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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XXXV

                                                 Ricardo Boechat

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Após seis anos comandando a prestigiada coluna Informe JB, no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, o jornalista Ancelmo Gois voltou a trabalhar na revista Veja, onde atuava antes de mudar para o Jornal do Brasil. Da primeira vez que atuou na revista semanal, trabalhou na editoria de Economia.

Ao retornar para a Veja, Ancelmo Gois foi designado diretor da sucursal da revista na cidade do Rio de Janeiro. O periódico tinha sede em São Paulo. No Rio, Ancelmo cuidava do escritório e das pautas. Ao mesmo tempo, recebeu o encargo de assinar uma outra importante coluna – Radar.

Na nova coluna, ele publicava notas de interesse da política, da economia e também daquilo que pode ser chamado de notícias e comentários de coluna social. Permaneceu com esta responsabilidade durante oito anos. Outra vez, havia assumido tais funções por escolha pessoal do jornalista Marcos Sá Corrêa, que assumira a função de diretor da revista.

Ancelmo manifesta o seu reconhecimento e gratidão aos diferentes estímulos que a sua carreira de jornalista recebeu por iniciativa de Marcos Sá Corrêa. “O Marcos é meu padrinho. Ninguém produziu tanto bem na minha vida profissional como Marcos Sá Corrêa”.

Além da influência que recebeu de Marcos, Ancelmo afirma que outros nomes do jornalismo foram muito importantes para o seu desenvolvimento na profissão. “Na verdade, eu sou cria de um grupo de jornalistas aqui do sul, que me adotaram. Élio Gáspari, Dorrit Harazim, que é a mulher do Élio, Flávio Aurélio da Silveira Pinheiro. Me adotaram e para onde eles iam me levavam”.

Ao se desligar da revista Veja no seu segundo período de trabalho no periódico, Ancelmo Gois participou de um projeto pioneiro de jornalismo na Internet, antes da queda da bolsa Nasdaq, fato que está ligado ao crescimento da Internet. Quatro grandes grupos empresariais brasileiros se reuniram para criar um serviço de Internet gratuita: Nizan Guanaes, Jorge Paulo Lemann, Aleksandar Mandic e Matinas Suzuki Junior. Assim nasceu o IG.

O primeiro presidente do IG foi Nizan Guanaes e teve a ideia de criar uma revista digital. Convidado para implantar a experiência, o jornalista Marcos Sá Corrêa levou Ancelmo Gois na sua equipe. Juntos eles criaram no IG o serviço Notícias e Opinião – NO. Foi a primeira experiência jornalística na Internet brasileira. Segundo Ancelmo, foi um trabalho efêmero. “Nós ficamos lá, 500 dias. No final dessa experiência, quebrou a bolsa Nasdaq, em New York” e a Internte IG viveu um período de dificuldades. Depois renasceu. Este fato faz de Ancelmo Gois um dos pioneiros quanto a experiência de jornalismo na Internet brasileira.

Ele relata como foi difícil viver aquela fase inicial. “Eu ficava impressionado porque o Radar era a coluna mais lida da Veja. A revista tirava mais de um milhão de exemplares. Segundo as pesquisas, a coluna radar era lida por mais de quatro milhões de pessoas. Eu tinha saído do Radar para fazer uma coluna na Internet que eu gritava: tem alguém aí? Tem alguém aí? Era no começo da Internet. Não tinha até então nenhuma outra experiência jornalística na Internet brasileira”.

Ao se desligar do trabalho na Internet, Ancelmo Gois foi trabalhar no jornal O Globo. O jornal demitiu o jornalista Ricardo Boechat, em face de uma crise política de grande repercussão. Merval Pereira, o diretor do jornal, havia trabalhado com Ancelmo Gois na revista Veja. Merval fora editor de política do periódico e convidou Ancelmo Goi para substituir Boechat.

Tem quase 20 anos que Ancelmo Gois atua no jornal O Globo, fazendo uma coluna assinada. Não obstante haver substituído Ricardo Boechat que deixou o jornal em circunstâncias muito difíceis, Ancelmo faz questão de afirmar que ambos cultivaram uma sólida amizade ao longo e toda a vida.

Num relato feito com muito afeto, Ancelmo Gois destaca as boas qualidades de Ricardo Boechat. “Ele tinha um lado generoso que era rigorosamente fascinante. Ele saiu do Globo numa crise, mas teve a grande generosidade de me chamar, sabendo que eu ia para o lugar dele e ficar dando dicas”.

Segundo Ancelmo Gois, as observações de Boechat foram muito importantes para o sucesso do seu trabalho. “Ancelmo, você não mexe com o cardeal. Mexer com a Igreja, Dr. Roberto Marinho não se incomoda. Agora, se mexer com o Cardeal, Dr. Roberto fica bravo. Um sujeito que tinha sido demitido, humilhado, teria tudo para torcer pra que eu desse errado, mas ele torceu para que eu desse certo. A gente foi tomar um café da manhã num bar e ficamos lá até três horas da tarde, ele me dando dicas da coluna”.

 

 

Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

 

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