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BERNARDINO, ANDERSON E O PAU-BRASIL


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

José Anderson Nascimento é o ocupante da cadeira 20 e presidente da Academia Sergipana de Letras. Estreou como escritor publicando um trabalho sobre o patrimônio arquitetônico do Estado de Sergipe (Sergipe D’El Rey - 1979) e também voltou ao tema quando publicou Sergipe e Seus Monumento (1981). Além disto, a sua trajetória intelectual como escritor, membro da Academia de Letras, gestor da cultura e agitador cultural esteve sempre marcada pela defesa do patrimônio material e imaterial.

Agora, Anderson Nascimento retomou o debate sobre o tema. Desta vez escolheu o patrimônio natural como objeto da sua preocupação, ao organizar uma nova edição do livro O PAU-BRASIL NA HISTÓRIA NACIONAL, escrito pelo geógrafo e historiador Bernardino José de Souza e publicado em primeira edição pela Companhia Editora Nacional, no ano de 1939, sob a direção de Fernando de Azevedo. A edição conta com um capítulo escrito por Arthur Neiva.

Bernardino é um professor sergipano que se radicou no Estado da Bahia, onde ocupou diversas funções públicas estaduais e federais, até assumir, em 1940, a cadeira de ministro do Tribunal de Contas da União, do qual foi presidente nos anos de 1947 e 1948. Bernardino morreu no Rio de Janeiro, em 1949.

A edição organizada por Anderson Nascimento é comemorativa ao cinquentenário do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, em face de convênio celebrado entre aquela instituição e a Academia Sergipana de Letras durante a gestão do conselheiro Carlos Alberto Sobral de Souza na presidência do TCESE.

A primeira edição do livro homenageou o centenário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ocorrido em outubro de 1938. A edição atual, tem orelhas (que atualmente são chamadas de Abas, mas prefiro a denominação tradicional) assinadas por Carlos Pinna de Assis, conselheiro e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe.

Quando foi publicado, o livro mereceu a crítica de importantes intelectuais brasileiros, como Guimarães Rosa e Anísio Teixeira. Ambos classificaram a obra como monumental. Agora, o Governo do Estado da Bahia se associou às instituições sergipanas na reedição do trabalho e autorizou a EGBA (a imprensa oficial baiana) imprimir a obra, que tem design primoroso da sergipana Criação Editora. O vice-governador do Estado da Bahia, João Leão, assina o texto que apresenta esta edição.

O conselheiro Luiz Augusto Carvalho Ribeiro, atual presidente do TCESE, que também assina uma Apresentação, chama a atenção do leitor para o fato de que “o historiador Nelson Werneck Sodré (1911-1999) em seu livro O Que Se Deve Ler Para Conhecer o Brasil, publicado em 1967, inclui” o título “de Bernardino José de Souza, O PAU-BRASIL NA HISTÓRIA NACIONAL”.

No texto em que esclarece a importância de Bernardino e do seu livro, Anderson Nascimento revela que o trabalho “é fruto de um minucioso estudo do Professor Bernardino José de Souza, realizado nas primeiras décadas do século XX, quando já se discutia a necessidade de conservação dessa árvore que deu seu nome a um dos maiores países do mundo”.

A reedição organizada por Anderson Nascimento inclui o Parecer assinado por Oliveira Viana sobre o trabalho de Bernardino e o texto da primeira edição, contendo Introdução, a nota explicativa Ciclos da Economia Brasileira, com a qual Bernardino justificou a necessidade do estudo, além do Capítulo I assinado por Arthur Neiva e mais 21 capítulos e a Nota Final que resultaram da pesquisa de Bernardo José de Souza.

Como lembra Anderson Nascimento, “a ação do autor em defesa do Pau-Brasil já havia sido registrada desde 1927, quando ele, na condição de Secretário do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, preocupava-se com o processo de exploração desordenada da árvore símbolo do Brasil e o seu desaparecimento nas ruas e nas praças da cidade de Salvador, como anota Neiva, em O Pau-Brasil na História Nacional”.

O professor Bernardino José de Souza nasceu no Engenho Murta, em Vila Cristina, atual Cristinápolis, em Sergipe, a oito de fevereiro de 1884. Filho do coronel Otávio de Souza Leite e de Filomena Maciel de Faria, foi alfabetizado na própria fazenda em que nasceu, pela professora Maria Sá Cristina de Gouvêa.

Bernardino viveu em Sergipe até o momento de iniciar os estudos ginasiais, quando mudou para Salvador e foi matriculado no Ginásio Carneiro Ribeiro. Ingressou no curso de Direito em 1900 na Faculdade Livre de Direito da Bahia, quando tinha ainda 16 anos de idade. Colou grau em 1904.

Trabalhou como professor de Direito Internacional Público, entre 1906 e 1937, na mesma instituição em que foi formado. Desempenhou a docência de Geografia e História Universal e do Brasil, no mesmo Ginásio Carneiro Ribeiro do qual fora aluno, e, a partir de 1915, professor de História Universal no Ginásio Estadual da Bahia.

Depois disto, diretor da Faculdade Livre de Direito da Bahia, secretário estadual de Justiça e ministro do TCU. Paralelamente, foi membro do IGHB e fundador da Cadeira 14 da Academia de Letras da Bahia. Além do livro agora reeditado, é autor de outros trabalhos: Dicionário da Terra e da Gente do Brasil, O Ciclo de Carros de Boi no Brasil, Limites do Brasil, Corografia do Piauí, Por Mares e Terras, A Ciência Geográfica, O Município de Abadia e também, A Bahia.

Vale a pena conhecer O PAU-BRASIL NA HISTÓRIA NACIONAL.

Boa leitura!

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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