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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? X

                                         Thais Bezerra e Pedrito Barreto


 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Foram nove meses sem colunista social na Gazeta de Sergipe, a partir do dia três de setembro de 1975 até a estreia da coluna ARLENE CHAGAS INFORMAL, em 13 de junho de 1976. Ao estrear como colunista, Arlene era uma personalidade já reconhecida em Sergipe. Advogada, professora no curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe, liderança na Ordem dos Advogados do Brasil.

Arlene Chagas assinou uma coluna que manteve as tradições do gênero, mas também mesclou com variedades e abriu generosos espaços para divulgação do noticiário sobre o curso de Direto da UFS e também as atividades da OAB. A coluna era semanal, sempre aos domingos, e a sua pedra de toque era uma entrevista especial com algum representante do high society de Sergipe.

Já na primeira edição, a coluna ARLENE CHAGAS INFORMAL deu o tom da sua direção e do espaço que o mundo jurídico ocuparia. A manchete principal da página era “Encontro Nordestino de Faculdades de Direito”. Além disto uma entrevista com um médico, algumas notas bem comportadas sobre personalidades do high society   e um registro de casamento.

Durante os quase dois anos em que a coluna foi publicada, manteve o mesmo padrão editorial. Até ser impressa pela última vez em uma edição da Gazeta de Sergipe, no dia 16 de abril de 1978. Nenhuma explicação ao leitor sobre o encerramento das suas atividades.

Após o afastamento de Arlene Chagas, a Gazeta de Sergipe passou a publicar diariamente a coluna GENTE, assinada por Leilinha Leite, na verdade pseudônimo do jornalista Ivan Valença, à época o Editor do periódico, Era uma coluna de variedades com algumas notas sobre os nomes destacados do high Society.

Foi de Ivan a iniciativa que possibilitou a publicação no domingo, 17 de setembro de 1978, da página GENTE JOVEM, que a partir dali passaria a circular sempre aos domingos. “Gente jovem é a página que estreamos hoje sob a responsabilidade de Thais Bezerra, ela própria um brotinho lindo que passa a colaborar com a GAZETA. Na página 6”. Esta nota mudou a História da coluna social em Sergipe. Mesmo com a chegada de Thais Bezerra, Leilinha Leite (Ivan Valença) continuou a publicar diariamente a coluna GENTE, por entender que o GENTE JOVEM se destinava a um público específico.

Thais Bezerra permanece em atividade até agora. Sem dúvida é o nome mais importante e mais longevo do jornalismo sergipano como colunista social. Qualificada, competente e empreendedora soube sempre fidelizar leitores.

Havia começado a trabalhar aos 17 anos de idade, em Porto Alegre, na agência de publicidade Promox. Foi de Ivan Valença, o editor da Gazeta, que Thais recebeu, no dia 28 de agosto, o convite para assinar a coluna Gente Jovem, que estreou no dia 17 de setembro. O sucesso foi tamanho que a coluna se transformou no suplemento semanal Gazetinha.

Na sua primeira coluna, ela mostrou que faria uma coluna social voltada para as novas gerações que estavam saindo da adolescência. Este era o seu público alvo na estreia. Perceptível pelo tom dos textos que publicou naquela sua primeira edição. “É tempo de muita onda... Está acontecendo em Salvador esse fim de semana, o I Campeonato Norte-Nordeste de Surf. As feras da cidade estão por lá. Participando Huguinho, Jorge, Beto, Ricardo, Ednei, Agostinho e outros”.

A própria Thais era surfista e praticante de outros esportes náuticos, gosto que herdou do pai e era, com ele, frequentadora do Iate Clube de Aracaju. No mesmo dia, fez outros registros de interesse juvenil. Inscrições para o concurso vestibular da Universidade Federal de Sergipe, poema de amor, estímulos para que a juventude fosse ao teatro, discussão sobre dança. Sugeriu leituras de Bertolt Brecht e comentava a música de Gal Costa, Chico Buarque, Elis Regina e Bee Gees. Destacou o I Festival Internacional Paulista de Jazz, do qual estavam participando nomes como Milton Nascimento, Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal. Também sugeriu que os jovens deveriam ler as revistas semanais Veja e Isto É. Comentou as delícias de frequentar a praia de Atalaia Nova e valorizou o lançamento de um jornal de estudantes: Rachadura, publicado por alunos do Colégio Arquidiocesano.

Por fim fez um comentário político, criticando a apatia juvenil diante da ditadura militar brasileira, e exortou: “Não queiram deixar o sistema dominar a juventude e a nossa geração colocando-a num estado vegetativo”. A primeira foto publicada por Thais Bezerra, bem legendada, foi de Cecé Duarte, uma liderança jovem, estudante de Direito e entusiasta da dança moderna, num clic do festejado fotógrafo Lineu. “Célia Duarte (Cecé), onde chega contagia a todos com o seu sorriso. Uma menina cheia de charme e simpatia. Ela se amarra em fazer dança moderna e curte muito o nosso sol. Num close de Lineu”.

A coluna GENTE JOVEM teve muito boa aceitação e, uma semana depois era novamente destacada na primeira página da Gazeta de Sergipe. “A coluna GENTE JOVEM está contando o que as gatas e os gatos desta Barbosópolis fizeram nesta semana. Na página 07”.

Sob o comando de Ivan Valença, a Gazeta de Sergipe fez fortes investimentos no colunismo social, em 1978. Manteve a coluna GENTE, assinada por Leilinha Leite; lançou a coluna GENTE JOVEM, apresentando a jovem Thais Bezerra ao colunismo social; e, no dia oito de outubro daquele mesmo ano convidou o jovem jornalista e advogado Pedrito Barreto para voltar a assinar uma coluna social aos domingos.

A coluna que Pedrito passou a assinar tinha por título o seu próprio nome. O lançamento da coluna foi destacado pela Gazeta na sua primeira página. “A GAZETA DE SERGIPE enriquece o domingo do leitor trazendo de volta ao colunismo social PEDRITO BARRETO, afastado das lides jornalísticas e também do Estado há sete anos. Pedrito foi, há algum tempo, o colunista social mais preciso, aquele que transmitia a informação mais exata. Agora, a sua coluna social não será apenas de futricas. Terá um caráter mais sério. É uma coluna de variados assuntos. Contados com aquele linguajar que só Pedrito Barreto sabe transmitir. Pag. 8”.

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

 

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