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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XXXIX

                                             Clara Angélica
  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A expansão das diferentes plataformas de internet impôs aos jornais impressos a necessidade de adaptação a novos suportes, novas linguagens e a distintos mecanismos de financiamento e de acesso ao público leitor. Os jornais que não conseguiram se adaptar a nova realidade viram declinar a sua tiragem e fatalmente fecharam as portas, encerrando as suas atividades de modo melancólico.

O jornalista Ancelmo Gois aponta que o melhor exemplo de adaptação da mídia impressa aos novos suportes foi o processo vivido pelo gigante norte-americano New York Times. “É um sucesso. É o jornal do mundo que fez essa transição para a internet de maneira rentável”. Todavia, o próprio Ancelmo adverte que só há um New York Times.

A tendência tem sido a do encerramento das atividades de grandes jornais e revistas ao redor do mundo. Os jornais regionais norte-americanos como o Los Angeles Time, na Califórnia, o Chicago Tribune, em Chicago, o Miami Herald, na Flórida, são periódicos que estão enfrentando profundas dificuldades para continuar funcionando.

De acordo com a explicação produzida por Ancelmo Gois, antes do advento da internet quando um morador da Flórida queria saber as coisas que estavam acontecendo “não ia comprar o New York Times porque o jornal para chegar ali dependia de um avião que transportasse o impresso em papel até lá. Agora tem o New York Tmes on line. E o que você precisa saber de notícia local, principalmente esporte e temperatura, a internet dá”.

Atualmente, quando um morador da cidade do Rio de Janeiro necessita saber se o Aeroporto Santos Dumont está aberto para pousos e decolagens; quando precisa descobrir qualquer telefone celular conectado a uma plataforma de GPS informa as vias públicas que estão congestionadas e sugere rotas alternativas. Não há mais necessidade de comprar um jornal para saber disto. Os jornais locais, os jornais regionais, estão morrendo.

Para muitos analistas, sobreviverão nos vários países, poucos grandes jornais que tendem a dominar os espaços de informação da internet. Jornais como o New York Times, nos Estados Unidos da América; um ou dois grandes jornais na Inglaterra; a Folha de São Paulo, o Globo e O Estado de São Paulo, no Brasil. Os empresários de comunicação atuantes em Estados com reduzidos contingentes populacionais como Sergipe terão muita dificuldade para manter a mídia impressa funcionando.

Sergipe sempre foi um Estado que proporcionalmente a outras unidades da federação brasileiras sempre teve poucos jornais em circulação. Mesmo no auge da mídia impressa no Brasil, poucos eram os jornais que conseguiam fidelizar leitores e manter uma tiragem significativa. Na década de 60 do século XX, quando trabalhou na mídia impressa sergipana, Ancelmo Gois afirma que indiscutivelmente o jornal mais importante era a Gazeta de Sergipe. Mas, diz também do importante papel desempenhado pelo Diário de Aracaju, jornal ligado ao grupo dos Diários Associados., fundado pelo jornalista Assis Chateubriand.

Especificamente quanto ao Diário de Aracaju, Ancelmo Gois sublinha a importância que tinham à época jovens e influentes jornalistas, como Luiz Eduardo Costa. “Eu nunca trabalhei diretamente com Luiz Eduardo, mas ele sempre foi um jornalista muito qualificado”.

Além do Diário de Aracaju, Ancelmo chama a atenção, na década de 50 do século XX, para a importância que tinham em Aracaju o Sergipe Jornal e A Cruzada e, até o final do século XX, a influência que continuaram a exercer jornais de municípios do interior sergipano como a Folha Trabalhista e A Estância, na região sul, além do jornal A Defesa, em Propriá, no norte do Estado de Sergipe.

Na mídia sergipana da década de 60 do século XX, Ancelmo entende que a jornalista Clara Angélica Porto exercia um papel importante como colunista social. “Ela fazia um grande sucesso. Era a musa da redação da Gazeta de Sergipe. Era linda de morrer. Era modelo de beleza e eu era apaixonado por ela. Ela fazia a coluna social, mas foi embora de Sergipe” em 1969, quando casou com um professor norte-americano.

Clara Angélica viveu durante muitos anos em diferentes cidades da América do Norte e em New York atuou como uma das organizadoras do Brazilian Day, a festa que ocorre anualmente nos Estados Unidos para celebrar a data da independência do Brasil e a cultura brasileira.

A festa acontece na rua 43, a região da cidade que concentra a comunidade de novaiorquinos originários do Brasil. O evento é muito grande e durante vários anos Clara esteve na linha de frente, organizando a festa. Depois, voltou a viver em Aracaju, atuando novamente como jornalista e trabalhando na administração pública estadual.

Na segunda metade da década de 80 do século XX, Clara Angélica foi Subsecretária de Cultura do Estado, no período em que o cargo de Secretário de Estado da Cultura foi exercido pelo jornalista Joel Silveira. Clara também foi editora do jornal O Que e apresentadora da edição local do TV Mulher, na TV Sergipe. Toda a sua trajetória faz de Clara Angélica um nome muito importante na história do jornalismo sergipano.

Ao avaliar o trabalho de Clara como colunista social, Ancelmo Gois afirma que “a sua coluna social não se distanciava da coluna social que o mundo inteiro fazia. Ela atuava com muita competência. A qualidade da coluna era muito boa. O que ela fazia era o que se fazia em todos os lugares”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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