Jorge
Carvalho do Nascimento*
Na
década de 60 e até a metade da década de 70 do século XX, o Hotel Palace de
Aracaju era considerado por parte da elite sergipana como um dos melhores
espaços para festas, eventos e reuniões sociais. No terceiro andar ficava a
área da piscina e funcionava o restaurante do hotel, considerado um espaço
luxuoso e ponto de encontro dos homens de negócios e políticos mais
importantes.
Todavia,
o jornalista Paulo Nou não considerava aquele um espaço glamouroso. “Eu tive
uma prima que fez os 15 anos dela ali e não foi uma festa que se considere
glamourosa. Teve um casal de empresários búlgaros que vieram de Fortaleza e
tentaram transformar o espaço em um ambiente de glamour, mas não deu certo. Aracaju
nunca teve um restaurante glamouroso. Aracaju e glamour não combinam”.
Em
um conjunto de salas daquele piso o empresário de shows Alfredinho instalou a
Boate Top 7. De acordo com o colunista social Paulo Nou, o espaço era muito
acanhado. “Cabiam 20 pessoas dentro. Ele botava as mesas do lado de fora.
Talvez porque as pessoas que frequentavam vinham de famílias mais conceituadas.
As famílias confiavam nos filhos que estavam indo lá”.
Estes
eram os grupos sobre os quais os colunistas sociais produziam notas e
comentários para os seus espaços nos jornais e nas emissoras de rádio. De
acordo com Paulo Nou, enquanto funcionou no espaço do Hotel Palace, “a Boate do
Alfredinho nunca teve estranhos. Era uma coisa assim que se chegasse um pessoas
de um dos inferninhos do Rio de Janeiro iria pensar que naquela Boate só
estavam faltando os anjos”.
Tudo
ficou muito diferente depois que Alfredinho fechou as portas da Top 7 e transferiu
as suas atividades para um espaço no Cotinguiba Esporte Clube, onde criou a
Boate Oxente. A nova casa se transformou em um lugar muito bem frequentado,
onde as pessoas iam para viver e se divertir. Segundo o mesmo Paulo Nou, “Alfredinho
nunca foi de fazer diferença entre as pessoas”.
De
acordo com o depoimento do jornalista Paulo Nou, é claro que alguns clientes
vips recebiam um tratamento especial. “Eu tinha o meu lugar lá, Wilson do
Gavetão tinha o lugar dele. A Boate enchia. Eu não sei como cabia tanta gente
ali dentro”.
Era
a sociedade que frequentava os clubes, as boates do século XX que justificava o
sucesso da coluna social. O entendimento do jornalista Paulo Nou é cáustico.
Para ele, a coluna social tal como ele assinou correspondeu a um tempo que não
mais existe. “A coluna social hoje é uma coisa mercantil. Os colunistas sociais
de hoje assinam uma coluna que rende e eu acho isto certíssimo. A coluna social
é um negócio”.
O
entendimento do colunista Paulo Nou é o de que é importante a existência deste
tipo de negócio. A coluna social “abre a porta para todo mundo. Você subiu na
vida, você tem dinheiro, você não pode ficar onde você estava antes. Você deve
passar pra frente. Antigamente, você era dono de um armazém que começou a
vender muito, você fez sucesso e ficou rico. Todavia, você não podia entrar no
Iate Clube de Aracaju. Era um absurdo”.
O
jornalista afirma preferir uma forma de organização da sociedade como a
contemporânea. “Hoje você entra em qualquer clube. Você paga a um colunista
social para lhe promover, para promover seu negócio, seu armazém, sua fábrica
de tecidos e se transforma num homem conhecido e importante. Assim você vai
abrindo suas portas”.
Diz
que este tipo de colunismo é mais democrático do que aquele com o qual conviveu
no século XX. “Eu acho que é muito importante que a coluna social seja como é
hoje. No meu tempo, se reclamava porque o colunista colocou uma foto de uma
pessoa em um dia e no dia seguinte colocou uma outra foto da mesma pessoa”.
Exemplifica
com um fato ocorrida em um dos jornais do Estado de Sergipe envolvendo o
jornalista Luiz Adelmo. “Ele colocou uma foto de Clara Angélica em um dia. No
dia seguinte colocou outra foto da Clara, porque ela era uma figura destacada
da sociedade e eram duas situações diferentes. Eram duas fotos bonitas. E virou
um ti-ti-ti em Aracaju, algumas pessoas comentaram. Como Luiz Adelmo era uma
pessoa muito independente, no terceiro dia colocou outra foto da Clara”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Lerei todos os demais textos. Sugestão: o centro de Aracaju merece um trabalho de cartografia da comunicação...
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