Jorge
Carvalho do Nascimento*
Para
o jornalista Ancelmo Gois, o seu colega Marcos Sá Corrêa é um gênio do
jornalismo. Foi ele o primeiro a discutir com Ancelmo os problemas envolvendo a
relação entre a mídia impressa e a mídia digital. “Ele me mostrou um artigo de
um jornal americano que dizia que o último jornal impresso em papel iria circular
no verão de 2035, na Califórnia. Efetivamente, na cultura norte-americana é
muito importante esse tipo de especulação.
Ancelmo
considera que esse tipo de informação não é fundamental. “Embora eu seja um dos
pioneiros do on-line, eu sou um dinossauro. Eu sou um homem do papel. Eu entendo,
sei da importância, mas é difícil. A minha coluna em papel, o jornal gostaria
que eu fosse colocando as notas durante o dia, mas eu coloco tudo numa hora só.
Eu sou um dinossauro ainda, mas eu entendo. Eu entendo que o mundo digital
chegou pra ficar, ele é vencedor, ele é arrasador, mas eu tenho muito medo
ainda. Quem achar que sabe como será esse mundo digital é um cara mal informado”.
Apesar deste entendimento, Ancelmo admite que o mundo digital está
transformando a vida. “Eu sou um velhinho. Tenho 72 anos”.
Para
Ancelmo Gois, todo este debate tem uma importância muito grande para a
compreensão acerca do que é jornalismo e das suas transformações no mundo
contemporâneo. “Eu gosto de uma música do Xangô da Mangueira que diz assim:
“Eu
moro na roça Iaiá
Eu
nunca morei na cidade
Eu
compro jornal da manhã
É
pra saber das novidades
Minha
gente cheguei agora
Minha
gente cheguei com Deus
E
com Nossa Senhora,
Eu
moro na roça
Xique
Xique Macambira
Filho
de Preto d’Angola
Inda
bem não sabe lert
Já
quer ser mestre escola,
Eu
moro na roça
Era
tu e era ela
Era
ela era tu e eu
Hoje
nem tu nem ela
Nem
elanem tu nem eu,
Eu
moro na roça
Menino
quem foi teu mestre
Meu
mestre foi Ceará
Me
ensinou a cantar samba
Me
ensinou a trabalhar,
Eu
moro na roça
Todo
dia passa lá em casa
É
a minha comadre Letícia
Ela
me levou o Gongo,
Última
Hora,
O
Diário de Notícias,
Eu
moro na roça
Moro
na roça Iaiá
Nunca
morei na cidade
Compro
jornal da manhã
Pra
saber das novidades...”.
Ancelmo
considera que o jornal é movido pela ideia de entregar novidades às pessoas.
Coisas que a pessoa está no trabalho e alguém vai na rua saber o que está
acontecendo e conta para ela. “Hoje em dia, o jornalismo foi ocupado por essa
invasão bárbara da internet. Todo mundo virou um jornalista. O jornalismo
profissional tem o papel novo de fazer uma curadoria, ser o curador. Uma coisa
é você pegar a internet e outra coisa é fazer jornalismo.”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente
da Academia Sergipana de Educação.
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