Jorge
Carvalho do Nascimento*
Ancelmo
Gois relata que ao assumir a coluna do jornal O Globo, em 2001, ouviu do
jornalista Ricardo Boechat a mais importante das observações a respeito de
coluna social. “As colunas sociais no Brasil estavam vivendo um processo de
grande transformação”. Até os anos 80 do século XX, as colunas sociais eram predominantemente
“uma coisa de badalação de bacanas, de ricos, socialites”.
Este
não era um fenômeno apenas brasileiro. Era assim também o modelo de coluna
social nos Estados Unidos da América, na Europa e em outros lugares. De acordo
com Ancelmo, isto era muito forte no jornalismo. “Se você pegasse o jornalismo
em Sergipe naquele tempo, todas as emissoras de rádio ficavam assim: está
completando mais uma espiga de milho no espigal da sua vida a robusta garotinha
Maria Fernandes, de Carira. A menina tinha 10 anos ou era a festa de 15 anos”.
Esse
tipo de colunismo vinha mudando muito no Brasil. E tais mudanças eram de
difícil entendimento em outros países. Tais mudanças, exclusivas do jornalismo
brasileiro, são devidas a jornalistas como Ibrahim Sued e Zózimo Barroso do
Amaral, dentre outros. Foram eles que modificaram as colunas sociais à moda
antiga e deram a elas a característica de colunas de notas.
Segundo
Ancelmo Gois, no jornal O Globo, por exemplo, “muitas vezes os norte-americanos
não entendiam isso. Eles diziam: como é que vocês de O Globo fazem um jornal e
a informação mais importante do jornal não está em sua vitrine, que é a
primeira página? Não está em letras garrafais, mas está numa nota do Boechat de
quatro linhas”.
Os
críticos estrangeiros viam essa característica do jornalismo brasileiro como
uma espécie de esquizofrenia da informação. Ancelmo reafirma o estranhamento
que causava tal prática. “Se é um grande furo, deveria estar na primeira página”.
Todavia, Ricardo Boechat ganhou vários prêmios Esso de Jornalismo. “Denunciou uma
concorrência para comprar fardas do Exército que tinha propina. Ele ganhou
prêmio também porque descobriu que tinha um general na Petrobrás que estava
roubando”.
Todos
estes fatos chamavam a atenção de jornalistas norte-americanos que manifestavam
dificuldade em entender o jornalismo brasileiro, de acordo com a narrativa de
Ancelmo Gois. “Como é que a melhor notícia do jornal não está nas letras maiores
e na vitrine? O que é a primeira página? A primeira página é um convite: entre
aqui dentro que tem essas coisas”.
Inaceitável
àqueles críticos que a melhor notícia do jornal ao invés de aparecer na
primeira página fosse uma nota na coluna de Zózimo Barroso do Amaral. Zózimo,
num determinado momento noticiou que Olavo Monteiro de Carvalho, o sócio
brasileiro da Volkswagen, estava vendendo os 20 por cento das ações do Grupo
Monteiro Aranha na Volkswagen do Brasil para um grupo do Kuwait. O entendimento
dos norte-americanos era o de que esta deveria ter sido a manchete do Jornal do
Brasil naquele dia.
Zózimo
Barroso do Amaral e Ibrahim Sued criaram um novo modelo de colunismo social
para o Brasil. Outra vez, Ancelmo Gois esclarece. “Não era mais aquele negócio
de Carmen Mayrink Veiga. Eles foram mudando isso e o mérito é deles. Quando eu
cheguei no O Globo, o Boechat disse assim para mim: ‘Olha Ancelmo, as colunas
ainda têm muitos problemas’”.
Aquela
advertência do jornalista Ricardo Boechat era em resposta a um questionamento de
Ancelmo Gois. “Como é que você faz uma coluna com tanta nota de economia
importante, tanto furo político e as fotos que aparecem são de socialite? Eu, antes
de assumir, fui para a pesquisa de O Globo e fiquei dois dias lá dentro da
pesquisa, olhando as colunas”.
Ancelmo
descobriu nas suas pesquisas que no anterior Ricardo Boechat publicara 120
vezes a foto da embaixatriz Glorinha Paranaguá. De acordo com Ancelmo Gois,
Boechat atribuiu as fotos ao entendimento do jornalista Evandro Carlos de
Andrade, diretor de O Globo, que considerava serem as fotos de socialites um
atrativo para muitos leitores.
Ancelmo
concorda com o entendimento de Evandro, dizendo que olhar o sucesso dos outros,
através das fotos é o que garante a venda de publicações como a revista Caras.
Ele diz ter conseguido tirar da coluna esse tipo de foto. “Começamos a botar
fotos de negros e de pessoas do povo, mas eles é que tiveram o mérito de
mudarem a característica antiga da coluna social, que ainda existe por aí em muitos
jornais pequenos”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Eu vivi uma parte deste colunismo, dele fui fã. Moldou uma parte de meu caráter. Garoto, lia ainda o Arthur da Tavola (O Globo, aos domingos), o Hélio Sabino (Jornal do Brasil) , Nelson Rodrigues (O Dia) ..., mas, gostava muito era do Sued, de quem parafraseio esta saudação: "ademan que vou em frente, porque cavalo não sobe escada e os cães ladram e a caravana passa!"
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