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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XLVIII

                                                         Fernando Sávio

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O jornalista Paulo Roberto Dantas Brandão, que durante alguns anos dirigiu o jornal Gazeta de Sergipe, disse em entrevista que concedeu ao autor do presente texto considerar normal que os responsáveis por colunas fixas, inclusive colunistas sociais recebam colaboração de outros jornalistas e de pessoas diversas que lhes fornecem informações.

No caso da coluna social, cita o período em que a jornalista Thaís Bezerra atuou na Gazeta, afirmando que ela recebia colaboração de pessoas que a ajudavam a escrever algumas seções da coluna. Fez referência direta ao nome do jornalista Fernando Sávio como importante colaborador de Thaís.

Todavia, afirma que não há nada de estranho nisto. E cita os influentes jornalistas brasileiros já falecidos Ricardo Boechat e Zózimo Barrozo do Amaral que começaram profissionalmente com o colunista social Ibrahim Sued. “O Zózimo tinha uma equipe que trabalhava com ele. Eu trabalhei com Luiz Daniel Baronto na Federação das Indústrias e ele preparava algumas notas” para colunistas sociais sergipanos.

Paulo Brandão cita o seu próprio exemplo durante o período em que foi editor da coluna Informe GS. “Eu tinha um repórter do Informe GS que era Zé Brasil. Zé Brasil era o cão para trazer informação e as vezes informações relevantes, mas Zé Brasil não sabia escrever. As vezes ele botava lá: ‘Paulo, leia tudo porque o começo pode estar no fim e o fim pode estar no começo’”.

Segundo Paulo, de muitas laudas escritas por Brasil, ele sempre conseguia garimpar três ou quatro notas que eram informações relevantes para o Informe GS. “Isto deveria ser praxe. Você fazer uma coluna semanal para uma revista até dá pra fazer sozinho, mas uma coluna diária é fogo. Para todo dia você ter boas informações é difícil”

Paulo comunga com o ponto de vista segundo o qual muitos desses informantes eram fotógrafos, organizadores de festas, dirigentes de clubes sociais, corroborando com a ideia de que a vida, as festas, os diversos eventos esportivos e de outra natureza nos clubes de elite foram muito importantes como lócus que servia de manancial informativo para os colunistas sociais.

Revela que observou isto, a partir do próprio ambiente familiar no qual foi educado. “Lá em casa a gente era sócio do Iate e da Atlética. Meu pai tinha títulos do Iate e da Atlética. Quando eu fiquei maior meu pai me deu um título do Iate. Ele já tinha comprado três, um para cada filho”.

Nas observações feitas por Paulo Brandão sobre o tema, é possível perceber que os clubes sociais perderam a importância que tiveram no passado e ele próprio confessa não lembrar a última vez em que esteve no Iate Clube de Aracaju. E cita o fato de a Associação Atlética de Sergipe haver sido destruída em seu quadro de sócios e também fisicamente, posto que as instalações físicas do clube foram demolidas.

E assinala que os clubes sociais não são mais os espaços nos quais a elite organiza as suas grandes festas, os seus grandes eventos. “Você não tem mais nos clubes festas de réveillon. Você não tem mais um carnaval num clube. A última vez em que eu estive foi num almoço grande do dia dos pais. Tem cerca de quatro anos. Você não tem mais onde reunir grandes contingentes de socialites e isto, de fato, dificulta”.

Paulo Brandão encara com naturalidade estas mudanças sociais, as alterações nos hábitos das pessoas, das suas famílias. Além disto, chama a atenção para o fato de estarmos vivendo a era das comunicações instantâneas propiciadas pela rede mundial de computadores, pelos smartphones, pelos serviços da rede internet, que se tornaram acessíveis a todas as pessoas.

No seu entendimento, cada vez mais as pessoas necessitam menos de um profissional que faça o papel de intermediário entre a sua vaidade e o grande público, tal como eram no passado os colunistas sociais. “Hoje você coloca no Instagram a foto dizendo que estava não sei onde.  Hoje você está almoçando com os amigos e posta a foto lá no Facebook, no Instagram”.

Tudo isto reduziu o papel que tinha o jornalista da coluna social como intermediário das informações a respeito da vida glamourosa dos grupos de elite. Na verdade, as pessoas verificam quem faz festa, quem é chic, quem viaja, quem se veste com grifes claras e elegantes pelo Facebook e pelo Instagram.

Por tudo isto, Paulo Brandão entende que as mídias da internet passam a cumprir cada vez mais o papel que outrora era das colunas sociais. “Fulaninha fez aniversário e imediatamente todo mundo publica as suas 500 fotos que ela tirou por lá. A mídia impressa, principalmente, precisa se reinventar”.

Todo este contexto faz com que várias pessoas considerem que a mídia impressa, no sentido do jornal, do papel, está morta. Muitos que eram leitores habituais e assinantes de jornais e revistas, certamente pararam de comprar esse tipo de produto. Não sujam mais as mãos de tinta.

 

 

*Jornalista, professor, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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