Jorge
Carvalho do Nascimento
A
Padaria Triunfo se revelou um bom negócio. Nos três primeiros meses foi
necessário injetar capital de giro, o que descapitalizou Sônia ainda mais. Ela
havia vendido todas as suas joias para entrar na sociedade e teve que retirar
parte da poupança que possuía em dinheiro guardada no banco, para fazer o
negócio girar.
A
partir do quarto mês, um certo alívio. Não precisou mais colocar dinheiro na
Padaria, mas também ainda não conseguia retirar um centavo sequer. Quando o parto
chegou, em dezembro, Sônia não estava na mesma quebradeira das outras vezes,
mas sua situação econômica não era confortável.
Pariu
Carla na Maternidade da Santa Casa de Misericórdia da Paraíba, no dia 10 de
dezembro de 1947. Sônia confirmava o dito popular, a crença de que mulher dos
quartos largos é boa parideira. O bebê praticamente saltava para fora. Fora
assim com Carmen e, agora, também com Carla.
Willison
a visitou, levando com ele Eleutério e Carmen. As crianças foram mais dóceis
com a mãe biológica e carinhosas com a irmãzinha recém nascida.
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Se você quiser, eu também posso criar essa menina. Já falei com Rafaela e minha
mulher ficou entusiasmada com a possibilidade levar Carla pra ser criada ao
lado os irmãos. Vai ser muito bom pra eles, vai fazer bem a minha família e
será bom pra você. Eu não acredito que você vai viver só da Padaria. Você tem a
alma de puta. Quando seu leite secar você vai voltar pro Night Club ou pra
outro cabaré. Tenho certeza – disse Willison.
-
Meu irmão, eu sou muito agradecida a você pelo que faz pelos meus filhos e por
mim. Mas, por enquanto, eu quero Carmen perto de mim. Não sei se vou voltar pra
vida de mulher dama. Por enquanto, eu quero que a Padaria comece a dar
resultado pra ver se minha vida melhora um pouco – respondeu Sônia.
A
vida seguiu seu curso. No segundo semestre de 1948, a Padaria dava a Sônia uma
renda que lhe permitia fazer a feira e pagar algumas contas da casa, mas não
era muito dinheiro. Sônia começou a desmamar a filha Carla. Quando o leite
secou, ela estava já subindo pelas paredes, desejando um homem na sua cama.
Tinha um ano e meio que não sentia o calor do corpo de um macho encostado nela.
-
Estou pensando em voltar ao Night Club. Não posso viver somente com o dinheiro
da Padaria. É bom, mas é pouco. Tem quase dois anos que eu não compro um
vestido novo. Os sapatos que eu tenho são de antes da gravidez de Carla. Se
aparecer uma festa, eu não tenho uma joia pra ir – contou à amiga Ermelinda.
-
Eu sei, Sônia que você é como o machado. Não pode ver um pau em pé que parte
pra derrubar. Tenha um pouco de juízo, minha amiga. Você tem uma filha pequena
que vai ainda fazer um ano daqui a um mês, tem outra de três anos e um menino
de 11 anos. Pense nisto. E se voltar a fazer programa, vê se não me pega mais
uma barriga – advertiu Ermelinda.
No
Natal, lá estava Sônia na casa de Willison, em Campina Grande. Entregou Carla
aos cuidados da cunhada e do seu irmão. Queria procurar trabalho, novamente no
Night Club. Aos 29 anos de idade, era uma mulher bonita, atraente, sedutora, gostosa
e experiente. Tinha tudo para voltar a ganhar um bom dinheiro.
Seu
retorno à raparigagem foi celebrado com alegria pelo Coronel Belmont. Ele
previa o aumento dos lucros da casa. Na metade do ano de 1949, Sônia já era a
puta mais requisitada da casa, contribuía muito com o aumento da receita do
estabelecimento e voltara a faturar muito dinheiro, o que lhe permitiu outra
vez viver luxuosamente e, inclusive, fazer novos investimentos na Padaria
Triunfo, que cresceu e multiplicou os ganhos dos três sócios, proporcionalmente
à participação de cada um.
Antes
do final daquele ano, a Padaria Triunfo já era uma das três de maior movimento
em João Pessoa. Vicente se revelara um bom gestor, cheio de ideias inovadoras.
Inaugurou um serviço que chamou a atenção dos concorrentes, ao adquirir uma caminhoneta
Studebacker 1946 para fazer a entrega dos sacos de pão em bodegas de
todos os bairros de João Pessoa que faziam a revenda do produto, servindo como
pontos de varejo.
Quando
o ano de 1950 chegou, a Padaria Triunfo liderava o negócio de pães de todos os
tipos e venda de bolos e doces na capital da Paraíba. Mesmo tendo se tornado
uma mulher muito próspera com a renda do negócio, Sônia se recusava a deixar a
vida do Night Club, onde estava amasiada com o Coronel Amazonas, corpulento militar
da reserva, tão maletroso quanto endinheirado.
Plantador
de algodão, dono de uma frota de 10 barcos de pesca e bem humorado, o Coronel
gostava de fazer trocadilho com o seu próprio nome e prazer que tinha em
frequentar casas de prostituição.
-
De fato, eu sei o que é amar zonas – dizia o Coronel, fazendo referência ao seu
hábito de frequentar prostíbulos.
Gordo,
feio, sempre suado e com a roupa muito amarrotada, o Coronel Amazonas se apaixonou
por Sônia, se tornou seu principal parceiro e a fidelizava com o pagamento de
generosas gorjetas semanais, além de cobri-la com joias, sapatos, bolsas e
tecidos para a confecção de roupas, tudo muito caro.
Sônia
se encantava com aquela vida de luxo, dispondo de muito dinheiro e se sentindo
uma mulher desejada pelo Coronel Amazonas. Todavia, o que ela gostava mesmo era
de macho bom de cama. Homem que a fazia gozar e satisfazia tudo que a sua
imaginação era capaz de criar em termos de orgias sexuais. E isto, os problemas
de saúde do sessentão e ciumento Coronel Amazonas já não mais lhe permitiam
oferecer à sua amada.
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