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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - LIII

                                                             Leandro Maciel

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Alguns jovens filhos de famílias da pequena burguesia costumavam usar diversos estratagemas para ter acesso aos espaços da elite, onde não eram bem vistos pelos pais e mães das famílias mais ricas. Eram jovens que aspiravam participar do mundo glamouroso dos ricos, mas a renda e a ausência de tradições familiares não permitiam.

As festas das famílias mais poderosas economicamente eram realizadas em seus próprios palacetes. Normalmente os colunistas sociais eram convidados naquele tipo de ambiente, a fim de noticiar o fausto dos mais poderosos. Todavia, para os jovens filhos da pequena burguesia, o acesso às festas em tais ocasiões ficava ainda mais difícil.

Segundo o jornalista Anderson Nascimento, “o foco dos colunistas estava nessas mansões, num momento em que na cidade de Aracaju ainda não existiam os salões de festas”. Foi assim predominantemente até o final da década de 80 do século XX. Cada vez era mais raro que as famílias endinheiradas levassem suas festas para os salões da já decadente Associação Atlética de Sergipe e do Iate Clube de Aracaju.

Anderson relata a dificuldade dos que não eram descendentes da alta burguesia para participar de tais eventos. “A turma que não era convidada ficava no sereno, esperando a oportunidade de driblar a segurança e entrar na festa. Algumas vezes, as meninas filhas da elite eram proibidas de convidar a molecada, alguns colegas de escola que não eram considerados bem nascidos”.

Havia preconceito das mães e dos pais para com alguns rapazes que namoravam suas filhas, exatamente em face da desigualdade econômica em relação as famílias das quais se originavam. Outra vez, Anderson esclarece a estratégia utilizada para que os rapazes tivessem a possibilidade de ingressar na festa.

Segundo ele, dentre várias formas, era comum que “desligassem a chave geral de energia elétrica da casa que ficava do lado de fora. Havia um apagão. Era o momento de entrada na festa para os que não foram convidados. Logo estavam ao redor da mesa de doces, comendo salgadinhos, bebendo e principalmente nas festas numerosas ficava difícil fazer a distinção. Todos saíam de suas casas vestidos com paletó e usando gravata, o traje da época para tais ocasiões”.

Naquele período, a praia já estava se consolidando como o grande local de encontro e de reuniões, o espaço de lazer preferido nos finais de semana. Até o início da década de 60 do século passado, a Praia Treze de Julho ou Praia Formosa, na foz do rio Sergipe era o balneário frequentado pelos aracajuanos.

A Atalaia ainda era uma praia de veraneio de difícil acesso e muito distante. Somente as famílias que tinham carro podiam ter acesso àquele balneário. A antiga estrada de acesso, não pavimentada, serpenteava do centro de Aracaju em direção ao bairro Grageru, tomando o rumo de uma pequena estrada na região onde atualmente está situado o Shopping Jardins. De lá, seguia em direção ao rio Poxim, onde havia uma ponte de madeira.

A ponte que fazia a travessia do rio Poxim era precária, chamada de ponte camelo, na região em que atualmente está edificada a sede da empresa distribuidora de energia elétrica em Sergipe, a Energisa. A região era cercada de manguezais e salinas. A partir da outra margem do rio, a estrada também era muito rudimentar e chegava até a região do chamado Palácio de Veraneio do Governo do Estado de Sergipe. A partir daquele ponto não havia mais como continuar de carro até a praia.

Daquele ponto até alcançar o oceano Atlântico as pessoas iam andando sobre as dunas de areia. Foi assim até o governador Leandro Maciel, durante a segunda metade da década de 50, tomar a decisão de construir a primeira estrada mais estruturada ligando a cidade de Aracaju a praia de Atalaia.

Juntamente com a obra da estrada Aracaju-Atalaia, o governador Leandro Maciel determinou também a edificação do chamado Balneário de Atalaia, na área em que atualmente funciona o restaurante McDonald’s. A partir de então, o acesso à Praia de Atalaia começou a se popularizar.

Os grupos da elite sergipana que frequentavam o Iate Clube de Aracaju vinham desde o início da década de 40 construindo cada vez mais casas de veraneio na região da Praia de Atalaia. Ainda eram poucas, mas já era uma tendência das pessoas que possuíam maior poder aquisitivo.

Eram casas simples, com paredes de taipa. Todavia, as famílias de elite acostumadas com o luxo das suas mansões em Aracaju se submetiam a condições rudimentares de moradia pelo prazer de veranear na praia. As casas eram construídas em torno de um antigo cassino que havia nas proximidades do chamado Palácio de Veraneio.

 

 

*Jornalista, Professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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