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O JORNALISTA


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento

 

 

O desentendimento de Sônia com Anselmo Gomes custara o seu banimento do prestigiado Clube Cabo Branco e o distanciamento do seu projeto de dama da alta sociedade paraibana. Definitivamente, não havia mais para ela qualquer oportunidade de apagar o seu histórico de prostituição e aparecer como a menina pobre do interior que venceu na capital.

Sônia percebeu que nunca tivera qualquer tipo de afeição por Anselmo e muito menos, ele por ela. Para ela ficou muito claro que o seu homem, aquele que lhe dava prazer e pelo qual ele se apaixonara sem se dar conta do fato, era o jornalista Camilo Paixão. Folgado, algumas vezes até irresponsável, não levava o mundo a sério, mas Sônia nunca conhecera antes nenhum outro homem na cama que lhe houvesse proporcionado tanto prazer.

Após os desagradáveis episódios do Clube Cabo Branco, Sônia começou a viajar com as filhas, nos finais de semana, para a cidade do Recife. Eram seis horas de trem, numa viagem muito confortável. Saía de João Pessoa as cinco da tarde e chegava em Recife por volta da meia noite.

Ficava sempre hospedada com as meninas no luxuoso Grande Hotel, no Cais de Santa Rita. Na manhã de sábado, lá estava ela passeando pelas ruas elegantes do comércio de lojas da elite pernambucana situadas na região daquele importante hotel. O carro de aluguel que as servia nos finais de semana pernambucano era um Lincoln Cosmopolitan 1948, confortabilíssimo.

Almoçavam sempre no restaurante do Grande Hotel e depois do almoço o carro de aluguel as conduzia ao concorrido salão de Madame Valery, a dispendiosa cabeleireira da moda que cuidava das madeixas das mulheres mais endinheiradas de Pernambuco. Sônia e as filhas arrumavam os cabelos ali ao menos uma vez ao mês.

Desde que fora ao Recife pela primeira vez, em companhia do Dr. Costa, Sônia se encantara com o restaurante O Leite. Gostava de levar as filhas nas noites de sábado para o jantar. O chauffeur do carro de aluguel as apanhava na recepção do Grande Hotel por volta das sete da noite e as conduzia de regresso após as 10 da noite.

Gostava de sentar-se em uma mesa próxima ao piano, a fim de contemplar a destreza das mãos do celebrado pianista Danilo Morais e se deleitar com as valsas, polcas e maxixes do seu repertório, além de muitas peças de Mozart que ele executava com perfeição. Era um espetáculo muito especial que tocava a sensibilidade de Sônia.

Observar os hábitos de Sônia era compreender a vida de uma mulher que valorizava as aparências e vivia as fantasias de uma vida requintada que nunca fora a sua. Claro que, para ela, de há muito dinheiro não era mais problema. Nada em sua vida dera tão certo quanto os negócios da Padaria Triunfo.

Mas, isto não lhe bastava, ela queria produzir uma imagem de mulher refinada, sofisticada e fazia todos os esforços para dissimular o que lhe dava mais prazer e alegria de viver: a condição de prostituta. Contudo, não conseguia abandonar a prostituição. Não era apenas pelo dinheiro. Era mais pelo prazer que sentia em se deitar com diferentes homens no mesmo dia.

Regressava para Recife no domingo à noite. Tomava o trem das 18 horas e chegava em casa por volta da meia noite. E na segunda-feira, logo após deixar as meninas na escola, lá estava ela de volta ao apartamento do Hotel Globo, onde ganhava muito dinheiro de segunda a quinta-feira e gastava um pouco na sexta, quando passava o dia com o jornalista Camilo Paixão vivendo as mais extravagantes fantasias sexuais.

Depois da briga com Anselmo Gomes, Sônia convidou Camilo a passar também as tardes de segunda-feira com ela. O seu encantamento pelo editorialista era visível. Os encontros com Camilo faziam de Sônia a mais feliz das mulheres. Além disto, ele nunca questionou os programas que Sônia fazia com outros homens para garantir a sua renda.

Além de ser o parceiro que lhe dava prazer na cama, Camilo aos poucos foi ganhando a confiança da sertaneja e se transformou no seu conselheiro, oferecendo todo tipo de orientação. Opinava nos temas que diziam respeito a educação das meninas e nos investimentos que Sônia fazia com o seu dinheiro.

Suas posições eram sempre muito ponderadas e surpreendiam positivamente a Sônia. E isto se confirmou em agosto de 1953, quando ela descobriu que pela quarta vez estava grávida e lhe comunicou que suspeitava ser seu o filho que estava esperando.

- Que boa notícia, meu amor. Você vai ter o meu apoio para criar esse filho. Eu vou ficar do seu lado. Pela primeira vez na sua vida, você vai poder registrar um filho e botar o nome do pai na certidão de nascimento da criança. Quem vai no cartório dar as declarações e fazer o registro sou eu – disse o jornalista,

Sônia caiu no choro e se debulhou em lágrimas. Nunca recebera solidariedade de nenhum homem naquele tipo de situação. Pelo contrário, todas as vezes nas quais anunciou uma gravidez foi hostilizava pelo homem com o qual convivia. Agora, com 34 anos de idade, Sônia, mães de três filho, experimentaria mais uma vez a maternidade.


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