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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? VII

           Luiz Adelmo
 

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Luiz Adelmo Soares assumiu a titularidade da coluna Gazeta Social na edição do dia 29 de dezembro de 1965, com um novo estilo de colunismo e uma nota informativa da mudança. “A partir de hoje deixa de escrever a colunista R. C. de Souza (nossa querida Zelita), a quem desejamos pleno sucesso na nova carreira que abraçou (a advocacia) e agradecemos os elogios dirigidos ao cronista. Da sociedade espero contar com o mesmo carinho dirigido à minha antecessora”.

Nascido em Estância, no Estado de Sergipe, em 1942, foi mandado para um mosteiro pela família, como seminarista, aos 11 anos de idade, destinado à formação como sacerdote franciscano católico. Permaneceu por lá durante cinco anos e desistiu de ingressar no clero, voltando a Estância e logo depois indo viver em São Paulo por três anos, quando trabalhou em uma indústria e estudou artes plásticas e artes cênicas. Na idade de ingresso no serviço militar estava em Brasília, como soldado do Exército, atuando na segurança do gabinete do ministro da Guerra, marechal Odílio Denys, durante os governos de Juscelino Kubitscheck e Jânio Quadros. Concluído o período obrigatório de serviço militar retornou a Sergipe e trabalhou como bancário e jornalista.

Iniciou-se no jornalismo trabalhando no Sergipe Jornal, de propriedade do então deputado federal José Carlos Teixeira. Na condição de repórter alargou o seu círculo de relações e fez contato com as lideranças da vida política e econômica de Sergipe. Saiu de lá para ser colunista na Gazeta de Sergipe.

Com Luiz Adelmo, a Gazeta Social ganhou um perfil diferenciado, aproximando-se de algumas das características da coluna Background que Anderson Nascimento comandou entre 1963 e 1964. A diferença fundamental era de natureza ideológica. Enquanto Anderson vinha da militância política de esquerda, Luiz Adelmo, que recebera formação militar, tinha um perfil político mais à direita, apesar de filho de um conhecido militante comunista estanciano. Todavia, quanto aos costumes, Luiz Adelmo era extremamente avançado para os padrões sergipanos, por sua formação junto aos grupos de artistas quando vivera em São Paulo.

As lideranças militares passaram a ocupar espaço com citações frequentes na Gazeta Social, a começar pela primeira coluna assinada por Luiz Adelmo. “Florival Santos que expôs em Salvador em julho deste ano (com absoluto sucesso), está pintando o retrato da Sra. Cel. Tércio Veras. O quadro do Florival deverá enriquecer o adress da residência do casal”.

O fato é que Luiz Adelmo produziu um jornalismo diferente e teve condições de aprofundar o estilo que Anderson Nascimento iniciara. Não há explicação para o fato de a partir da edição do dia 18 de janeiro de 1966 a denominação da coluna haver sido modificado assumindo o título de Em Sociedade, todavia mantendo o mesmo jornalista responsável.

Uma nova mudança ocorreu no dia 24 de maio, quando a coluna assumiu o nome do colunista como sua denominação: Luiz Adelmo. A última coluna foi assinada por ele no dia dois de fevereiro de 1967 e dedicada a posse de Lourival Baptista no cargo de governador do Estado de Sergipe. “A posse do novo Governador Lourival Baptista foi de grande repercussão nacional e contou não só com o representante do Presidente da República, Brigadeiro Parreiras Hortas, como também com a presença do Governador Lomanto Junior, da Bahia; Lamenha Filho, de Alagoas e João Agripino, da Paraíba, o Comandante da 6ª Região, Gen. Augusto Tinoco, além de grande comitiva de deputados da Bahia e parentes do novo Governador”.

Nem o jornal e muito menos o jornalista deram qualquer satisfação acerca do encerramento das atividades da coluna e do afastamento daquele profissional do periódico. A presença de Luiz Adelmo na Gazeta de Sergipe outra vez fez com que se cumprisse a saga de alta rotatividade entre os jornalistas dedicados a tal gênero. Ele permaneceu na Gazeta de Sergipe apenas durante 13 meses.

Um mês depois, no dia primeiro de março, a Gazeta de Sergipe voltou a ter coluna social e explicou aos seus leitores, na primeira página. “A partir de hoje retorna a coluna social da GAZETA DE SERGIPE. É a jovem Ilma Fontes quem assina agora a coluna. Com vasto círculo de amizade, Ilma Fontes – atriz de teatro em O Belo Indiferente – está realmente capacitada para oferecer uma coluna cheia de atração a todos os nossos leitores. EM SOCIEDADE, com Ilma Fontes está na quinta Pag”.

Ilma foi convidada a atuar como colunista social pelo jornalista Carlos Alberto de Jesus, o Chatô, crítico literário que assinava uma coluna diária na Gazeta. A coluna assinada por Ilma fez muito sucesso. No final do século XX, Ilma Fontes concedeu entrevista ao jornalista Osmário Santos, publicada por ele no livro OXENTE! ESSA É A NOSSA GENTE, edição do ano 2004, em Aracaju, pela Editora Ós, na qual esclarece muitos fatos relacionados à sua condição de colunista social.

Na entrevista referenciada, Ilma revela os episódios que envolveram o seu trabalho de colunista social. “Na época, a Gazeta tinha uma tiragem de 1.500 exemplares. Três meses depois que eu entrei, dobrou para 3.000 exemplares. Acho que isso é significativo” (p. 190). Ilma, além de jornalista, era poeta, atriz de teatro e animadora cultural.   

A nova colunista também praticou um estilo no gênero que se diferenciava do lugar comum das colunas. Trilhou um pouco das sendas de Anderson Nascimento e de Luiz Adelmo, desde a primeira nota da sua coluna de estreia. “Ciranda é uma peça-estudo organizada com músicas populares infantis e poemas de Amaral Cavalcante”.

Foram nove meses durante os quais Ilma Fontes assinou a coluna Em Sociedade. Ao publicar seu último texto, no dia três de dezembro de 1967, nem a colunista nem o jornal deram qualquer explicação aos leitores sobre o fato que levou a suspensão daquela coluna. O derradeiro trabalho de Ilma para a Gazeta de Sergipe foi uma entrevista com o poeta Mário Jorge.

“Poesia no Paredão. Mário Jorge de Menezes Vieira. Dados Biográficos: Nascido no tempo e perdido no espaço. Expurgado do ventre materno exatamente às três e trinta do dia vinte e três de novembro de 46, ano primeiro depois da guerra. – Mário, você vive? – Ainda, apesar da tumba do cotidiano. – Vazio. Você acredita numa saída? – Acredito em várias, inclusive do amor à arte à morte”.

De acordo com a própria Ilma, anos depois, em trabalho do jornalista Osmário Santos acima citado, a entrevista com Mário Jorge teria sido a responsável pelo seu afastamento da Gazeta de Sergipe. “Colocou pimenta demais nas notas incendiárias, provocando homéricas brigas. A pior briga foi com Orlando Dantas, quando eu saí da Gazeta motivada por uma entrevista que eu fiz com Mário Jorge, de título Poesia no Paredão”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.


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