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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? – XLII

                                               Miriam Leitão

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento

 

 

É muito difícil para quem estuda os diferentes gêneros do jornalismo conceituar o que significa coluna social. No jornalismo, o gênero foi um dos que mais sofreu mutações durante a segunda metade do século XX e nas duas primeiras décadas do século XXI. Como comparar o trabalho da contemporânea Mônica Bérgamo com o jornalista Jacinto de Thormes da década de 1950 e considerar a ambos igualmente colunistas sociais?

Não obstante todos os avanços e mutações vividos pela coluna social, ainda há muitos resquícios de um modelo de colunismo que dominou a mídia no Brasil até a década de 70 do século XX. Atualmente, algumas daquelas práticas estão presentes tanto em jornais de pequenas cidades do interior do Brasil, em programas de rádio e TV e mesmo nas plataformas da rede internet. O mesmo pode ser visto em alguns veículos de comunicação de grandes cidades.

São resquícios que remetem a um modelo de colunismo explicitamente venal, onde as famílias mais poderosas exerciam influência junto aos jornalistas e muitas vezes dirigiam as opiniões desses profissionais usando da oferta de generosas gratificações financeiras “não contabilizadas”.

No imaginário popular, colunistas sociais vivem uma vida glamourosa, frequentando festas refinadas, participando de banquetes luxuosos e consumindo vinhos de safras especiais, nobres e caras. É possível que contemporaneamente algum colunista social ainda ostente esse perfil. Todavia, agora, o modelo de trabalho é o do jornalista que passa os seus dias buscando informações em fontes que nem sempre são de fácil acesso.

O jornalista Ancelmo Gois exemplifica algumas relações dos jornalistas, que nos permitem entender o papel e a importância dos profissionais de imprensa, dentre estes os colunistas sociais. “Eu, Miriam Leitão e Ruy Xavier pegamos o senador Antônio Carlos Magalhães e ficamos com ele durante dois dias trancados num hotel e fizemos uma entrevista com mais de 20 horas de gravação. Virou um livro chamado Política É Poder”.

Nesse livro os autores explicitam que Antônio Carlos Magalhães trabalhou como jornalista, na Bahia, nos primeiros anos da sua vida. Ancelmo, relembra uma das falas de ACM. “Há três tipos de jornalista: o que quer notícia; o que quer dinheiro; e, o que quer emprego. O que você não pode é dar dinheiro a quem quer notícia; notícia a quem quer emprego; emprego a quem quer dinheiro”.

Para Ancelmo Gois, estamos vivendo um momento no qual a qualidade moral dos profissionais jovens recém saídos das faculdades de comunicação é muito boa. “É gente muito decente. Eu acredito nisso”. Sob a sua ótica, as ferramentas de controle que a sociedade contemporânea possui sobre o trabalho dos jornalistas são muito eficazes.

Para muitos intérpretes do problema, as relações que os agentes públicos, os líderes estabelecem com os jornalistas é fundamental para a manutenção ou o esgarçamento dos padrões éticos de comportamento. Em seu livro de memórias, o ex-presidente norte-americano Richard Nixon refletiu sobre o tema, sempre defendendo a autonomia e independência dos jornalistas. É importante lembrar que, no caso Watergate, Nixon perdeu o mais importante emprego do planeta – a presidência dos Estados Unidos da América - por causa do jornalismo.

Revelando muita maturidade política e diante da vida, Nixon colocou em suas memórias um capítulo sobre a imprensa que entusiasmou o jornalista Ancelmo Gois. “Impressionante como ele homenageia a imprensa. Ele diz: trate todo jornalista bem. Se você trata mal um jornalista de máquinas e metais, mais tarde ele é editor político de um grande jornal e você não sabe porque ele bate tanto”.

De um modo geral, os jornalistas são pessoas que não estão submetidos a obtenção de vantagens econômicas. Buscar tais vantagens é um comportamento minoritário. Sob o entendimento de Richard Nixon, o jornalista está mais preocupado em ser celebrado pelos seus pares e pelos leitores como um grande profissional. Geralmente, a vaidade profissional é mais importante do que receber alguma vantagem financeira para comprar um apartamento luxuoso ou coisas assim.

Ainda no mesmo livro de memórias já citado, Richard Nixon afirma que o problema do jornalismo não são os jornalistas, mas a incapacidade de liderança e comando por parte dos donos de jornal. Este ponto impressionou Ancelmo Gois. “Ele jantava com a dona do Washington Post e no dia seguinte quando abria o jornal estava apanhando. Ele disse que dono de jornal é uma espécie de Eunuco que não controla seus profissionais. Contudo, ele celebra a honra dos jornalistas”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

Comentários

  1. Prof. Jorge, parabéns por mais uma matéria elucidativa, considerando o seu entendimento sobre a profissão de ser jornalista e não ser simplesmente jornalista por diversas outras oportunidades. Concordo plenamente que, como expressou em seu comentário, os novos jornalistas de hoje, acho também que tendem por exercerem o seu papel de praticar com expressiva nitidez, caminham para exercerem um papel mais confiável no que diz respeito a saber entender os fatos, as fontes, os valores de quem gera as possíveis notícias. Não sei se o que expressarei a seguir tem o devido sentido, porém, posso garantir que é um sentimento de momento e por vários motivos que vivemos hoje em dia. Quem tem o hábito de ler noticias ainda nos jornais, assistir e/ou ouvir noticiários, ler mensagens nas mídias sociais, até onde consigo acompanhar, está se tornando uma pessoa com dúvidas permanentes quanto as seguranças das informações. Acredito que um dos fatores deve satisfações aos jornalistas que demonstram conforto pelos créditos antigos adquiridos, porém, muitos desses profissionais ao se envolverem com políticas nefastas, parecem um pouco perdidos quando recebem críticas. Enfim confesso não ser minha praia mas às vezes me atrevo a fazer alguns comentários a respeito do assunto. Simplesmente porque admiro quem sabe demonstrar e expressar. São muitos e vc é um deles.

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