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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XLIII

                                              Luciano Correia

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Mesmo antes de ingressar no ensino superior, aos 14 anos de idade, Luciano Correia teve sua primeira experiência de contato com a mídia. Estudante no Colégio Estadual Murilo Braga, ele se juntou a outros dois colegas, Blanar Roberto de Melo Siqueira e Marcos de Oliveira Fonseca, e fundou o jornal O Cebolão, que chegou a circular em cada uma de suas edições quinzenais com uma tiragem de 1.200 exemplares.

O jornal causou grande impacto junto aos colegas de Luciano no Colégio Murilo Braga, aos demais estudantes da cidade e de um modo geral em toda a juventude itabaianense. O periódico era impresso em um mimeógrafo a álcool. Os dados demonstram que foi um grande feito para um jornal que tinha os seus exemplares vendidos.

Luciano atribui o estímulo recebido para a fundação do jornal a uma professora de História no Colégio Murilo Braga, a professora Odete. Ele mesmo confessa. “Foi nas salas da professora Odete que eu ganhei coragem para começar a ler uma espécie de mural manuscrito que eu comecei a fazer contando coisas da turma, do colégio, da vida itabaianense”.

Escrevendo os textos do mural, Luciano Correia viu desabrochar a sua habilidade narrativa, a verve jornalística. Deste modo, nasceu o jornal O Cebolão, impresso no mimeógrafo do próprio Colégio Murilo Braga e junto com ele o jornalista Luciano Correia. O próprio Luciano dá uma dimensão da importância da tiragem de 1.200 exemplares, ao comparar o seu jornal com os que circulam atualmente na cidade de Aracaju. “Duvido que esses diários de hoje impressos aí tirem isto”.

Era um jornal de alunos de uma escola. Luciano era ainda, na prática, um menino. Os colegas que a ele se associaram eram também meninos com a mesma idade de Luciano Correia. O jornal tratava de assuntos próprios aos interesses juvenis, dos temas caros aos adolescentes, mas também levantava questões pertinentes, cobrando o bom funcionamento da instituição escolar, reclamando da ausência de professores para algumas disciplinas, em determinados momentos.

Os debates que O Cebolão levantava conseguia mobilizar as preocupações dos docentes e a comunidade estudantil, conforme revela Correia. “Professores que saíam e não eram substituídos e os alunos ficavam meses sem os professores. Situações que ainda hoje ocorrem. Já cobrava isto”.

Evidente que a maior parte do espaço do jornal era ocupada por uma espécie de crônica social estudantil. Tratava de coisas que podem ser vistas por alguns como as futilidades da vida, mas se encaradas sob outras óticas revelam as práticas culturais, os hábitos, os costumes de uma determinada época.

Eram recorrentes no jornal O Cebolão os registros dos bailes de debutantes, a beleza das meninas itabaianenses, os namoros e outros temas semelhantes. O próprio Luciano Correia redigia o horóscopo. Toda esta experiência foi viável a Luciano e aos seus colegas a partir das aulas de História da professora Odete.

O periódico cresceu e a equipe que dirigia o periódico chegou a organizar bailes de debutantes em Itabaiana sob o patrocínio do jornal O Cebolão. Certamente aquele processo ajudou a gestar o jornalista Luciano Correia. Blanar, que fundou O Cebolão ao lado de Luciano, era um habilidoso desenhista com elevada sensibilidade para as coisas da arte. Era o ilustrador do jornal.

O sucesso do jornal O Cebolão exerceu muita influência na vida futura de Luciano Correia, como ele revela. “O jornal foi um sucesso em Itabaiana. Eu era um menino, mas o jornalismo já exercia um certo fascínio. Era o momento do começo da afirmação da televisão, do telejornalismo, no país. O começo da consolidação do padrão Globo de qualidade. A Rede Globo se expandindo como negócio, mas também afirmando um padrão de fazer televisão. O modelo da Rede Tupi ruiu”.

Mesmo sendo ainda um menino, estudante secundarista, efetivamente a imagem pública de Luciano Correia em Itabaiana era a de jornalista. “Eu tinha uma camisa pintada com o nome Jornal O Cebolão – Reportagem. Só que isto não era uma brincadeira, o jornal existia, o jornal saía com uma periodicidade quinzenal”.

Sem nenhuma dúvida, o jornal O Cebolão marcou uma época na cidade de Itabaiana. O trabalho de Luciano Correia, Blanar, Marcos, Jorge Santana, Almir Paes da Costa e os demais colaboradores de O Cebolão impactou muito a vida itabaianense. Importante anotar que tudo isto ocorreu sob a ditadura militar que havia se iniciado em 1964 e até 1984 governou o Brasil.      

Ao concluir o ensino de segundo grau, Luciano Correia ingressou na Universidade Federal de Sergipe como aluno de Engenharia Química. Cursou o primeiro e o segundo anos, mas prestou um novo concurso vestibular e foi aprovado como estudante do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, o da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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