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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XV

                                               João de Barros, o Barrinhos


 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O jornalista João de Barros inaugurou o colunismo social televisivo em Sergipe, com um programa semanal na TV Atalaia, a partir de 1975. Também na TV, colunistas sociais como Clara Angélica e Pedrito Barreto mantiveram programas no mesmo período. A partir da década de 90 do século XX o número de colunistas sociais com programas na TV cresceu, com as presenças naquele veículo de Márcio Lyncoln e Sacuntala Guimarães.

Radialista e jornalista, João de Menezes Barros Filho, o Barrinhos, morreu infartado aos 51 anos de idade, em três de janeiro de 2001. Até morrer fez colunismo social na TV Atalaia, durante 25 anos ininterrupto e era colunista social do Jornal da Cidade. Ligado às artes desde o início da sua carreira, foi um dos fundadores da Associação Cultural e Artística de Sergipe – Ascase.

João de Barros criou, incentivou e foi participante ativo do Concurso de Poesia Falada do Norte e Nordeste. Carnavalesco, fundou o Bloco dos Artistas que se transformou mais tarde em Baile dos Artistas, um evento pré-carnavalesco que durante 15 anos reuniu artistas, jornalistas e radialistas.

Anualmente, Barrinhos era uma das mais importantes dentre as atrações do desfile da escola de samba Império do Morro, liderada pelo babalorixá Gilberto da Silva, o Lê, do bairro Cirurgia.

Religioso, ligado a algumas obras sociais, João de Barros fundou a Ação Solidaria Santo Antônio, instituição que instalou no bairro Barreiros, em São Cristóvão, nas proximidades do campus da Universidade Federal de Sergipe, onde abrigava moradores de rua e onde viveu até a sua morte.

Iniciou sua atividade como colunista social no jornal Diário de Aracaju, no início da década de 70 do século XX e atuou naquele periódico até o encerramento das suas atividades, em 1974. Fundado em 1967, o Diário de Aracaju integrava o poderoso conglomerado de 34 jornais da rede de Diários Associados, mas, um ano depois da sua fundação aconteceu a morte de Assis Chateubriand e os Diários Associados começaram a viver uma espiral de crises que somente se encerrou na metade da década de 70  quando foi definitivamente selado o destino da massa falida.

Com o encerramento das atividades do Diário de Aracaju, Barrinhos permaneceu alguns meses afastado do jornalismo. Estreou como colunista social do Jornal da Cidade na edição do dia 15 de agosto de1975, responsável pela coluna JOÃO DE BARROS.

Na primeira vez que a coluna circulou, continha uma nota explicativa, esclarecendo o seu sentido. “Amigos leitores do Jornal da Cidade, depois de um curto período sem curtir jornal, eis que de repente a gente surge integrando a equipe deste matutino, que pela sua linha, tomada de posição e apresentação inigualável, merece um trabalho sério destinado a esta gente maravilhosa que integra a nossa sociedade.

Não pretendemos de forma alguma assumir ares de melhor, mas simplesmente procurar da melhor maneira possível estar por dentro dos acontecimentos que envolvem os nomes in do nosso hi-so, dentro de um padrão positivo, que retrate o desenvolvimento do nosso meio e as qualidades dos nossos destaques.

E assim sendo, vamos ao trabalho, na esperança de continuar merecendo a confiança e o apoio desta gente que nos acompanha desde algum tempo, colaborando e dando força nesta arrancada cheia de muito amor e muito boa-vontade”. Era uma coluna movimentada, atualizada, discutindo não apenas os nomes das pessoas influentes, mas também debatendo moda, arte, entre outros temas.

A coluna de João de Barros no Jornal da Cidade convivia com uma outra coluna social. Enquanto Barrinhos publicava diariamente, a jornalista Arlene Chagas assinava aos domingos a coluna STATUS. O espaço de Arlene Chagas era um misto de notícias sobre gente influente e outros eventos da vida dos sergipanos. Uma espécie de revista de variedades.

O sucesso da coluna de João de Barros levou o Jornal da Cidade a ampliar sua aposta no gênero, a partir de 1979. O Jornal da Cidade percebeu que o gênero ajudava a vender e aumentar a tiragem do periódico. Assim, logo no início daquele 1979, a edição dominical do dia sete de janeiro apresentou aos leitores do periódico o suplemento JC REVISTA. Uma revista de variedades com oito páginas, encartada no jornal todos os finais de semana.

A direção do JC REVISTA foi entregue ao criativo jornalista Amaral Cavalcante, animador cultural irrequieto. Para publicar um suplemento movimentado, o Jornal da Cidade montou uma equipe para a qual, além de João de Barros, foram convidados Pedrito Barreto (que passou a assinar uma outra coluna social), Alcosa (designer gráfico e ilustrador), o próprio Amaral Cavalcante (responsável também por mais uma coluna social – PIQUE GERAL), Gratia Montal (Literatura), Carlos Britto (Direito e Poesia),

Na edição do dia 10 de janeiro de 1979, a coluna PEDRITO BARRETO comentou o sucesso da primeira edição do suplemento JC REVISTA. “Teve muito boa receptividade o suplemento dominical do Jornal da Cidade. (...) O JC REVISTA agradou e deverá ser ampliado”. Certamente a criatividade dos jornalistas envolvidos no projeto cativou muitos leitores. Era um jornal de domingo bem diferente daquilo que a mídia impressa do Estado de Sergipe normalmente publicava.

O sucesso fez com que o JC REVISTA incorporasse mais outros nomes originais, quase todos bem jovens. Siomara Madureira foi responsável por uma página dedicada a crianças e o jornalista Luiz Adelmo aceitou o convite e voltou a ter uma coluna social, mantendo o seu estilo irônico, ao agrado de uma parcela elevada de leitores.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

Comentários

  1. Parabéns, Prof. Jorge Carvalho, por registrar a história do colunismo social em Sergipe.

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