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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? – LVII

                                                               Maria Franco

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A jornalista Maria Franco possui o entendimento de que na sociedade contemporânea, das comunicações instantâneas possibilitadas pela rede mundial de computadores, cada pessoa é o colunista social de si. Por isto, o jornalista que se dedica profissionalmente a coluna social deve ter agora um outro perfil, diferente daquilo que foram os colunistas que viveram o século XX.

“Hoje, todo mundo se autopromove, se auto divulga, seja a verdade ou não, seja uma invenção de você mesmo, seja você maquiando o que realmente você é. Todo mundo está fazendo isto. A gente que é colunista social tem que aprender a continuar influenciando as pessoas de uma outra forma, de uma forma menos direta”.

Afinal, sob o seu entendimento, o jornalista que faz coluna social tem liberdade, ele opina, é um jornalismo opinativo. O colunista social tem liberdade de opinar. Neste modelo de sociedade que temos agora, de acordo com Maria Franco, não há lugar para emergir uma nova geração de colunistas sociais.

“Os que já estão atuando, ocupam lugar no mercado, vão continuar exercendo este papel porque possuem uma credibilidade conquistada ao longo de muitos anos de trabalho. Não tem mais espaço para o surgimento de novos colunistas sociais. Quem já tem credibilidade ainda consegue influenciar. Vai ser muito difícil surgirem novos colunistas”.

Assim, Maria Franco vê os seus contemporâneos como sendo a última geração de jornalistas que se dedicam profissionalmente ao colunismo social. Considera que não há muito sentido no surgimento de novos colunistas e por isto entende que esta é uma atividade profissional em extinção.

 Ela própria nunca pensou em trabalhar como colunista social e muito menos na mídia impressa. “Minha história era imagem. Nunca acreditei que tivesse habilidade para escrever na mídia impressa. Me surpreendi com tudo o que eu fui capaz de fazer, com a trajetória da minha vida”.

Depois de 20 anos de Jornalismo, Maria Franco tem a sua trajetória profissional marcada pela atividade de colunista social, onde ocupa um importante espaço. É respeitada e admirada pelo seu trabalho de colunista, mesmo entendendo que atualmente a coluna social não tem a mesma importância que já teve no passado.

“A gente tem o papel de dar credibilidade ao que já se sabe, mostrar uma visão que ainda não se viu, glamourizar aquilo que passou despercebido e que o colunista tem competência e credibilidade para fazer. O papel da gente neste momento é este. De forma delicada, chamar a atenção e exaltar os fatos que são positivos para a sociedade”.

Como o colunismo social, sob a compreensão de Maria Franco todo o Jornalismo vive contemporaneamente uma forte crise. O Jornalismo está se reinventando porque anteriormente o jornalista tinha muita dificuldade para ir buscar a notícia. Atualmente, pouco importa onde o fato acontece. Em tempo real ele é filmado e imediatamente ganha o mundo através das plataformas de internet.

“Maria afirma haver “uma dificuldade tremenda de notícias quentes. É muito difícil trabalhar com o Jornalismo se não existir notícia quente, se for aquela noticia batida. É cansativo. Hoje, ninguém tem mais tempo a perder. Por isto que as notícias atualmente chegam rápido, com pouco conteúdo”.

Para ela, o novo papel do jornalista impõe distintos modos de adaptação a realidade do mundo contemporâneo. Impõe dar notícia de uma forma competente, séria. E também produzir artigos de fundo que ficam armazenados em blogs e podcasts para aqueles que estão interessados em se aprofundar a respeito de determinado acontecimento.

Diz Maria Franco que os bons jornalistas sempre terão espaço, mesmo neste novo mundo. “Os grandes profissionais, os bons profissionais, os que amam o que fazem, os que fazem com responsabilidade sempre terão espaço garantido, mesmo neste novo mundo. Os bons possuem credibilidade, criatividade, amor a profissão e se reinventam, buscando o novo. Em todas as profissões”.

Ela chama a atenção para o poder da inteligência artificial, a capacidade que adquiriram os robôs de executar tarefas inteligentes que eram exclusivamente humanas. Revela que o seu caderno VIDA VIP é produzido por uma equipe que se preocupa com este tipo de problema, buscando pautar as questões contemporâneas compatíveis com o perfil do seu leitor.

“Eu não me preocupo muito com essas coisas mais sérias de Política e Economia. Eu busco a leveza. Eu falo daquilo que eu entendo, das coisas que me são familiares. Falo da aspiração das pessoas, falo de comportamento, falo de cultura, falo de coisas simples e factuais, mas que ao mesmo tempo são muito importantes”.

 

 

*Jornalista, professor, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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