Jorge Carvalho do Nascimento*
Observar a vida de Antônio Moniz de Souza e a sua
trajetória como cientista é conhecer um homem curioso, obstinado e versátil. O
botânico sergipano era filho de Domingos de Souza e Oliveira e Victorina
Francisca Abreu Leite. Ainda jovem foi trabalhar na fazenda de gado do seu pai,
da qual se retirou, já com dezoito anos de idade, para atuar como comerciante
durante cinco anos.
Nomeado para o cargo de capitão de forasteiros,
entrou em conflito com salteadores ligados ao sargento-mor Bento José de
Oliveira, resolvendo logo depois partir para Portugal, “disposto a oferecer
seus serviços militares em defesa da metrópole, então invadida em 1807 pelas
tropas de Napoleão sob o comando de Junot, não conseguindo realizar o seu
patriótico intento, por ter naufragado na ilha de Itamaracá, em Pernambuco”, de
acordo com o que foi explicitado por Armindo Guaraná no seu Dicionário Biobibliográfico
Sergipano, publicado em 1925 (p. 29).
O naufrágio fez com que Antônio Moniz de Souza
perdesse os recursos destinados à viagem, forçando-o partir para o Rio de
Janeiro, onde morou, como leigo, no convento de Santo Antônio.
A partir do final do ano de 1824, o botânico de
Sergipe empreendeu uma nova viagem, saindo de Salvador, a pé, em direção ao Rio
de Janeiro, costeando o mar. Naquele período fez novas explorações e estudos da
flora. Em seguida, já estabelecido na capital do Império fez viagens
exploratórias no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A mulher com a qual casou
era natural de Macacú, no Rio de Janeiro. Viveu, sem filhos, na sua chácara em
Santa Rosa, município de Niterói, até morrer, no dia 17 de setembro de 1857.
Dedicado a ciência, Moniz de Souza impôs-se a
missão de catequisar os índios e os negros do país, ao mesmo tempo que,
percorrendo os sertões durante 28 anos de viagens contínuas, analisou e estudou
muitos vegetais cujas qualidades até então desconhecidas e que serviram para enriquecer
a Medicina brasileira. A sua contribuição ganha relevo quando se considera que
somente em meados do século XVIII fora efetivamente estabelecido um sistema de
classificação das espécies vegetais.
Além da sua atividade como botânico, Antônio Moniz
de Souza fez experimentos e descobertas nos campos da Mineralogia e da
Zoologia. Os exemplares que coletou durante três décadas de trabalho foram
oferecidos ao Museu Nacional e os resultados dos estudos que realizou em
Sergipe e em outras regiões do Brasil estão publicados no livro Viagem e Observações
de um Brasileiro, que, Desejando ser Útil à sua Pátria, se Dedicou a Estudar os
Usos e Costumes de seus Patrícios e os Três Reinos da Natureza em Vários Lugares
e Sertões do Brasil: Oferecidas à Nação Brasileira.
Planejado para ser publicado em dois tomos, somente
o primeiro entrou em circulação, no ano de 1834, com 218 páginas. A Tipografia
Americana, de I. P. Costa, sediada no Rio de Janeiro, não conseguiu publicar o
segundo tomo. No primeiro, além das observações sobre as ciências naturais que
preocupavam o autor, há também um relato sobre a revolução da Independência nas
Províncias da Bahia, Sergipe e Alagoas.
O tomo primeiro ganhou uma nova edição no ano 2000.
O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia reeditou o livro, que já fora
republicado pela revista do mesmo IGHB, em 1945.
O segundo tomo nunca chegou a circular em forma de
livro. Foi publicado pelo mesmo periódico, duas vezes (1924 e 1946), sob o
título “Descobertas Curiosas que nos Reinos Vegetal, Animal e Mineral, por Sítios
e Sertões Vários das Brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, Fez o Capitão
Antônio Moniz de Souza e Oliveira, Natural da Primeira, Com uma Breve Descrição
Primordial do Lugar de Nascimento e Princípios de sua Educação. Oferecidas ao
Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e
Defensor Perpétuo do Brasil”.
Na Revista do IGHB, o texto contém uma apresentação
de Frederico Edelweiss. Os originais foram oferecidos, em 1846, ao Instituto
Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil pelo coronel Ignácio Acioli de
Cerqueira e Silva. O tomo contém um catálogo de ervas, plantas, raízes, resinas
e drogas. Na apresentação que faz desse texto, Frederico Edelweiss afirmou que
o trabalho representava uma importante contribuição para o conhecimento da Medicina.
Foram 193 espécies catalogadas por Antônio Moniz de
Souza em suas viagens na Bahia, em Sergipe e em Alagoas. Mais da metade delas
era desconhecida pelos pesquisadores em 1854, quando foi publicado o “Sistema
da Matéria Médica Vegetal”, traduzido por Henrique Veloso de Oliveira, trinta
anos depois do levantamento feito pelo botânico aqui estudado. Na mesma
Apresentação aqui citada, Edelweiss sublinha que “Mesmo na terceira edição do
‘Dicionário Brasileiro de Plantas Medicinais’, de Meira Pena, ainda faltam umas
quarenta dentre as citadas pelo nosso ‘Homem da Natureza”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Excelente aula de história!
ResponderExcluirGrande Antônio Moniz de Souza! Parece que falta alguma coisa depois de “Viagem e Observações de um Brasileiro que...”
ResponderExcluir(Se me permite, esse tipo de letra cansa a vista...)