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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? – LI

 

                                              Carlos Magalhães

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A primeira grande boate a reunir os jovens filhos da elite em Aracaju foi a boate Segredo, da Associação Atlética de Sergipe. Muitos anos depois da boate Segredo foi inaugurada a boate Veleiro, do Iate Clube de Aracaju. Posteriormente, no espaço do Cotinguiba Esporte Clube, foi instalada a boate Oxente.

Nas décadas de 60 e 70 do século XX foram estes os principais pontos de reunião dos jovens filhos das famílias mais ricas em Aracaju e também points nos quais os colunistas sociais tinham sempre a certeza de buscar informações que seriam transformadas em notas para publicação em suas colunas.

A boate Oxente começou a funcionar na metade dos anos 70 e a boate Segredo, na Associação Atlética, foi fechada quando o clube instalou a boate Catavento. O jornalista Raymundo Luiz era diretor do Cotinguiba Esporte Clube e autorizou a instalação da boate Oxente, liderada por Alfredinho, à época um importante empresário da noite.

A boate Oxente aproveitou o espaço físico que anteriormente o clube utilizava para guardar as embarcações dos seus atletas que se dedicavam a competições de regata. Uma reforma nas instalações liberou a área necessária à instalação da casa noturna. A boate Oxente era frequentada inicialmente por grupos das camadas médias da sociedade aracajuana, principalmente filhos de servidores públicos e de pequenos comerciantes que não encontravam ambiente acessível na Associação Atlética de Sergipe e no Iate Clube de Aracaju.

O jornalista José Anderson Nascimento, colunista no jornal Gazeta de Sergipe durante a primeira metade da década de 60 do século passado, chama a atenção para o ambiente elitizado criado pelos fundadores do Iate. Todos, anteriormente, eram filiados a Associação Atlética, mas se sentiram incomodados, principalmente depois que o clube fez uma campanha de filiação em massa, permitindo o ingresso de novos ricos cujas famílias não tinha enraizamento nas tradições dos grupos de elite dominantes.

 De acordo com Anderson, os primeiros organizadores do Iate Clube de Aracaju foram membros dos grupos de elite economicamente mais poderosos que se dedicavam aos esportes náuticos. Como ele afirma, “a elite do barco, a elite das águas. Inicialmente um clube dedicado a atividades náuticas, o Iate demorou a perceber a sua vocação de clube social”.

Nos primeiros anos, as atividades do Iate Clube se restringiam principalmente aos adeptos da vela, os velejadores. Diz Anderson que como clube social, “o Iate foi aberto pelo empresário Tenysson Freire, quando foi comodoro. O Iate era um clube pequeno, com sede social pequena. Ele construiu o grande salão do clube, depois outros construíram a piscina”.

Bem antes do Iate Clube, a Associação Atlética possuía toda essa estrutura. Inconformados com a ocupação dos espaços da Atlética por grupos menos elitizados, os dirigentes do Iate abriram para subscrição pública os títulos de sócio proprietário do clube, com preços muito elevados, somente acessíveis aos muito ricos da sociedade aracajuana. Além disto, mesmo dispondo de recursos financeiros para aquisição dos títulos, nem todos os pretendentes eram aceitos pelo clube.

Anderson Nascimento afirma que foi a campanha de subscrição de títulos que permitiu à diretoria do Iate fazer os investimentos necessários à transformação do clube. “O Iate era menor, tinha um espaço pequeno, apenas o salão onde atualmente se joga sinuca. Além disto, uma varanda que viria a ser posteriormente o restaurante Convés”.

Foi a ampliação que permitiu transformar o clube em um espaço atraente para as festas da alta sociedade. Os grupos mais ricos da elite não se desfiliaram da Associação Atlética de Sergipe, mas passaram a frequentar predominantemente o espaço do Iate Clube de Aracaju.

A Associação Atlética de Sergipe sempre foi um clube voltado a esportes de salão e também aos banhos de piscina. No mesmo período em que o Iate estava se afirmando, a Atlética foi presidida pelo jornalista Carlos Magalhães. Ele ampliou ainda mais os espaços para a prática de esportes considerados de elite, como o das quadras de tênis, a fim de manter os grupos que gostavam desse esporte frequentando o clube.

Sob a sua presidência, a Associação Atlética fez também uma ampla campanha de venda de títulos patrimoniais que possibilitaram a construção de um completo parque aquático, com piscina semiolímpica e caixa e plataforma destinados à prática dos saltos ornamentais.

Desta forma, a Associação Atlética de Sergipe se transformou em um espaço no qual eram realizadas grandes competições esportivas nacionais de natação e saltos ornamentais. Depois de Carlos Magalhães, outros administradores também fizeram importantes investimentos na infraestrutura do clube, como Clodoaldo de Alencar Filho, que construiu o restaurante e boate Catavento e convidou o artista plástico Leonardo Alencar para instalar painéis com temas da cultura popular que decoravam o espaço.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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