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SUTILEZA, DOÇURA E LASCÍVIA EM MURILLO MELINS

                                                 Murillo Melins

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Afirmo sem medo de errar que, aos 92 anos de idade, Murillo Melins é o escritor sergipano com mais energia, com maior vitalidade e o memorialista mais fértil em atividade. O seu livro Aracaju Romântica Que Vi e Vivi está na quarta edição, praticamente esgotada. Em breve ele terá necessidade de publicar uma quinta edição. O livro Aracaju Pitoresca e Suas Tradições é um sucesso editorial. Agora, Murillo acaba de nos presentear com ARACAJU – REMINISCÊNCIAS E DEVANEIOS.

Conversei hoje com ele. Disse-me que aguarda a vacinação contra o Coronavirus para marcar a data do lançamento, que deseja presencial. Acredita que provavelmente no mês de março colocará o trabalho em circulação. O Prefácio tem a assinatura competente de Josevanda Franco. Sou grato a Murillo pelo convite que recebi para assinar as Orelhas, que os editores e especialistas contemporâneos denominam de Abas. Eu continuo preferindo designar como Orelhas.

São 20 crônicas, 11 artigos, seis discursos e uma fortuna crítica com 15 textos que analisam o trabalho do memorialista Murillo Mellins. É importante anotar, que para além de importante obra bibliográfica, o autor é uma usina a produzir textos que circulam pelos jornais publicados em Aracaju e nas redes da web.

Murillo é uma fonte aberta a inspirar jovens historiadores e pesquisadores que necessitam refletir e estudar sobre a cidade de Aracaju. Neste seu novo livro, são 368 páginas nas quais ele se debruça sobre a vida aracajuana. Destaco as crônicas “Rua João Pessoa”, “Andar Pelas Ruas de Aracaju” e “Rua da Frente”, além do artigo “Mercado Modelo”. São de uma riqueza ilimitada.

A vida boêmia é recorrente em todas as suas crônicas. Ele, bon vivant confesso, colecionou um largo acervo de informações sobre o funcionamento dos bares, restaurantes, clubes sociais, boates e cabarés que frequentou. Neste livro, sublinho a crônica “Inauguração do Cacique Chá” e o artigo “Cabarés, cassinos e boates de Aracaju”.

Amante da música e das festas, Murillo toca a sensibilidade dos leitores nas crônicas “Aracaju e Seus Pianos”, “Festas Natalinas”, “Um Réveillon do Arromba”, “Carnavais dos Velhos Tempos” e “Carrossel de Tobias”, além do artigo “Recordando o São João Antigo”.

Chama muito a atenção do leitor os textos que Murillo Melins dedica a amigos seus. Quase todos já nos deixaram. Um deles continua entre nós, vivendo e nos alegrando com a sua presença inteligente. São informações relevantes sobre figuras como “José Eugênio de Jesus”, “Luiz Antônio Barreto”, “Bissextino, o Caricaturista do Samba”, Mamede Paes Mendonça, Mário Melins, Artur Paiva, “João Mello: o Poeta Escritor”, “Maestro Luiz d’Anunciação (Pinduca)”, Zózimo Lima e Carlos Pinna.

Eu me deleitei com a leitura. Vale a pena mais este contato com a sutileza, a doçura, as tensões e a lascívia do memorialista que, ao nos apresentar a Aracaju que não mais existe produz também a escrita de si, de uma vida rica e sedutora que encanta sob a forma de texto.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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