Jorge
Carvalho do Nascimento*
O
Padre José Lima Santana é um intelectual plúrimo. Se ordenou sacerdote na
maturidade, depois de haver cumprido uma bem sucedida carreira como professor,
advogado, gestor público e escritor. Membro da Academia Sergipana de Letras,
foi secretário de Estado em Sergipe e secretário municipal em Aracaju, em
diferentes pastas e distintos períodos.
Demonstrou
sua capacidade como gestor dirigindo escolas e também atuando na gestão central
da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, onde se iniciou
profissionalmente como professor. Trabalhou no Ginásio de Nossa Senhora das
Dores, a sua cidade natal. Dentre outras responsabilidades de gestor, foi
secretário de Estado da Saúde de Sergipe, presidiu a Companhia de Saneamento do
Estado – Deso, foi Superintendente dos Transportes do município de Aracaju,
além de presidir a Empresa Municipal de Obras e Urbanismo – Emurb e também a
Empresa Municipal de Serviços Urbanos – Emsurb.
Agora,
como sacerdote, além de assessorar o Arcebispo Metropolitano de Aracaju, é o
pároco do Santuário Santa Dulce dos Pobres e vice-diretor do Colégio
Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus. Não vou contar que ele é membro do Conselho
do Clube de Regatas Flamengo porque sou vascaíno e lamento o que ao meu olhar
parece um equívoco do padre amigo.
Membro
da Academia Sergipana de Educação, agora, depois de tudo que já fez, José Lima
Santana, que é mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará (esqueci de
contar que ele é professor do Departamento de Direito da Universidade Federal
de Sergipe), resolveu fazer doutorado em Educação pela UFS.
José
Lima elegeu como objeto de estudo A Escola Primária Pública no Município de
Nossa Senhora das Dores (1859-1959), tendo assumido a sua orientação a
Professora Doutora Josefa Eliana Souza. O objeto de estudo é relevante e Lima é
um aplicado pesquisador que tem verticalizado as suas investigações sobre o
tema, buscando nos arquivos a fonte documental necessária a haurir os sentidos
do estudo que se dispôs a realizar.
Como
todo pesquisador, José Lima, ao enfrentar a massa documental vai separando
aquilo que é útil ao seu objeto dos documentos que não atendem a sua demanda.
Naturalmente, um estudioso experiente e arguto como ele, jamais deixaria a
parte documental não utilizada abandonada à crítica roedora das traças, como
afirmou certa feita Karl Marx, quando pesquisava para produzir o clássico que o
consagrou – O Capital.
Parte
do subproduto da pesquisa de José Lima Santana foi publicada em 2019, em
Uberaba, no livro Temas de Educação Sergipana, com a chancela do selo Editora e
Gráfica Cenecista Dr. José Ferreira. Eu não conhecia até hoje este livro de
José Lima. Nesta quinta-feira, 29 de outubro, o trabalho chegou às minhas mãos
num gesto de cortesia do autor que mandou entrega-lo em minha residência.
Com
outras ocupações planejadas para o dia, dei apenas uma breve folheada para coloca-lo
na fila e fazer a leitura a posteriori. Todavia, não consegui cumprir este
intento. Fiquei preso ao texto, que me chamou a atenção ao fazer recortes
específicos acerca das mensagens governamentais das primeiras décadas do século
XX, no tratamento dado por estas ao tema da escola primária pública.
Também
me impressionou o modo como o autor apresenta a polêmica em torno da nomeação
da professora Maria da Glória Santos para a escola pública do município de
Nossa Senhora das Dores, que na década de 1920 colocou como contendores dois
líderes políticos que governaram Sergipe: Maurício Graccho Cardoso e Manoel
Dantas.
Do
mesmo modo, valeu a pena a leitura das reflexões que faz José Lima acerca do
uso da literatura de cordel como fonte para estudar a escola primária pública.
O autor toma como ponto de partida o bairro onde foi criado no município de
Nossa Senhora das Dores para produzir a sua reflexão.
O
trabalho merece ser lido por todos que se dedicam a pesquisa no campo da
História da Educação. Valeu a pena ter trocado a agenda do dia pela leitura de
José Lima Santana. Ao livro, só ponho um reparo. Considerei descuidado do ponto
de vista editorial, o trabalho de design e apresentação gráfica feito pela
Editora e Gráfica Cenecista Dr. José Ferreira, de Uberaba. O autor merece
melhor zelo estético.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente
da Academia Sergipana de Educação.
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