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O CULTURALISMO DE SÍLVIO ROMERO NA CELEBRAÇÃO DOS 170 ANOS DO SEU NASCIMENTO

                                                      Sílvio Romero

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

As primeiras sementes do Culturalismo foram plantadas na consciência de Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero ainda em 1863, antes dos seus 13 anos de idade, quando ele recebeu as primeiras lições de Filosofia do professor Joaquim Veríssimo no Atheneu Fluminense, na capital da Corte do Império.

Mudara para lá naquele mesmo ano, deixando para trás a vila de Lagarto, onde nasceu em 21 de abril de 1851. Ao longo da sua vida foi advogado, jornalista, crítico literário, ensaísta, poeta, historiador, filósofo, cientista político, sociólogo, escritor, professor e político. Assumiu definitivamente as teses do evolucionismo e do culturalismo alemão quando foi aluno da Faculdade de Direito do Recife.

Estas, exerceram uma grande influência que não tem sido considerada por boa parte dos estudos de História e Filosofia no Brasil. A expressão da cultura alemã durante o século XIX foi bem forte, principalmente nas Províncias da Bahia e Pernambuco. No final do século XIX o núcleo dinâmico da economia brasileira se deslocou do Nordeste em direção ao Rio de Janeiro e São Paulo, num processo que também beneficiou as economias de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

A política pernambucana ainda tinha grande prestígio na Corte, em função da força que acumulara ao longo de décadas de domínio, mas cada vez mais ganhava transparência o declínio da elite dirigente de Pernambuco. Havia no território daquela Província uma grande insatisfação de parte dos setores médios da sociedade, principalmente das camadas articuladas com o movimento da maçonaria e alguns estudantes e professores da prestigiada Faculdade de Direito do Recife.

Foi em tal espaço que se desenvolveu no Brasil, fortemente, o Culturalismo influenciado pelas ideias da Kultur alemã. O Culturalismo, no Brasil, carregou consigo a marca da construção da cultura autóctone. Os intelectuais da Escola do Recife pensaram a formação da cultura brasileira através da composição pluriétnica do povo.

No livro CULTURAS CRUZADAS, o pesquisador Mário Carelli afirmou que “As sínteses científicas de figuras intelectuais brasileiras de importância desigual, tais como Sílvio Romero, Alberto Sales ou Euclides da Cunha foram particularmente atentas à formação racial brasileira” (1994, p. 123).

Ao se consolidar na Escola do Recife, o Culturalismo agregou defensores do movimento republicano e críticos da monarquia à época, como Sílvio Romero e Tobias Barreto, dentre outros. Contudo, outras apropriações deste movimento também se fortaleceram posteriormente, como o culturalismo nacionalista.

Este, chegou em algumas situações a exageros chauvinistas, como no caso do catecismo patriótico do conde Affonso Celso. Ao publicar “Por que me ufano do meu país”, no ano de 1900, o conde cantou as virtudes do homem brasileiro e apresentou os índios como fundadores da grande nação, comparando-os a Rômulo e Remo, fundadores de Roma, e aos germânicos descritos por Tácito.

Além disto, fez a afirmação citada pelo mesmo Mário Carelli aqui referenciado, segundo a qual o mestiço “possui igualmente os nobres predicados do caráter nacional” (p. 172). Aliás, vale a pena registrar que durante o período da Grande Guerra o texto do conde Affonso Celso foi traduzido e publicado tanto na Itália, como na Alemanha e na França.

A alternativa de construção de um modelo modernizador para o Brasil, defendida por intelectuais como Sílvio Romero foi derrotada no embate da segunda metade do século XIX. Ele apresentava o tema da cultura como fundamentalmente esquecido.

Assim, Romero buscou chamar a atenção para a necessidade de manter a tensão quanto a questões que diziam respeito aos problemas da identidade e da formação de uma cultura brasileira. Ele possuía plena consciência dos rumos que o Brasil deveria tomar para ser moderno.

Todavia, não conseguiu fazer com que tal consciência resultasse necessariamente na direção política, pelas dificuldades que teve de empalmar o poder, ao lado do seu grupo. O pensamento de Romero interessa, dentre outras razões, por ser expressão de um tipo original de pensamento presente nos embates que ocorreram no Brasil do século XIX.

As ideias de Sílvio Romero constituíram o núcleo da chamada Escola do Recife, pari-passu ao conjunto de ideias propagadas por Tobias Barreto. Ambos são expressões do movimento que se consolidou na segunda metade do século XIX na Faculdade de Direito pernambucana.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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