Jorge Carvalho do
Nascimento
No
dia de ontem, sábado, 23 de novembro de 2024, Tarcísio Teixeira completou 81 anos
de nascido. Aracajuano, economista e empresário, ele é um dos filhos do
empresário Oviedo Teixeira. Após o golpe militar de 1964, Tarcísio esteve ao
lado do seu irmão José Carlos Teixeira, do seu pai, Oviedo Teixeira, e do seu irmão
Luiz Antônio Teixeira, exercendo um papel preponderante na política de Sergipe,
ao lado deles ajudando a liderar o processo de organização do partido que se
opôs à ditadura no Estado.
O
aniversário de nascimento de Tarcísio Teixeira me levou a lembrar do livro MEMÓRIAS
DA RESISTÊNCIA:O MDB E A LUTA CONTRA A DITADURA MILITAR EM SERGIPE. Dentre os que
publiquei é um dos livros que mais me agrada. O trabalho entrou em circulação
no ano de 2019 com o selo da Editora Criação, dirigida por Adilma Menezes. Com
ela publiquei a maior parte dos meus livros.
A
produção daquele estudo foi um sonho que acalentei a partir de uma longa conversa
que mantive com o empresário Tarcísio Teixeira. Ao lado do seu irmão Luiz
Antônio Teixeira, Tarcísio foi o in fluente empreiteiro da construção civil em
Sergipe, durante as três últimas décadas do século XX e na primeira década
deste século XXI.
Conversei
primeiro com Tarcísio e depois também com seu irmão Luiz Antônio, a respeito de
questões envolvendo a história dos militantes do Movimento Democrático
Brasileiro no Estado de Sergipe. Ambos foram partícipes de tal História, desde
que o irmão velho deles, José Carlos Teixeira, deputado federal em 1966,
convenceu o seu pai, Oviedo Teixeira, de que, uma vez decretado o
bipartidarismo, não seria possível filiar-se à Aliança Renovadora Nacional,
apoiando os governos ditatoriais.
Oviedo,
José Carlos, Luiz Antônio e Tarcísio foram os primeiros que discutiram a
respeito da necessidade de fundar-se, em Sergipe, o Movimento Democrático
Brasileiro e fazer oposição parlamentar aos governos ditatoriais inaugurados em
abril de 1964.
Fui
levado a demoradas conversas com eles pelo amigo engenheiro agrônomo Rosalvo
Alexandre, que morreu ainda muito jovem, em face de complicações causadas por
uma Esclerose Lateral Amiotrófica – ELA. Também, algumas outras vezes, fui
levado a alguns longos bate papos com os dois irmãos Teixeira pelo querido
amigo João Augusto Gama da Silva.
Além
de trocar ideias acerca das memórias da resistência à ditadura com Tarcísio e
Luiz Antônio Teixeira, sempre tive várias conversas com outros bons
interlocutores deste assunto. Com toda certeza, os três principais foram João
Augusto Gama da Silva, Rosalvo Alexandre Lima Filho e Jackson Barreto de Lima.
A
partir da conversa com eles acalentei a ideia de aprofundar a pesquisa que
resultou no livro. Mas, ouvi também outros amigos que conheciam bem a história
do MDB e da luta contra a ditadura em Sergipe. Dentre estes eu cito Luiz
Antônio Barreto, Antônio Samarone de Santana e José Hamilton Maciel Silva.
Todos
eles colocaram à minha disposição as informações que possuíam. Prometi aos
amigos Tarcísio e Luiz Teixeira que concluiria o trabalho em 2008, quando a
Norcon, empresa dirigida por eles celebraria 50 anos de funcionamento. E a
Norcon, indiscutivelmente, foi a principal financiadora das campanhas
eleitorais do MDB em Sergipe.
Assim,
até mesmo pelos laços familiares dos dirigentes da empresa com José Carlos e
Oviedo Teixeira, fundadores do MDB, seria uma boa homenagem a estes e aos
demais nomes daqueles que, em difícil período da história brasileira, se
dispuseram a lutar contra o arbítrio. Todavia, alguns embaraços surgidos
durante o processo de pesquisa e outros compromissos pessoais que assumi foram
impeditivos ao cumprimento do prazo que inicialmente estabeleci. Somente 11
anos depois, em 2019, consegui colocar o livro em circulação.
Tarcísio
Teixeira comungava das certezas do seu irmão José Carlos Teixeira e do seu pai,
Oviedo Teixeira, empresário de sucesso. José Carlos e Oviedo consideravam fundamental
criar o partido de oposição, com a tarefa de lutar contra a ditadura, representada
pelo seu partido político, a Aliança Renovadora Nacional – Arena, e
restabelecer a força da representação política.
Como
destaquei no livro MEMÓRIAS DA RESISTÊNCIA, durante todo o período da ditadura
militar no Brasil, as atividades do MDB em Sergipe foram viabilizadas
economicamente pelo apoio que o partido recebeu das empresas da família
Teixeira, principalmente da Norcon, dedicada a construção civil e comandada por
Tarcísio e pelo seu irmão Luiz Antônio.
Jackson
Barreto de Lima foi, ao lado de José Carlos Teixeira, uma das principais lideranças
da luta contra a ditadura militar em Sergipe. Em entrevista que me concedeu durante
a pesquisa que fiz, Jackson destacou que os 20 anos da ditadura marcaram uma “época
na qual todos os usineiros, todos os banqueiros, todos os grandes comerciantes,
as elites econômicas do Estado de Sergipe e do Brasil estavam a serviço do
regime militar. Todos queriam aproveitar. A Norcon poderia, muito bem, estar
incorporada a esse projeto. Um grupo econômico, uma família economicamente
muito forte. A Norcon, naquele processo, teve um papel muito importante,
fundamental para a sobrevivência da oposição. Se a oposição naquele momento não
encontrasse a âncora que foi a Norcon, teria sido muito mais difícil organizar
a luta contra a ditadura”. O papel da Norcon foi liderado pelos irmãos Tarcísio
e Luiz Antônio.
Muitos
militantes da luta contra a ditadura militar consideram que foi uma posição
muito corajosa aquela assumida por Tarcísio Teixeira e pelo seu irmão Luiz
Antônio. Eles foram os responsáveis pela organização e manutenção da estrutura
partidária e eleitoral do MDB, do ponto de vista econômico.
Era
a posição de um grupo econômico influente, que sinalizava à sociedade a sua
participação na oposição, contendo alguns impulsos dos líderes arenistas. Outra
vez, Jackson Barreto chama a atenção para o fato de que “o papel da Norcon, para
todos nós que militamos no MDB naquele momento, foi um papel fundamental. Sem a
ajuda, a contribuição e a participação da Norcon nós não teríamos condições de
construir todo um caminho para a oposição”.
Quando
chegavam os períodos de campanha eleitoral Tarcísio e Luiz Antonio Teixeira
praticamente se afastavam do comando dos negócios para assumir a organização
das campanhas do partido. O ex-prefeito de Aracaju João Augusto Gama da Silva,
que também foi um importante quadro dirigente do MDB, afirma que “eles paravam
a Norcon e se dedicavam a isso e quando terminavam a campanha eleitoral, muitas
vezes estavam com várias dívidas a saldar”. Essa foi a rotina das campanhas
eleitorais do MDB entre 1970 e 1982.
Idêntico
é o depoimento do ex-governador de Sergipe Jackson Barreto: “Eu acompanhei
Tarcísio em várias campanhas eleitorais do MDB. Ele mesmo correndo atrás de
trio elétrico para organizar os comícios. Ele, pessoalmente, trabalhando com
Emanuel da Norcon, o eletricista, para colocar as gambiarras de iluminação. O
trabalho dele cuidando das campanhas de vereador, cuidando das campanhas de
deputado, viajando para o interior, com Oviedo Teixeira”.
Oviedo,
José Carlos e Luiz Antônio cumpriram sua jornada na vida e já não mais se
encontram entre nós. Tarcísio é o grande repositório da história de um período
que marcou a defesa da democracia em Sergipe. É credor de todas as homenagens e
do reconhecimento dos que acreditam nos valores da democracia. Talvez os
sergipanos estejam devendo a Tarcísio Teixeira uma homenagem sólida de
reconhecimento aos grandes serviços que ele prestou à luta democrática no
Brasil.
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