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VACHINADO


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Acordei cedo. Entrei no banheiro e saí bem lavado e enxaguado. Uma festa. Iria tomar a esperada primeira dose da vacina contra o Coronavirus. Meu estado de espírito experimentava uma sensação que estava arquivada de há muito em minha memória. Aquele mesmo gostinho que eu sentia aos sábados quando era criança e que me arrumava para ir à feira com a minha Vovó Petrina.

Me arrumei tentando parecer moderno e descolado, num estilo compatível com o ano de 2021. O meu estilo 2021, o mesmo de 2019, a última vez que fui a uma loja comprar calças e camisas. Passei o ano de 2020 e o primeiro trimestre de 2021 em bermudas, camiseta e sandálias havaianas (a boa e velha japonesa).

Tive o cuidado de fazer o cadastro prévio para o Drive Thru. Código nas mãos, tomei um susto com a fila de veículos que dava a volta no Parque da Sementeira e terminava em uma rua lateral, quase no cruzamento com a avenida Tancredo Neves. Ester desligou o motor, mas logo precisou aciona-lo novamente.

A fila andava rápido. Era super organizada, orientada pelos guardas municipais, pelos agentes da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito – SMTT e por funcionários da Secretaria Municipal de Saúde. Em menos de 30 minutos eu estava nos portões do Parque fazendo a verificação do cadastro.

Tudo muito organizado, prático e rápido. Não precisei colocar os pés fora do carro. Tudo com o máximo de higiene, uso de máscaras e segurança sanitária. As dúvidas iniciais e o susto com a fila de veículos se dissiparam rapidamente com o conforto e a segurança no atendimento. Aplausos ao prefeito Edvaldo Nogueira, ao coronel Luís Fernando Silveira de Almeida, secretário municipal de Defesa Social, e à secretária municipal de saúde, Waneska de Souza Barbosa.

Todos os profissionais de saúde que me atenderam foram extremamente gentis e demonstraram ser pessoas da maior qualificação e muito bem treinadas e dedicadas ao trabalho. O Brasil precisa se orgulhar desse fantástico serviço público que possui, o Sistema Único de Saúde – SUS.

Abriram o invólucro da seringa sob o meu olhar e exibiram tudo para que eu examinasse a caixa com as doses e os demais insumos. Encheram a seringa, acionaram o êmbolo, aplicaram toda a vacina, me mostraram a seringa vazia. Tive o cuidado de perguntar quando seria a próxima dose – dia 27 de abril. Tomei a Coronavac, aquela mesma que o presidente da República, Jair Bolsonaro, desqualificou em outubro de 2020, chamado de “vachina chinesa do João Dória”.

Ah! Ia esquecendo dele. Merece aplausos o governador do Estado de São Paulo, João Dória. Mesmo com toda a chacota e desqualificação que um presidente da República que não acredita na ciência tentou fazer. João Dória insistiu e colocou a expertise centenária do Instituto Butantan em ação. Atualmente, de cada 10 doses de vacina aplicadas nos braços dos cidadãos brasileiros, nove são produzidas em São Paulo por aquela instituição, graças a persistência política corajosa do governador João Dória.

Tivessem os brasileiros ficado apenas a mercê da chacota e do atabalhoado tratamento no qual senhor Bolsonaro investiu juntamente com o desastrado general Pazuello e o ensandecido chanceler Ernesto Araújo, a situação do país hoje seria ainda mais trágica.

Se até agora o Brasil vacinou menos de 10 por cento da sua população, não fosse a ação de João Dória neste momento menos de um por cento dos brasileiros estariam vacinados. A vacinação e a ação dos governadores e prefeitos que não embarcaram no discurso inconsequente de Jair Bolsonaro são a chama de esperança que mantém acesa a crença da cidadania para vencer o difícil momento que estamos atravessando.

Em respeito a memória dos mais de 330 mil brasileiros que perderam a vida por conta do vírus e antes que os mitomaníacos afirmem que eu exagero, vale a penas relembrar algumas frases do presidente da República. “Da China nós não compraremos” (outubro 2020); “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha” (novembro de 2020, quando a Anvisa suspendeu os testes do Instituto Butantan pela morte de um voluntário. Depois ficou claro que o voluntário cometera suicídio).

Mas, não foi apenas isto. No início da Pandemia, em março de 2020, Jair Bolsonaro fez um pronunciamento em rede nacional de TV dizendo que o Covid-19 não passava de uma gripezinha. Agora, estamos chegando aos 350 mil mortos. Na mesma semana, ele afirmou outra pérola: “Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil, há poucas semanas ou meses, e ele já tem anticorpos que ajudam a não proliferar isso daí” (26 de março de 2020).

Jair Bolsonaro sempre falou em tom peremptório contra a vacinação pela Coronavac: “Minha decisão é de não adquirir a referida vacina” (21 de outubro de 2020); “Eu não vou tomar vacina. E ponto final” (15 de dezembro de 2020). Chegou a insinuar efeitos colaterais absurdos: “Se você virar um jacaré, é problema de você” ((19 de dezembro de 2020). “A pandemia realmente está chegando ao fim. A pressa para a vacina não se justifica”. (19 de dezembro de 2020). Estamos chegando a 350 mil mortos. Temos esperança. Vamos vencer o Coronavirus, apesar de você, Jair Bolsonaro...

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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