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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XXXIII

                                                               Anderson Nascimento

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Na década de 60 do século XX, a coluna social vivia o seu período áureo. Naquela época, as pessoas buscavam meios de ser citadas pelos colunistas sociais, conforme revela o jornalista Anderson Nascimento. “Você via a alegria das pessoas quando se encontravam com você na rua e você tinha noticiado alguma coisa que havia se passado com aquela pessoa ou algum acontecimento que estava por vir”.

Anderson afirma que o prestígio da coluna social formava opinião e influenciava decisões de governo. “Eu lembro exatamente de um momento assim de alegria de uma pessoa que estava sendo, como de fato foi incluída em uma lista tríplice para desembargador. Essa pessoa foi o desembargador escolhido a partir de uma nota de Anderson na Gazeta de Sergipe”.

Segundo Anderson Nascimento, havia uma rede articulada que dava força à coluna social. “Tinha as ligações de Orlando Dantas (o diretor do jornal Gazeta de Sergipe) com o governador Seixas Dórea. O desembargador escolhido foi Raimundo Rosa Santos. Ele era juiz em Estância e eu fiz uma nota dizendo que ele estava sendo cotado para a lista tríplice”.

Ao analisar a questão, Anderson afirma que a coluna social ganhou muita força e prestígio com a massificação do colunismo social, a partir da escrita do jornalista Ibrahim Sued. E assinalou também outra importante característica do gênero durante o século XX.  “As pessoas que eram escolhidas pelos donos dos jornais, pelos diretores dos jornais, pelos redatores dos jornais, pelos editores dos jornais para serem colunistas sociais eram pessoas da própria roda do high society”.

Para fortalecer a sua argumentação, Anderson cita o caso da mídia do Estado de Sergipe. “Pode analisar desde Carlos Henrique de Carvalho, o Bonequinha, que era o pioneiro, mas era homem da elite. O tio, Eronildes de Carvalho, havia sido governador, com muita influência na vida política de Sergipe. Era uma pessoa que circulava em todos os ambientes. E tantos outros que o sucederam e eram ligados a essas hostes políticas e empresariais”.

Sob o entendimento de Anderson, o colunismo social contemporâneo é muito diferente. “Agora aparecem colunistas sociais que eu mesmo não conheço”. Isto seria um forte sintoma de fragilização da força do colunismo social. “O colunismo social de jornal, a tendência é se acabar, com a importância das redes sociais. A rapidez da comunicação nas redes sociais é muito grande”.

Outra mudança de padrão anotada por Anderson é a de que, mesmo parecendo contraditório, as redes sociais da internet possibilitaram a viabilização do colunismo social como negócio. “Hoje, o colunista recebe prêmios e é bem remunerado pelo seu trabalho. No passado, a gente não tinha remuneração. Orlando Dantas pagava um pro labore”.

Era um mecanismo simbólico de remuneração do trabalho, explicitado por Anderson Nascimento. “Algumas vezes, Hidelgardes Azevedo que era o contador da Gazeta de Sergipe chegava com um cheque. Era um pro labore simbólico. Mas, não era por aquele pro labore que a gente produzia”.

À época, o jornalista da Gazeta de Sergipe tinha outras formas de compensação. Anderson Nascimento explica que “quem gravitava em torno da Gazeta era prestigiado na vida social, na vida econômica. As pessoas nos recebiam bem, à exceção daqueles que eram adversários políticos de Orlando Dantas. Estes fechavam as portas”.

Era prática da coluna Background, comandada por Anderson Nascimento, possuir uma rede de informantes que colaboravam com o jornalista. “Essa coluna era compartilhada. Eu tinha informantes como o professor João Costa. Todas as notícias da área de teatro, dos espetáculos da Sociedade de Cultura Artística – SCAS”, chegavam por intermédio dele.

A coluna Background é um repositório que revela fortemente a agitação cultural vivida por Aracaju, como de resto pelo país nos primeiros anos da década de 1960, o que segundo José Anderson Nascimento era plenamente justificável. “Vivíamos um período muito próspero pois se aproximava o momento do IV Centenário do Rio de Janeiro.

Já havia grandes espetáculos sendo realizados no Rio de Janeiro. José Carlos Teixeira que também era um dos diretores da SCAS, conseguia que na passagem dessas companhias de teatro, música, dança, balé do Rio de Janeiro por Salvador ou Recife, fizessem uma parada em Aracaju. Ele era deputado federal e usava o prestígio do cargo com este objetivo”.

Além desse tipo de atividade, há muito registro acerca da circulação de livros presente na coluna Background, conforme afirma Anderson. “Estava em evidência o poeta Santo Souza e eu divulguei muito os trabalhos dele. Eu divulguei muito o livro Pássaro de Pedra e Sono, de Santo Souza. Fiz entrevistas com ele. A Gazeta de Sergipe liberava Zé Fotógrafo para me acompanhar e a coluna circulava com clichês, o que na época era muito difícil”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

Comentários

  1. Sim. A mudança imposta por todo o ambiente digital está transformando muito a sociedade. Por falar em redes sociais, parece que cada um de nós se tornou o cronista de si mesmo. Isto é bem interessante, as pessoas se sentem felizes, importantes, elegantes e não precisam mais esperar os humores como de alguns cronistas das décadas de 60 e de 70. Esses ficaram out of date. É, a vida prossegue en passant!

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