Jorge
Carvalho do Nascimento*
Do
ponto de vista das empresas jornalísticas, se as colunas assinadas ajudavam a
vender jornais e anúncios, elas também faziam com que o jornal ou outro veículo
qualquer que fosse perdesse o controle daquilo que publicava, uma vez que os
colunistas organizavam as suas próprias equipes de reportagem, terceirizando nas
redações o trabalho que era feito pelos repórteres.
Para
o colunista, o jornalismo de assinatura tinha os seus problemas, como qualquer
outra atividade que envolvia um alto grau de confiança pessoal, como médicos ou
advogados. Credibilidade e ética eram dois elementos chave, capazes de
determinar o êxito ou o fracasso de uma marca jornalística.
Mas,
eram elementos que muitas vezes também acabavam atropelados na guerra pela
sobrevivência dentro de um mercado ferozmente competitivo. O trânsito no high
society muitas vezes acontecia sem que os indivíduos fossem,
necessariamente, detentores de poder econômico.
Ser
rico era importante, porém muitas pessoas circulavam pelas festas dos grupos de
elite pelo fato de serem detentoras de um bom capital simbólico, capital de
relações sociais ou de outros elementos garantidores das possibilidades de ascensão
social.
Os
próprios colunistas sociais sempre acumularam capital simbólico à medida que
ampliavam os seus espaços nos jornais onde publicavam, numa luta concorrencial
extremamente forte. Embates que se intensificavam à medida que a assinatura aposta
na coluna pelo seu responsável se transformava em mais importante e valorizada.
O
capital simbólico que cada colunista detinha era essencial para ter acesso a
informações, para descobrir segredos dos que eram notícia nas colunas na luta
feroz entre esses jornalistas para que um conquistasse o público e as fontes de
informação que anteriormente eram fieis ao seu concorrente.
A
jornalista Madalena Sá dá pistas importantes dessa luta ao falar sobre a
atividade dos colunistas sociais em Sergipe no início do século XXI, quando colaborou com o jornalista Márcio Lyncoln, na coluna social do jornal Cinform. Ela
demonstrou como funcionava o trabalho dos colunistas sociais.
Os
jornalistas tanto trabalhavam em regime de colaboração uns com os outros, como
competiam avidamente. As entrelinhas do seu discurso, ao analisar o período no
qual ajudou o jornalista Márcio Lyncoln, no jornal
Cinform, são muito legíveis. “Meu trabalho era o de preparar o
caderno social para Márcio Lyncoln. Na verdade, o grande sonho de Márcio sempre
fora o de brilhar na reportagem de televisão, nos moldes de Glória Maria, uma
jornalista que todos admiravam. Márcio sempre sonhou em trabalhar na Rede Globo
de Televisão.
Trabalhou
na TV Sergipe, foi demitido e estava desempregado no momento em que morreu a
colunista do Cinform, Cristina Souza. Ele foi convidado a substituir Cristina e
assumir o caderno de sociedade do semanário. Ele me procurou para dizer que não
sabia se aceitava. Não conhecia quase nenhum dos nomes que eram citados pelos
colunistas sociais. Contou que o luxo não era o mundo que o entusiasmava.
Ele
assumiu, eu colaborei com ele, era a sua principal informante e o
ajudava a escrever o caderno. Muitos dos jargões que ele criou, eu também usei quando
contribuía com ele. Além da minha profissão de jornalista, eu era proprietária
de um restaurante frequentado pelos nomes mais influentes da alta sociedade do
Estado de Sergipe.
Eu
conhecia todo mundo que a coluna precisava citar, tinha todas as informações.
Márcio não conhecia quase ninguém. O mundo dele era o mundo da arte. Ele atuava
muito bem nessa área, entrevistava o mundo artístico. Foi neste campo que ele
se especializou. Ele atuava muito bem com a área de artes na TV Sergipe. Sempre
fazia boas entrevistas no noticiário do sábado. Ele marcou a época dele na TV.
Ele gostava muito desse tipo de trabalho.
Márcio
nunca tinha sonhado em fazer coluna social. Não era a praia dele. Eu disse a
ele: assuma, você não pode ficar desempregado, eu vou ajudar você, eu vou atrás
dos contatos para você. Contribui com ele e foi a minha primeira participação no colunismo”.
Depois
disto, Madalena Sá assinou a principal coluna do gênero no extinto Jornal da
Manhã. A coluna tinha o seu próprio nome, MADALENA SÁ, publicada pelo caderno dominical
do periódico. Segundo Madalena, ela foi procurada pelo diretor do jornal, João
Neto, para implantar o caderno. “Eu implantei o caderno do domingo”.
Madalena
afirma haver criado com João Neto toda a estrutura para que o Jornal da Manhã
passasse a publicar o caderno do domingo. “João Neto convidou a mim e também a jornalista
Maria Franco. O caderno tinha o meu nome. Ele convidou para que eu publicasse
aos domingos e Maria foi convidada para publicar aos sábados.
Eu
sempre produzi um caderno de boa qualidade. Jornalismo para mim é furo. Eu
passava a semana catando novidades, apurando, cruzando informações, querendo
saber. Eu sempre me entusiasmei. Atualmente, para você dar um furo em colunismo
social está quase impossível.
Hoje
em dia, todo mundo é midiático. As pessoas postam todas as notícias em suas
redes sociais durante toda a semana. O grande barato da coluna social, quando
eu comecei, era dar notícias de pessoas que não eram midiáticas, que não gostavam
de aparecer na mídia. Essas eram as notícias mais importantes.
O
fato é que o meu caderno começou a fazer muito sucesso, começou a ter muitos
patrocinadores e isso começou a causar muito ciúme e um processo de luta para
tomar o meu espaço no domingo. Eu terminei perdendo o meu lugar no domingo.
Logo, a jornalista Maria Franco lançou o caderno VIDA, aos domingos, e eu saí
do Jornal da Manhã”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
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