Colt Calibre 22
Jorge
Carvalho do Nascimento*
O revólver que
matou o professor Archimedes Pereira Guimarães e a sua filha Mafalda estava
enterrado nas proximidades de uma goiabeira, no quintal da sua casa. Tinha
quatro cápsulas deflagradas e três intactas. Ao lado da arma havia uma caixa de
papelão contendo 11 balas nunca utilizadas e 10 cápsulas deflagradas.
Além de tudo
isso, na caixa estava guardado o registro da arma, de número 69.899, efetuado
no dia primeiro de junho de 1971, em nome de Heloisa Selme Dei Guimarães, a
filha que morava com ele. Do mesmo modo, as notas fiscais referentes a
aquisição de 50 balas, no mesmo dia em que a arma foi comprada. Na ocasião do
crime, a polícia não havia encontrado qualquer registro de arma em nome de
Heloisa.
Durante o
período em que ela esteve viajando pela Europa, no início daquele ano de 1984,
Archimedes descobrira um revólver calibre 22, entre os seus pertences pessoais.
Resolveu esconder a arma, mas não resistiu aos apelos de Heloisa, quando esta
voltou a Belo Horizonte, e lhe restituiu o revólver.
No dia do crime,
ao chegar ao casarão, a polícia encontrou uma Heloísa completamente
descontrolada. Contudo, já no dia seguinte, Heloisa demonstrava muita
serenidade, perguntando pelo pai e pela irmã e, algumas vezes, dando
demonstrações de estar muito bem informada a respeito do crime.
No dia do
sepultamento, ela pediu autorização ao seu psiquiatra para comparecer ao
Cemitério do Bonfim e assistir à cerimônia fúnebre. O médico não concordou.
Archimedes sempre protegeu Heloísa e se manifestou contrário a todas as
tentativas das suas filhas para internar a irmã: “Somente após a minha morte
Heloisa irá para uma clínica”. Alguns parentes de convívio mais íntimo,
contudo, afirmavam que na intimidade ela hostilizava Archimedes.
Certa feita
Heloisa ameaçou matar Mafalda, sentenciando: “Você é mais feliz do que eu”.
Três semanas antes da morte do pai e da irmã, Heloisa chamou a polícia à sua
casa e afirmou a um detetive que “o mundo só teria conserto depois que o seu
pai morresse”. Atormentada, muitas vezes confessou que Jack, o Estripador, a
perseguia e que alguns maus espíritos faziam uso dela.
O professor
havia fixado residência em Belo Horizonte após a sua aposentadoria na Universidade
Federal da Bahia. A sua família já residia na capital do Estado de Minas
Gerais. O professor gostava de viver na cidade onde estavam as raízes
familiares da sua mulher. Todavia, frequentemente voltava à Bahia. Como
intelectual e pesquisador se sentia bem no Instituto Geográfico e Histórico, na
Biblioteca Central e na Escola Politécnica. Mas, também buscava o contato com
os muitos amigos que viviam em Salvador.
Seus primeiros
contatos com o Estado de Minas Gerais aconteceram em 1945, quando foi convidado
a integrar o grupo que implantou a Companhia de Cimento Portland Itaú,
Em Minas Gerais,
foi presidente do Instituto Mineiro de Cultura Hispânica, sócio do Instituto
Histórico e Geográfico do Estado de Minas Gerais, sócio correspondente dos
institutos históricos de Sergipe e de São Paulo, primeiro vice-presidente da
Sociedade Pestalozzi, membro e presidente do Conselho Regional de Química da 2ª
Região, presidente da Associação Brasileira de Química (1968-1970), do Rotary
Clube de Belo Horizonte-Leste e governador distrital do Rotary International
por duas vezes.
Na capital do
Estado de Minas Gerais foi convidado por Helena Antipoff para dirigir o
Instituto Superior de Educação Rural, na Fazenda do Rosário, por sugestão de
Anísio Teixeira, seu amigo e compadre.
*Jornalista, professor, doutor em
Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia
Sergipana de Educação.
Desvendado o mistério!!! Valeu Professor Jorge Carvalho do Nascimento!
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