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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - L

                                              Anderson Nascimento

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O jornalismo de coluna social no Brasil dos anos 50, 60 e 70 do século XX tinha o seu foco voltado principalmente para as festas que aconteciam nos clubes sociais e nas boates. Era assim no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, em Sergipe. Esta era uma prática desse gênero de jornalismo no Brasil.

Se observada uma cidade como o Rio de Janeiro, importantes boates marcaram foram espaços preferidos pelos colunistas sociais e marcaram a vida daquele período como o Sacha’s ou a boate que teve no promoter Carlos Machado seu empreendedor, além de outras que surgiram como o Hipopotamus, reunindo figuras marcantes do high Society naquela cidade. O mesmo acontecia em vários outros Estados brasileiros.

Todas essas boates eram marcadas pela presença de orquestras, cantores de muito prestígio popular, grupos de música ao vivo. Eram raras as casas que adotavam a música eletrônica, ainda rejeitada por muitos grupos sociais. Cada cidade brasileira adotou estilos de práticas de diversão semelhantes para os seus grupos de elite.

Em Aracaju, no mesmo período, a vida noturna foi marcada pelas festas da Boate Segredo, da Associação Atlética de Sergipe, ponto importante desse tipo de celebração. Várias outras boates funcionaram paralelamente, embora nem sempre com o mesmo glamour. Depois, foram importantes a boate do restaurante Catavento, que substituiu a boate Segredo, da Associação Atlética de Sergipe; a boate Veleiro, do Iate Clube de Aracaju; e, Oxente, que funcionou nas dependências do Cotinguiba Esporte Clube.

A frequência a essas casas noturnas refletia a estratificação que marcava a vida dos grupos de elite do Estado de Sergipe. A alta burguesia costumava frequentar a Boate Veleiro e as festas promovidas pelo Iate Clube de Aracaju. Os setores da burguesia menos elitizados frequentavam habitualmente a Boate Catavento e as festas da Associação Atlética de Sergipe.

Todos os clubes e todas as boates ofereciam música ao vivo, pianistas renomados, conjuntos musicais prestigiados com naipes de sopro, metais e cordas, cantores populares. Essa era a prática da diversão das pessoas de maior poder aquisitivo, sempre anotada pelos jornalistas que faziam coluna social.

O jornalista Anderson Nascimento, que na década de 60 do século passado foi responsável pela coluna Background, no jornal Gazeta de Sergipe, costuma afirmar que o perfil das formas de diversão em Sergipe somente começou a se modificar em Aracaju a partir do final da década de 80, com a popularização do espaço dos shoppings.

Para Anderson, antes dos shoppings, as pessoas iam ver e ser vistas nas boates “ou então nas festas que os clubes sociais proporcionavam. Sempre tinha festas com orquestras nacionais e internacionais. Grandes nomes da música nacional e internacional circulavam nos clubes”.

Era este o caldo de efervescência que a elite fornecia aos jornalistas responsáveis por coluna social para que estes alimentassem o seu noticiário e os comentários que publicavam e eram consumidos pela mesma elite que buscava ver os registros dos seus nomes impressos em papel e tinta nos periódicos aracajuanos.

De acordo com Anderson Nascimento, dentre os hábitos que as mulheres da elite adotavam estava a mania de frequentar todas as semanas, na sexta-feira ou no sábado, os salões de beleza. “As mulheres se embelezavam toda semana nos salões de beleza mais chiques. Eram espaços de circulação das mulheres da alta sociedade”.

Os casais de poder aquisitivo maior frequentavam semanalmente o restaurante do Hotel Palace de Aracaju, à época um importante ponto de encontro das famílias mais influentes da vida do Estado de Sergipe. Ali também estavam os colunistas sociais. Indiscutivelmente, aquele era tido nas décadas de 60 e 70 como um espaço refinado consumido por pessoas de elevado poder econômico.

Os clubes sociais também mantinham restaurantes bem frequentados nas suas instalações. O mesmo jornalista Anderson Nascimento revela que “na administração de Clodoaldo de Alencar Filho ele construiu o Restaurante Catavento, na Associação Atlética de Sergipe. E esse restaurante Catavento passou a ter a mesma atividade que havia na Boate Segredo. É bem provável que tenha aumentado o número de associados que frequentavam a Boate Segredo e que passaram a frequentar o Catavento, que tinha a função de restaurante e boate”.

O Catavento e o Hotel Palace foram à época restaurantes de bom nível, os mais importantes da cidade de Aracaju. Ambos contratavam chefes de cozinha experientes, procedentes de outros Estados e do exterior, com o objetivo de manter um padrão elevado no menu que ofereciam.

Ambos os ambientes eram refinados. As paredes do restaurante do Hotel Palace eram decoradas com murais do artista plástico Jenner Augusto retratando a chegada da família real ao Brasil. O principal mural foi retirado do edifício depois que o restaurante fechou as portas e atualmente decora o hall do Teatro Arnaldo Rollemberg Garcez, no Atheneu Sergipense.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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