Jorge
Carvalho do Nascimento
Cristiane
de Magalhães Porto é baiana de São Gonçalo dos Campos. Migrou para Feira de Santana aos quatro anos de idade e fez daquela cidade a sua pátria. Na idade adulta, já reconhecida profissionalmente, se transferiu para o Estado de
Sergipe e se transformou em importante professora e pesquisadora dos cursos de
mestrado e doutorado em Educação da Universidade Tiradentes. Doutora em Cultura
e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia, Cristiane é pesquisadora com
bolsa de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq.
Autora
de vasta bibliografia, Cristiane acaba de assinar uma nova publicação que
começou a circular este ano pela Editora Universidade Estadual da Paraíba –
Eduep com o título POÉTICA & MEMÓRIA: O PARNASIANISMO E A GUERRA DE
PALAVRAS.
Em
123 páginas nas quais advoga ser a cidade de Feira de Santana o berço do
Modernismo na literatura baiana, Cristiane se debruça sobre os poetas que
publicaram na mídia impressa daquela cidade no período de 1940 a 1945, durante
a Segunda Guerra Mundial.
A
sua visita à memória cultural da cidade onde nasceu, teve como lócus o
jornal FOLHA DO NORTE, a partir da análise de 180 poemas publicados naquele
periódico. Cristiane esclarece que o estilo do acervo poético que analisa é
predominantemente Parnasiano. Todavia, chama a atenção para o fato de que desde
o primeiro poeta publicado, Aloísio Resende, tal parnasianismo é recheado de
misticismo religioso e do protagonismo do homem mulato.
Para
esclarecer sua posição interpretativa, Cristiane Porto afirma: “Não queremos
dizer aqui que se trata de um poeta modernista, mas que se trata de um poeta de
estilo parnasiano que já começa a esboçar em seus versos traços de um
modernismo revelado”. Aprofunda o seu discurso analítico ao focalizar a poética
de Godofredo Filho e de Eurico Alves, poetas de Feira de Santana que ocupam posição
destacada no Modernismo na Bahia durante a primeira metade do século XX.
Na opinião de Cristiane Porto, Feira de Santana é
uma cidade vocacionada para a poesia, sempre conjugando encontros e
desencontros entre o velho e o novo. Ela opera claramente “uma linha imaginária
entre o passado adormecido e o passado recordado, de forma a nos ajudar a
construir uma história literária de Feira de Santana”.
Ao construir o contexto da cidade em Feira de
Santana durante o período demarcado pela sua pesquisa, Cristiane Porto diz que
mesmo sendo já a segunda cidade mais importante do Estado da Bahia, Feira guardava
hábitos próprios a pequenas comunidades, a exemplo do costume de “colocar
cadeiras na calçada para o bate -papo, os ‘causos’ de final do dia, um costume
análogo ao dos antigos que perpetuaram a tradição quando, ao redor de uma
fogueira, os mais velhos contavam as histórias de sua cidade aos mais novos”.
Ler o trabalho de Cristiane Porto é ganhar clareza
quanto aos mecanismos sob os quais “memória e esquecimento se remetem mutuamente
na busca de tornar mais relevante o resgate efetuado”. Sob esta ótica, a poesia
feirense é apresentada como um espaço de recordação que nos faz conhecer o
tempo descrito pelos autores.
Memória e esquecimento são, destarte, partes que
convergem, “pois, se há esquecimento, é porque antes houve uma memória e,
consequentemente, só se esquece daquilo que um dia teve abrigo nas zonas da
lembrança”. Coerentemente, Cristiane Porto analisou a obra de poetas que
viveram e escreveram sobre a cidade de Feira de Santana no período compreendido
entre 1940 e 1945.
O semanário A FOLHA DO NORTE era o jornal mais
importante da cidade durante o período estudado e abria generosos espaços a
poetas feirenses como Antônio Lopes, Aloísio Resende, De Oliveira Lopes,
Honorato Filho e muitos outros que, de acordo com a autora, devem ser estudados
mais acuradamente.
Historiadora cuidadosa, Cristiane Porto não esquece
de advertir para a importância das relações entre os literatos e as emergentes
lideranças do comércio em Feira de Santana. “Essa classe vai, de certo modo,
causar mudanças na vida cultural da cidade, trazendo a luz uma nova preocupação
para a elite intelectual feirense, cuja preocupação maior passa a ser a
preservação da memória da cidade”.
Ela atribui aos jovens fazendeiros que estudavam
fora da cidade a percepção da crise de identidade que começa a se estabelecer
em face do crescimento do comércio e da incontrolável imigração de pessoas. Os
jovens fazendeiros eram os filhos das tradições dos fazendeiros locais cuja
mentalidade se modificou com a oportunidade que tiveram de estudar em outras
plagas.
Foi desse extrato que saíram importantes artistas e
intelectuais analisados por Cristiane Porto. “A luta para manter viva a memória
da cidade centrada na figura do vaqueiro e sertanejo tem nos artistas da terra
a base forte para ir a frente. Todavia ela enfraquece, pois essa elite
intelectual cujo propósito era manter viva a memória da cidade, não é
suficientemente forte diante de uma imigração muito grande de comerciantes de
couro vindos de outros estados como Pernambuco e Sergipe”.
Ler o trabalho de Cristiane Porto é ter acesso a boas lições de História, Historiografia e Literatura.
Comentários
Postar um comentário