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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XLVI

                                               Thaís Bezerra

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O jornalista Paulo Roberto Dantas Brandão que dirigiu a Gazeta de Sergipe no final do século XX e início do século XXI critica nos jornalistas que fazem coluna social a prática de se fechar em pequenos grupos que se transformam em notícia frequente. Segundo ele, quando os jornalistas se libertam do gueto e conseguem fazer um colunismo que se abre mais aos interesses amplos da sociedade, a coluna social ganha importância.

Sob tal perspectiva, a coluna social é um espaço de interesse coletivo. “Me surpreendeu no início da minha prática de jornalista como a vaidade das pessoas valoriza essa atividade. As pessoas vibram quando sai o nome delas ou uma foto na coluna social. No suplemento Gazetinha as famílias faziam festa quando a foto de uma filha era publicada na capa”.

Todavia, mais importante que tudo isto, é um aspecto do colunismo social para o qual Paulo Roberto Dantas Brandão chama a atenção com muita veemência. Vê a coluna social como um registro dos costumes, dos hábitos de uma determinada época, dos modos de comer, de se relacionar, de se vestir, de organizar festas, de chorar os mortos, de namorar, de casar, de se divertir, a linguagem, as gírias. É uma fonte importante para estudar a história.

Paulo indica que há modelos de coluna social que contribuem muito para com as práticas do bom jornalismo. “Eu gostava muito e tentei buscar de alguma forma o estilo de Zózimo Barroso do Amaral, do Jornal do Brasil. Era sempre uma bússola. Zózimo tinha um estilo de coluna e inaugurou um estilo que informava tudo com muita leveza”.

O estilo de colunismo que era praticado por Zózimo Barroso do Amaral tem hoje na coluna do jornalista Ancelmo Gois a sua principal herança. Essa prática de dar notícias e registrar os costumes continua forte no trabalho de Ancelmo. Paulo Brando insiste na importância desses registros.

Para fortalecer sua argumentação, ele exemplifica com um seu trabalho recente. “Eu estava fazendo uma pesquisa sobre a questão dos minérios. Peguei as coleções de jornais da década de 1970. Numa coluna social de Lânia Duarte eu descobri uma foto de Marina, minha cunhada. A legenda: ‘onde estará Marina? Uma legítima representante da geração pão com cocada’. É o registro de uma época”.

Consciente, Paulo Brandão assinala que esses registros tratam da vida de um grupo da elite social. Mas, revelam práticas que ficariam perdidas caso a coluna social não fizesse essas anotações, mas é um bom registro. Nas colunas sociais é possível recuperar fotos de práticas da vida quotidiana da década de 70 do século XX, como o cabelo black-power e a calça boca-de-sino que foram moda entre os homens.

Esses registros fazem da coluna social um misto de jornalismo e negócio que muitas vezes não fica bem explicitado para os leitores e muito menos para o jornal como empresa. De acordo com Paulo Brandão, era frequente o colunista social fazer negócios paralelos com a coluna, sem que o jornal tivesse conhecimento.

Segundo ele, os colunistas consideravam que a coluna lhes dava um poder que permitia a concretização desse tipo de negócio. “Eu costumava dizer aos colunistas que se sentiam muito importantes que importante era o jornal. Você tem importância enquanto está no jornal. Se você perder o jornal, você perde a importância. Isso era duro de o pessoal entender”.

É normal a venda de espaços publicitários e promocionais, a realização de negócios de merchandising nos veículos de comunicação. Mas, este é um negócio a ser realizado pelas empresas com a remuneração e o pagamento de comissões àqueles jornalistas que vendem os espaços. Há regras para tal atividade.

Jornalismo, além de ser informação, é também um negócio. Segundo Paulo Brandão, “quem não fez o jornal como negócio, como a gente não fez, infelizmente quebrou o jornal. Você tem que saber dosar as questões. Agora, muitas vezes os jornalistas são deslumbrados e não sabem em grande parte dosar essa questão”.

Os jornais sempre necessitaram de publicitários, de homens de marketing, de homens de venda, mas este não é o papel primordial do jornalista, do bom jornalista. A tarefa do jornalismo é de publicar informação e também a de fazer análises. Ser bem informado, ter boas fontes, bons contatos é essencial à atividade do jornalista.

Nas análises feitas por Paulo Brandão durante a entrevista concedida ao autor deste texto, Thaís Bezerra, na mídia sergipana, se transformou na colunista social mais importante de Sergipe. É o nome de maior representatividade. Ele, cita também o nome de Lânia Duarte como exemplo de colunista social que é uma boa jornalista.

De acordo com Paulo Brandão, nas redações dos jornais há preconceitos contra a coluna social. “Há uma certa gradação de importância do jornalismo. Quem escreve sobre política e sobre economia é sempre mais importante do que quem escreve sobre coluna social. Lá embaixo na escala fica o pessoal de polícia. Esporte, com raras e honrosas exceções, são jornalistas que escrevem mal. Hoje tem melhorado muito”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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