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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - LVI

                                              Lara Aguiar

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A coluna social é um grande negócio empresarial, de acordo com o ponto de vista da jornalista Lara Aguiar. Segundo ela, esta é uma editoria que é predominante voltada a grandes negócios. “Quando você acompanha durante muito tempo um colunista, você sabe de quem ele fala mal e quem ele elogia.

Não interessa a ninguém, objetivamente, saber que fulano foi fazer uma viagem a Europa e voltou. Pode ter um ou outro curioso que queira saber. Se a personalidade for muito importante, até desperta a curiosidade do povo. Se noticia isso e se consegue patrocínio para isso”.

Lara Aguiar chama a atenção para o fato de que atualmente se reduziu muito a necessidade de ler jornal para ver esse tipo de curiosidade. Quem viaja e quer que todos saibam precisa cada vez menos ocupar os espaços dos jornais e os próprios colunistas sociais também possuem clareza quanto a isto.

Há um outro aspecto que também envolve o problema. A legislação brasileira quanto a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista foi flexibilizada. Atualmente não é necessário ser diplomado para exercer a profissão. Por isto, ficou mais fácil fazer o trabalho da coluna social que, anteriormente, era feito por jornalistas profissionais.

Lara entende que muitas pessoas descobriram no espaço da coluna social um caminho para fazer negócios e ganhar dinheiro, sem exercitar as boas práticas do Jornalismo. A jornalista chama a atenção para o fato de que a coluna social é um campo que possui procedimentos e regras que lhe são próprios e que o profissional de comunicação necessita conhecer.

Exemplifica com o seu próprio trabalho quando editora de um caderno que publicava páginas de coluna social. Fala das dificuldades que encontrou para aprender o ofício de colunista social. “É muito difícil no início. Eu não conseguia colocar a linguagem adequada. Muitas vezes usava uma linguagem formal, muito séria para fazer uma nota. Com o tempo eu vi que aquele estilo não dava, não combinava. Inclusive, a coluna era a página central do caderno, colorida.

Foi muito difícil, inicialmente, mas eu aprendi, me adaptei e fiz a coluna do meu modo. Eu queria fazer algo que ficasse agradável para quem iria ler e estava buscando uma coluna social, mas que eu também não me sentisse mal fazendo aquilo, não me sentisse fútil nem publicando mentiras. Eu não queria exagerar. Sempre estava buscando um caminho do meio”.

Lara Aguiar confessa que gostou muito da experiência de haver trabalhando com o gênero coluna social. Diz ter sido muito bom entender melhor o comportamento humano e o tamanho do ego das pessoas. Considera ter sido muito prazeroso o trabalho com a coluna social.

Além dessas questões, Lara coloca em relevo o aspecto econômico. “O meu trabalhou ajudou o jornal a vender mais espaços. Ajudando o jornal eu estava me ajudando profissionalmente a manter o caderno. Eu era frequentemente procurada por vários médicos e os encaminhava ao departamento comercial.

Além de encaminha-los ao departamento comercial, eu acenava para eles com a perspectiva de divulgar o trabalho deles na coluna social. Quando você fala que vai sair na coluna social com uma foto colorida, as pessoas se animam.

O jornal era publicado no domingo e na segunda-feira as pessoas me procuravam pedindo a edição em PDF. Recortavam e colocavam em seus grupos nas redes sociais. Você percebia claramente o ego inflado de quem apareceu na coluna e o ego ferido do concorrente que não apareceu”.

Considerando os vários campos nos quais trabalhou como jornalista, Lara Aguiar afirma que o Jornalismo a empurra para desafios constantes. Diz ser uma atividade profissional que não admite rotinas, não permite que um dia seja igual ao outro. Entende que muita coisa acontece ao mesmo tempo e o jornalista necessita compreender tudo o que acontece.

Para ela, o jornalista é um profissional treinado a estar sempre buscando informação, interpretando fatos. “No jornalismo não existe marasmo. Você está o tempo todo com novidades e tentando aprender algo novo. É um desafio bom, você aprende. Um dia você discute Economia e no outro dia discute planejamento urbano. O jornalista tem que aprender tudo rapidamente. Aprender a traduzir o que vê. O jornalismo me ajudou a vencer os meus medos, a enfrentar a minha timidez, a minha introspecção”.

Não obstante esse trabalho intenso, segundo Lara Aguiar, o jornalista nem sempre consegue uma remuneração digna. “Se você tiver três ou quatro empregos, sim, você consegue uma renda razoável. Contudo, não vai viver com dignidade. Você não vai ter saúde, não vai dormir direito, não vai acordar bem, não vai comer nos horários adequados e muito menos prestar atenção na comida que está comendo. Vai comer ouvindo uma gravação que fez de alguma entrevista e já fazendo anotações no computador. Você não vai fazer atividade física e não vai conseguir dar atenção a sua família. Vai ter uma vida social muito comprometida. Em resumo, não creio que exista dignidade no jornalismo”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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