Jorge
Carvalho do Nascimento
Como
sempre acontecia na última semana de cada mês, Orozimbo chegou no início da
manhã. Sônia o aguardava bem arrumada e muito elegante, conforme o seu gosto. O
abraço e o beijo já não eram mais ardentes e sim um cumprimento burocrático,
como acontece quando um pai visita uma filha.
Tinha
quase três semanas que Sônia vinha mantendo encontros regulares com Elífio e o
seu maior temor era o de que Orozimbo descobrisse, tomasse conhecimento dos
seus encontros furtivos. Ela conseguiu esconder bem o seu segredo. Em nenhum
momento Orozimbo se deu conta da dissimulação da amada.
Presentes
de cortes de tecidos finos e sapatos da moda, uma nova joia, caixas com
biscoitos finos, latas com doces e queijos importados. Assim, a dispensa da
casa era abastecida todo mês com iguarias especiais que o mascate ensinara
Sônia a apreciar. E, também, um novo livro.
Foi
com Orozimbo que ela desenvolveu o hábito da leitura. Fora transformada numa
leitora voraz e apreciadora da literatura brasileira e, também da literatura
universal.
-
Desta vez trouxe Mensagem pra você. É um bonito livro do poeta português
Fernando Pessoa. São 44 poemas. É uma obra da poesia modernista portuguesa
inspirada pela obra de Camões, o grande autor de Os Lusíadas. Você vai entender
bem a importância da era dos descobrimentos de Portugal – esclareceu o erudito
Orozimbo, entregando a Sônia o pacote contendo o livro.
Sônia
agradeceu àquele homem que transformara a sua vida radicalmente e que agora,
sofrendo de disfunção erétil, fora trocado secretamente na alcova pelos
encontros clandestinos com o Desembargador que, não obstante o posto que
ocupava no Poder Judiciário, estava longe de possuir erudição semelhante a que
tinha o mascate.
Durante
os cinco dias nos quais Orozimbo permaneceu em Cabedelo, Sônia estava o tempo
inteiro em sua casa. Juntos faziam as refeições, passavam as manhãs, as tardes
e as noites sentados na cadeira de balanço e dormiam na mesma cama usada por
ela para extravasar a lascívia com o magistrado. Sônia e Orozimbo eram um casal
de periquitos que lia, ouvia música, conversava sobre a vida e a saúde do
mascate.
No
sábado logo cedo, ao se despedir, ele lembrou de deixar o envelope com o mesmo
valor da remuneração de um maquinista. Isto era habitual. Sônia se despediu com
um longo abraço à porta da sua casa. Assim que ele se foi, ela voltou para o seu
quarto e descansou o restante da manhã. Nos últimos dias andava cansando com
facilidade.
-
Dia vai, dia vem, Orozimbo vai descobrir seu romance com o juiz. E aí não vai
prestar. Quem vai sair perdendo é você. Tenha juízo, veja o que você quer fazer
da sua vida que é tão boa. Não existe outro homem igual a esse que organizou a sua
vida – disse-lhe a preta Dadá enquanto ambas estavam sentadas à mesa do almoço.
A
serviçal se retirou da casa de Sônia por volta das três da tarde. Logo depois
das quatro chegou Elífio. Era a primeira vez que ele ia ver a sua amante depois
que ela propusera trocar os presentes por envelopes com valores equivalentes a
um terço da remuneração do maquinista. Ele honrou o compromisso e, como sempre,
saiu feliz, se sentido leve pela intensidade do prazer que a relação sexual com
a sertaneja lhe proporcionava.
-
Não conheço outra trepada igual a você – disse-lhe o Desembargador na hora da
despedida, pouco mais de oito da noite. Sônia entendia o tamanho do risco
daquele duplo relacionamento, mas sentia que a compensação financeira a
mantinha firme na aventura que poderia lhe causar um dano irreparável.
Na
segunda semana após a visita de Orozimbo ela resolveu se queixar a Dadá.
-
Eu não ando bem. Preciso procurar um médico. Tenho sentido muitas dores e uma
moleza que não tem fim. Pra completar, tem quatro dias que ando esperando as
regras e elas não chegam. As dores do boi sempre foram muito fortes em mim, mas
nunca atrapalhou a chegada do sangramento. Ele sempre desce no dia certo.
Além
de ser competente cozinheira e faxineira, Dadá sempre ganhava algum dinheiro
trabalhando como parteira quando alguma mulher da zona mais pobre de Cabedelo
precisava parir. Era a ela que as famílias menos abastadas procuravam. Do alto
da sua experiência, ela disparou:
-
Já tem uns dias que eu venho desconfiada do seu comportamento. Acho que você
pegou uma barriga do Dr. Elífio. Agora sua vida se enrolou pra valer. O que é
que você vai fazer? Já é mal falada por ser uma mulher que vive sozinha, leva
vida de luxo e todo mês recebe a visita de um homem que diz ser seu tio. Só que
ninguém acredita que você é parente dele – disse Dadá. E prosseguiu:
-
A rua já tá cheia de gente fofoqueira falando que o Desembargador anda
visitando muito a sua casa. Toda vez que o chofer dele vem aqui, o povo vê o
carro parado com ele chegando. E depois, vê a hora que o carro vem buscar de
volta pra casa.
A
cortesã caiu num choro convulsivo...
Muito bom conhecer o ainda silêncio de Orozimbo. Da pra perceber que diante das circunstâncias e o seu comportamento ao retornar para sua linda companhia, Sônia, conformava-se com sua companhia e, satisfeito ao que parece com o balançar da cadeira , testemunha desse novo momento, até parece que ele, Orazimbo, está conformado em ser substituído durante o jogo. O seu reserva tem atuado bem e deve ter feito um gol que só o VAR pode analisar. Orozimbo tá parecendo que já está no final do contrato. A Sônia que se cuide pois defesa fraca só quem sofre é o goleiro. Vou aguardar o final da peleja. De repente o jogo muda.Basta um ser expulso.
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