Jorge
Carvalho do Nascimento*
“Eu
sempre desconfiei que o mundo está cheio de idiotas. A internet veio provar que
eu tinha razão”. O jornalista Ancelmo Gois cita a frase do seu colega Carlos
Heitor Cony para afirmar que a rede mundial de computadores divulga todo tipo
de informação e que cabe à imprensa profissional fazer uma curadoria, ser o
curador.
Ancelmo
entende que é possível publicar nas diferentes plataformas da internet absurdos
de todo tipo. Todo tipo de coisa é divulgada e circula. “Você precisa de uma
curadoria e este é o papel do jornalista. Quando morreu Michael Jackson, a
internet na Califórnia estava se expandindo e o primeiro a noticiar foi um blog
de fofocas que já tinha matado Michael Jackson três vezes. As pessoas só
passaram a acreditar que Michael Jackson morreu quando o site do Los Angeles
Time disse que Michael Jackson morreu”.
Sob
a interpretação de Ancelmo, quando uma empresa como o Los Angeles Time informa
que Michael Jackson morreu, a credibilidade daquela informação é abonada por
uma tradição de 70 anos de jornalismo. As pessoas passam, por isto, a acreditar
que é verdade. Este, para ele, é o papel do jornalismo profissional.
Para
dar força ao seu argumento, Ancelmo Gois acresce um outro exemplo. “Se você
disser Albano vai vender uma fábrica, se disser isto na internet, é uma coisa.
Mas, se a jornalista Miriam Leitão disser Albano vai vender uma fábrica, as
pessoas acreditam, porque ela faz a curadoria dessa informação. Há uma overdose
de informação”.
Por
tudo isto, em nosso tempo, saber das novidades, apurar as novidades melhor do
que os outros, é o papel do jornalista profissional, porque ele é formado com
algumas habilidades que lhes permitem saber o que é informação melhor ou pior,
mais relevante ou menos importante.
De
acordo com Ancelmo Gois, isto não quer dizer que o jornalista é infalível. “A
gente erra. Se for para discutir como erra, a gente vai discutir durante umas
cinco horas. De um modo geral, a gente aprende algumas dicas, aprende a
conhecer as fontes. Por exemplo: uma das grandes fontes do Brasil foi o Antônio
Carlos Magalhães. Todo mundo fala, mas ele era uma fonte confiabilíssima. O que
ele dissesse pra você era informação segura, verdadeira. Não precisava checar
muito. Ele não colocava jornalista em fria”.
Aprender
as práticas de apurar informação é um exercício diário dos jornalistas
profissionais. Os que atuam nos grandes veículos da mídia aprendem que não devem
colocar notícias de bancos em dificuldade, sem antes checar muitas vezes. Esse
tipo de noticiar sobre bancos em dificuldades antes de checar muitas vezes a
informação. Esse tipo de notícia provoca uma corrida aos bancos e um frenesi na
economia, inquietando toda a população. Por isto é necessário que o jornalista
se certifique absolutamente da sua veracidade.
Para
Ancelmo Gois, o desenvolvimento dessas habilidades é permanente para todos os
jornalistas. “A gente vai aprendendo na escola esses mecanismos de apuração
mais sofisticados e vai fazendo também uma curadoria. Eu acredito que apesar de
grandes vitórias, a profissão atravessa uma crise brutal”.
Para
dar um exemplo didático do modo como ele vê a crise do jornalismo, Ancelmo Gois
cita a biografia do jornalista Samuel Weiner, publicada em livro, fazendo
referência ao fato de a cidade do Rio de Janeiro ter vivido um momento no qual
circulavam diariamente 13 jornais.
Atualmente,
é muita pequena a circulação de jornais no Rio de Janeiro e nas demais cidades
brasileiras. Todavia, Ancelmo Gois acredita na importância do papel da mídia
impressa. “A sociedade não vai deixar morrer esse trabalho, agora está difícil.
Você pega o jornal O Dia, é um jornal que já teve mais de um milhão de
exemplares. Hoje tem 20 mil exemplares”.
O
entendimento de Ancelmo para explicar a queda na tiragem dos jornais remete ao
papel social atualmente exercido pela internet. Até a popularização da rede
mundial de computadores um leitor comum comprava jornal para saber notícias do
time de futebol pelo qual ele torce. Contemporaneamente, ele acessa o site do
clube dele na rede ou alguma plataforma especializada em esportes e tem informações
mais abundantes e atualizadas do que aquilo que qualquer jornal pode oferecer.
De
acordo com Ancelmo Gois, além do futebol, são vários elementos da vida
cotidiana que anteriormente as pessoas buscavam nos jornais e agora recebem
informações mais atualizadas pela internet. “Temperatura: os jornais todos
tinham grandes mapas dando informação sobre o tempo”. Melhor se informar pela
internet.
Todavia,
há um outro lado dessa questão que remete a leitores que buscam análises
confiáveis. E os jornalistas mais importantes ainda continuam escrevendo para
os jornais, em suas edições impressa e eletrônica. Nomes de grandes analistas como
Dorrit Harazim, Élio Gáspari, Miriam Leitão continuam a ser indispensáveis.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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