Jorge
Carvalho do Nascimento
É
muito difícil para quem estuda os diferentes gêneros do jornalismo conceituar o
que significa coluna social. No jornalismo, o gênero foi um dos que mais sofreu
mutações durante a segunda metade do século XX e nas duas primeiras décadas do
século XXI. Como comparar o trabalho da contemporânea Mônica Bérgamo com o jornalista
Jacinto de Thormes da década de 1950 e considerar a ambos igualmente colunistas
sociais?
Não
obstante todos os avanços e mutações vividos pela coluna social, ainda há muitos
resquícios de um modelo de colunismo que dominou a mídia no Brasil até a década
de 70 do século XX. Atualmente, algumas daquelas práticas estão presentes tanto
em jornais de pequenas cidades do interior do Brasil, em programas de rádio e
TV e mesmo nas plataformas da rede internet. O mesmo pode ser visto em alguns veículos
de comunicação de grandes cidades.
São
resquícios que remetem a um modelo de colunismo explicitamente venal, onde as
famílias mais poderosas exerciam influência junto aos jornalistas e muitas
vezes dirigiam as opiniões desses profissionais usando da oferta de generosas
gratificações financeiras “não contabilizadas”.
No
imaginário popular, colunistas sociais vivem uma vida glamourosa, frequentando
festas refinadas, participando de banquetes luxuosos e consumindo vinhos de safras
especiais, nobres e caras. É possível que contemporaneamente algum colunista
social ainda ostente esse perfil. Todavia, agora, o modelo de trabalho é o do
jornalista que passa os seus dias buscando informações em fontes que nem sempre
são de fácil acesso.
O
jornalista Ancelmo Gois exemplifica algumas relações dos jornalistas, que nos
permitem entender o papel e a importância dos profissionais de imprensa, dentre
estes os colunistas sociais. “Eu, Miriam Leitão e Ruy Xavier pegamos o senador
Antônio Carlos Magalhães e ficamos com ele durante dois dias trancados num
hotel e fizemos uma entrevista com mais de 20 horas de gravação. Virou um livro
chamado Política É Poder”.
Nesse
livro os autores explicitam que Antônio Carlos Magalhães trabalhou como
jornalista, na Bahia, nos primeiros anos da sua vida. Ancelmo, relembra uma das
falas de ACM. “Há três tipos de jornalista: o que quer notícia; o que quer
dinheiro; e, o que quer emprego. O que você não pode é dar dinheiro a quem quer
notícia; notícia a quem quer emprego; emprego a quem quer dinheiro”.
Para
Ancelmo Gois, estamos vivendo um momento no qual a qualidade moral dos profissionais
jovens recém saídos das faculdades de comunicação é muito boa. “É gente muito
decente. Eu acredito nisso”. Sob a sua ótica, as ferramentas de controle que a
sociedade contemporânea possui sobre o trabalho dos jornalistas são muito eficazes.
Para
muitos intérpretes do problema, as relações que os agentes públicos, os líderes
estabelecem com os jornalistas é fundamental para a manutenção ou o
esgarçamento dos padrões éticos de comportamento. Em seu livro de memórias, o
ex-presidente norte-americano Richard Nixon refletiu sobre o tema, sempre
defendendo a autonomia e independência dos jornalistas. É importante lembrar
que, no caso Watergate, Nixon perdeu o mais importante emprego do planeta – a presidência
dos Estados Unidos da América - por causa do jornalismo.
Revelando
muita maturidade política e diante da vida, Nixon colocou em suas memórias um
capítulo sobre a imprensa que entusiasmou o jornalista Ancelmo Gois. “Impressionante
como ele homenageia a imprensa. Ele diz: trate todo jornalista bem. Se você
trata mal um jornalista de máquinas e metais, mais tarde ele é editor político
de um grande jornal e você não sabe porque ele bate tanto”.
De
um modo geral, os jornalistas são pessoas que não estão submetidos a obtenção
de vantagens econômicas. Buscar tais vantagens é um comportamento minoritário. Sob
o entendimento de Richard Nixon, o jornalista está mais preocupado em ser
celebrado pelos seus pares e pelos leitores como um grande profissional. Geralmente,
a vaidade profissional é mais importante do que receber alguma vantagem
financeira para comprar um apartamento luxuoso ou coisas assim.
Ainda
no mesmo livro de memórias já citado, Richard Nixon afirma que o problema do
jornalismo não são os jornalistas, mas a incapacidade de liderança e comando
por parte dos donos de jornal. Este ponto impressionou Ancelmo Gois. “Ele jantava
com a dona do Washington Post e no dia seguinte quando abria o jornal estava
apanhando. Ele disse que dono de jornal é uma espécie de Eunuco que não
controla seus profissionais. Contudo, ele celebra a honra dos jornalistas”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Prof. Jorge, parabéns por mais uma matéria elucidativa, considerando o seu entendimento sobre a profissão de ser jornalista e não ser simplesmente jornalista por diversas outras oportunidades. Concordo plenamente que, como expressou em seu comentário, os novos jornalistas de hoje, acho também que tendem por exercerem o seu papel de praticar com expressiva nitidez, caminham para exercerem um papel mais confiável no que diz respeito a saber entender os fatos, as fontes, os valores de quem gera as possíveis notícias. Não sei se o que expressarei a seguir tem o devido sentido, porém, posso garantir que é um sentimento de momento e por vários motivos que vivemos hoje em dia. Quem tem o hábito de ler noticias ainda nos jornais, assistir e/ou ouvir noticiários, ler mensagens nas mídias sociais, até onde consigo acompanhar, está se tornando uma pessoa com dúvidas permanentes quanto as seguranças das informações. Acredito que um dos fatores deve satisfações aos jornalistas que demonstram conforto pelos créditos antigos adquiridos, porém, muitos desses profissionais ao se envolverem com políticas nefastas, parecem um pouco perdidos quando recebem críticas. Enfim confesso não ser minha praia mas às vezes me atrevo a fazer alguns comentários a respeito do assunto. Simplesmente porque admiro quem sabe demonstrar e expressar. São muitos e vc é um deles.
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