Jorge
Carvalho do Nascimento*
Na
década de 60 do século XX, a coluna social vivia o seu período áureo. Naquela
época, as pessoas buscavam meios de ser citadas pelos colunistas sociais,
conforme revela o jornalista Anderson Nascimento. “Você via a alegria das
pessoas quando se encontravam com você na rua e você tinha noticiado alguma
coisa que havia se passado com aquela pessoa ou algum acontecimento que estava
por vir”.
Anderson
afirma que o prestígio da coluna social formava opinião e influenciava decisões
de governo. “Eu lembro exatamente de um momento assim de alegria de uma pessoa
que estava sendo, como de fato foi incluída em uma lista tríplice para
desembargador. Essa pessoa foi o desembargador escolhido a partir de uma nota
de Anderson na Gazeta de Sergipe”.
Segundo
Anderson Nascimento, havia uma rede articulada que dava força à coluna social. “Tinha
as ligações de Orlando Dantas (o diretor do jornal Gazeta de Sergipe) com o
governador Seixas Dórea. O desembargador escolhido foi Raimundo Rosa Santos.
Ele era juiz em Estância e eu fiz uma nota dizendo que ele estava sendo cotado
para a lista tríplice”.
Ao
analisar a questão, Anderson afirma que a coluna social ganhou muita força e
prestígio com a massificação do colunismo social, a partir da escrita do
jornalista Ibrahim Sued. E assinalou também outra importante característica do gênero
durante o século XX. “As pessoas que
eram escolhidas pelos donos dos jornais, pelos diretores dos jornais, pelos
redatores dos jornais, pelos editores dos jornais para serem colunistas sociais
eram pessoas da própria roda do high society”.
Para
fortalecer a sua argumentação, Anderson cita o caso da mídia do Estado de
Sergipe. “Pode analisar desde Carlos Henrique de Carvalho, o Bonequinha, que
era o pioneiro, mas era homem da elite. O tio, Eronildes de Carvalho, havia
sido governador, com muita influência na vida política de Sergipe. Era uma
pessoa que circulava em todos os ambientes. E tantos outros que o sucederam e
eram ligados a essas hostes políticas e empresariais”.
Sob
o entendimento de Anderson, o colunismo social contemporâneo é muito diferente.
“Agora aparecem colunistas sociais que eu mesmo não conheço”. Isto seria um
forte sintoma de fragilização da força do colunismo social. “O colunismo social
de jornal, a tendência é se acabar, com a importância das redes sociais. A
rapidez da comunicação nas redes sociais é muito grande”.
Outra
mudança de padrão anotada por Anderson é a de que, mesmo parecendo contraditório,
as redes sociais da internet possibilitaram a viabilização do colunismo social
como negócio. “Hoje, o colunista recebe prêmios e é bem remunerado pelo seu
trabalho. No passado, a gente não tinha remuneração. Orlando Dantas pagava um pro
labore”.
Era
um mecanismo simbólico de remuneração do trabalho, explicitado por Anderson
Nascimento. “Algumas vezes, Hidelgardes Azevedo que era o contador da Gazeta de
Sergipe chegava com um cheque. Era um pro labore simbólico. Mas, não era
por aquele pro labore que a gente produzia”.
À
época, o jornalista da Gazeta de Sergipe tinha outras formas de compensação. Anderson
Nascimento explica que “quem gravitava em torno da Gazeta era prestigiado na
vida social, na vida econômica. As pessoas nos recebiam bem, à exceção daqueles
que eram adversários políticos de Orlando Dantas. Estes fechavam as portas”.
Era
prática da coluna Background, comandada por Anderson Nascimento, possuir
uma rede de informantes que colaboravam com o jornalista. “Essa coluna era
compartilhada. Eu tinha informantes como o professor João Costa. Todas as
notícias da área de teatro, dos espetáculos da Sociedade de Cultura Artística –
SCAS”, chegavam por intermédio dele.
A
coluna Background é um repositório que revela fortemente a agitação cultural
vivida por Aracaju, como de resto pelo país nos primeiros anos da década de
1960, o que segundo José Anderson Nascimento era plenamente justificável. “Vivíamos
um período muito próspero pois se aproximava o momento do IV Centenário do Rio
de Janeiro.
Já
havia grandes espetáculos sendo realizados no Rio de Janeiro. José Carlos
Teixeira que também era um dos diretores da SCAS, conseguia que na passagem
dessas companhias de teatro, música, dança, balé do Rio de Janeiro por Salvador
ou Recife, fizessem uma parada em Aracaju. Ele era deputado federal e usava o
prestígio do cargo com este objetivo”.
Além
desse tipo de atividade, há muito registro acerca da circulação de livros
presente na coluna Background, conforme afirma Anderson. “Estava em
evidência o poeta Santo Souza e eu divulguei muito os trabalhos dele. Eu
divulguei muito o livro Pássaro de Pedra e Sono, de Santo Souza. Fiz
entrevistas com ele. A Gazeta de Sergipe liberava Zé Fotógrafo para me
acompanhar e a coluna circulava com clichês, o que na época era muito difícil”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente
da Academia Sergipana de Educação.
Sim. A mudança imposta por todo o ambiente digital está transformando muito a sociedade. Por falar em redes sociais, parece que cada um de nós se tornou o cronista de si mesmo. Isto é bem interessante, as pessoas se sentem felizes, importantes, elegantes e não precisam mais esperar os humores como de alguns cronistas das décadas de 60 e de 70. Esses ficaram out of date. É, a vida prossegue en passant!
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