Pular para o conteúdo principal

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XVII

                                                      Amaury Junior


 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Karla Monteiro e Mário Finotti entrevistaram Amaury Junior, em 2004, para o Observatório da Imprensa. Abordaram a visão que possuem muitos jornalistas quando falam a respeito de uma certa cumplicidade que defendem ser legítima entre o repórter ou o colunista e as suas fontes.

Em nome de tal relação, o colunista social Amaury Junior afirmava que o titular de uma coluna sobrevivia à medida que não fechava as portas das suas fontes. “Se você for falar a verdade de todo mundo, se eu abrir a minha boca de verdade, eu posso arrumar minha mala e pegar um avião”, dizia Amaury Junior.

A questão da fonte é da maior importância para todos os jornalistas e não apenas para o colunista social. Quase todos são unânimes quanto ao entendimento que normalmente uma boa fonte pauta o jornalista ao invés de ser pautada por ele. É deste modo que a fonte preserva a sua imagem e a da organização em nome da qual fala.

No Boletim de número 14 do Portal Gutenberg, em 1997, Carlos Castilho estabeleceu o ponto de vista segundo o qual os colunistas se transformaram em personagens estratégicos. Possuíam credibilidade e consumiam informação, a matéria-prima que publicavam. “Todo bom lobista tem sua lista de contatos nas colunas assinadas para passar informações, e todo mundo sabe que estas informações tem objetivos nem sempre claros”.

Os colunistas mais importantes foram também homens e mulheres de marketing. A valorização da assinatura do colunista fazia com que o seu proprietário fosse não um empregado da empresa, mas um bem sucedido dono de um negócio chamado coluna. Outros utilizavam esse prestígio para se estabelecer empresarialmente ou se transformavam em assessores e consultores de empresas e de grupos que exerciam o poder político. O jornalista que assinava a coluna retirava do veículo de comunicação o caráter de impessoalidade que lhe era próprio.

Uma canção popularizada pelo cantor Jorge Veiga definia bem o estilo de vida valorizado pelo colunismo social: “Doutor em anedotas e em champanhota/ estou acontecendo no café-soçaite/ só digo ‘enchanté’, ‘muito merci’ e ‘all-right’/ troquei a luz do dia pela luz da Light./ Agora estou somente contra a Dama de Preto/ nos dez mais elegantes eu estou também/ adoro Riverside, só pesco em Cabo Frio/ decididamente, eu sou gente bem./ Enquanto a plebe rude da cidade dorme/ eu ando com Jacinto que é também de Thormes/ Teresa e Dolores falam bem de mim/ eu sou até citado na coluna do Ibrahim/ e quando alguém pergunta como é que pode/ papai de black-tie, jantando com Didu/ eu peço um outro uísque/ embora esteja pronto/ como é que pode? Depois eu conto”.

Na década de 50 do século XX, em Sergipe, colunistas sociais como Carlos Henrique de Carvalho, o Bonequinha, valorizavam a presença nas festas da Associação Atlética de Sergipe de personagens da elite local e de outros colunistas sociais como Maria Luiza Cruz, Pierre, Teresa Newman e Joana Santana.

Naquele período a Associação Atlética era considerada o espaço mais elegante de Aracaju, frequentado pelos ricos e famosos. No livro ARACAJU: PRA ONDE VOCÊ VAI? Que publicou em 2004, Rubens Sabino Ribeiro Chaves reproduziu uma nota publicada na coluna de Bonequinha.

“A Associação Atlética de Sergipe, na laboriosa administração do Dr. Lucilo da Costa Pinto, viveu sábado à noite mais um grande acontecimento social, que bem demonstra a eficiência e o destemor do grande presidente atleticano sempre pondo, acima de tudo, o interesse de seus associados. Desde as 21:30, a elegância convergia em massa para o clube grã-fino da Rua Vila Cristina, onde às 22 horas teria início a Noite de Francisco Carlos que apresentou o El Broto à nossa cidade. Anotamos poucos estampados, predominando os modelos lisos em tecidos de última moda e em cores claras, mormente branco, azul elétrico, verde água, bege e areia” (CHAVES, p. 227).

A Associação Atlética de Sergipe começou a perder a posição de espaço preferido para as festas da elite de Sergipe a partir da década de 60 do século passado, após a inauguração do Iate Clube de Aracaju, recém inaugurado, mais moderno, em local mais aprazível às margens do rio Sergipe, visto como mais elegante.

Nas décadas de 80 e 90 os clubes sociais seriam definitivamente substituídos pelos salões de festas, casas especializadas na locação de espaços e organização de eventos. Como colunista social, na década de 50, Bonequinha já possuía, portanto, a exata consciência da importância que tinha a divulgação das festas.

No texto que publicou no Observatório da Imprensa em 1998, Marcelo Camacho reafirmou o mesmo entendimento. “Para que uma festa badalada seja completa mesmo, falta uma coisa fundamental: a repercussão do evento nas colunas sociais. Uma foto num jornal ou revista dois ou três dias depois é o máximo. Uma notinha elogiosa, melhor ainda”.

Festas como o grande baile do centenário de Aracaju, organizado em 1955 pelo governador Leandro Maciel, ocuparam as páginas da crônica social. Naquela ocasião, o governador abriu os salões do Palácio Olympio Campos para a elite sergipana.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A MORTE E A MORTE DO MONSENHOR CARVALHO

  Jorge Carvalho do Nascimento     Os humanos costumam fugir da única certeza que a vida nos possibilita: a morte. É ela que efetivamente realiza a lógica da vida. Vivemos para morrer. O problema que se põe para todos nós diz respeito a como morrer. A minha vida, a das pessoas que eu amo, a daqueles que não gostam de mim e dos que eu não aprecio vai acabar. Morreremos. Podemos mitologizar a morte, encontrar uma vida eterna no Hades. Pouco importa se a vida espiritual nos reserva o paraíso ou o inferno. Passaremos pela putrefação da carne ou pelo processo de cremação. O resultado será o mesmo - retornar ao pó. O maior de todos os problemas é o do desembarque. Transformamo-nos em pessoas que interagem menos e gradualmente perdemos a sensibilidade dos afetos. A decadência é dolorosa para os amigos que ficam, do mesmo modo que para os velhos quando são deixados sozinhos. Isolar precocemente os velhos e enfermos é fato recorrente, próprio da fragilidade e das mazelas da socied...

O LEGADO EDUCACIONAL DE DOM LUCIANO JOSÉ CABRAL DUARTE

  Jorge Carvalho do Nascimento     A memória está depositada nas lembranças dos velhos, em registros escritos nas bibliotecas, em computadores, em residências de particulares, em empresas, no espaço urbano, no campo. Sergipe perdeu, no dia 29 de maio de 2018, um dos seus filhos de maior importância, um homem que nos legou valiosos registros de memória que dão sentido à História deste Estado durante a segunda metade do século XX. O Arcebispo Emérito de Aracaju, Dom Luciano José Cabral Duarte, cujo centenário de nascimento celebramos em 2025, foi uma das figuras que mais contribuiu com as práticas educacionais em Sergipe, sob todos os aspectos. Como todos os homens de brilho e com capacidade de liderar, despertou também muitas polêmicas em torno do seu nome. Ao longo de toda a sua vida de sacerdote e intelectual da Educação, Dom Luciano Duarte teve ao seu lado, como guardiã do seu trabalho e, também da sua memória, a expressiva figura da sua irmã, Carmen Dolores Cabral Duar...

A REVOLTA DE 13 DE JULHO, OS SEUS REFLEXOS SOCIAIS E OS MÚLTIPLOS OLHARES DA HISTÓRIA

      José Anderson Nascimento* Jorge Carvalho do Nascimento**                                                                                              Qualquer processo efetivamente vivido comporta distintas leituras pelos que se dispõem a analisar as evidências que se apresentam para explicá-lo. Quando tais processos são prescrutados pelos historiadores, a deusa Clio acolhe distintas versões, desde que construídas a partir de evidências que busquem demonstrar as conclusões às quais chega o observador. Historiadores como...