiasta da dança moderna, num
clic do festejado fotógrafo Lineu Lins. “Célia Duarte (Cecé), onde chega
contagia a todos com o seu sorriso. Uma menina cheia de charme e simpatia. Ela
se amarra em fazer dança moderna e curte muito o nosso sol. Num close de Lineu”.
A
coluna GENTE JOVEM teve muito boa aceitação e, uma semana depois era novamente
destacada na primeira página da GAZETA DE SERGIPE. “A coluna GENTE JOVEM
está contando o que as gatas e os gatos desta Barbosópolis fizeram nesta
semana. Na página 07”.
O
sucesso de colunas como PEDRITO BARRETO, GENTE JOVEM, assinada por Thais
Bezerra, e GENTE, sob a responsabilidade de Leilinha Leite, levou, a GAZETA DE
SERGIPE a colocar em circulação, a partir da edição do dia quatro de fevereiro
de 1979, o suplemente dominical GAZETINHA.
Eram
oito páginas. A capa sempre bem ilustrada com uma das marcas que Thais
estabeleceu em seu jornalismo. A foto de uma jovem bonita, trajando biquini, de
corpo inteiro, que a jornalista entrevistava sobre os projetos de vida juvenis fazia
muito sucesso e as jovens das famílias mais influentes se engalfinhavam para
conceder entrevista a Thais e posar para as lentes de Lineu Lins e de Osmar.
A
página dois continha uma coluna sobre cinema e outra sobre televisão, ambas sem
assinatura. A coluna PEDRITO BARRETO ocupava a página três. As páginas quatro e
cinco eram ocupadas pela coluna GENTE JOVEM, de Thais Bezerra. A coluna
VITRINE, dedicada a promoção comercial, principalmente de boutiques, assinada
por Elizabeth Rose, ocupava a página seis. A página sete abria dois espaços. Em
um deles, a coluna de moda IN FASHION IPANEMA, assinada por Décio Fonseca. Na
outra metade da página eram publicados contos, um a cada semana, assinados por
autores que se revezavam. A página oito era sempre ocupada por curtos ensaios
que abordavam temas da Literatura, da História da Filosofia. Os autores também
se alternavam a cada domingo.
A
GAZETINHA perdeu Thais Bezerra no dia 12 de abril de 1981, quando ela publicou
a coluna GENTE JOVEM pela última vez. Não houve no jornal qualquer registro de
que ela estava se afastando do periódico. Muito menos na coluna de Thais foi
publicada qualquer nota de despedida assinada por ela.
O
sucesso editorial e comercial da coluna GENTE JOVEM, uma espécie de carro chefe
do caderno GAZETINHA levou o JORNAL DA CIDADE a convidar Thais Bezerra a
assinar um caderno semanal de 16 páginas tendo por título o seu próprio nome.
A
proposta editorial e financeira do JORNAL DA CIDADE lhe era bem mais vantajosa
profissionalmente que as condições de trabalho que tivera até então na GAZETA
DE SERGIPE. A estreia aconteceu no mês de julho de 1981. O caderno continua a
ser publicado até agora, todas as semanas.
Aquela
menina de 19 anos que estreara em 1978 deixou de existir no início da década de
80 do século XX. Os medos, os receios naturais da inexperiência e as apostas
ousadas que fizera haviam transformado Thais Bezerra aos 22 anos de idade numa
jornalista madura, competente, admirada, temida e respeitada. Uma profissional
qualificada, distante da menina que estreara na Gazeta de Sergipe.
A
aracajuana Thais Álvares Bezerra ganhara independência e não mais dependia dos
seus país, Álvaro Bezerra, o caixa executivo do Banco do Brasil, e Josepha
Álvares Bezerra, técnica da Justiça do Trabalho.
Prosperara
e se tornara a figura de maior proeminência dentre os oito filhos de Álvaro
(quatro do primeiro casamento e quatro do casamento com Josepha).
A
mãe de Thais era filha da chamada classe média alta. Ficou órfã do pai,
odontólogo, e foi criada pela tia Laura Amazonas, a primeira cirurgiã-dentista
de Sergipe.
O
sucesso no jornalismo levou Thais a abandonar o curso de Química depois de
haver estudado durante três anos e faltando apenas mais um ano para colar grau.
Além
de jornalista, aos 23 anos era servidora pública estadual. Como jornalista foi
beneficiada pela lei que regulamentou a profissão e no início da década de 80
do século XX ganhou o título e as prerrogativas do exercício profissional.
Foram
46 anos ininterruptos de jornalismo como colunista social de sucesso. Qualquer
informação ficava mais valorizada quando a ela se acrescentava a assinatura de
Thais Bezerra, um bom exemplo de como os próprios colunistas viram notícia
quando sua coluna troca de endereço, quando iniciam um novo empreendimento
jornalístico.
Thais Bezerra foi o nome mais importante do jornalismo sergipano como
colunista social. Qualificada, competente e empreendedora soube sempre
fidelizar leitores.
Foi
muito bom ter a companhia de Thais Bezerra durante 46 anos, desde aquele 28 de
agosto de 1978. Thais é eterna. Continuaremos aqui aplaudindo o trabalho da
mais importante jornalista do colunismo social em toda a história da mídia do
Estado de Sergipe.
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