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A LONGA ESPERA PELA TV SERGIPE


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Foi longa a espera dos dirigentes da Rádio Televisão de Sergipe S. A. até que o Ministério das Comunicações concedesse a autorização definitiva para que a TV Sergipe tivesse condições de operar comercialmente, com regularidade. Demorou até que os sergipanos assistissem a transmissão dos programas gerados em Aracaju e a retransmissão dos programas gerados no Rio de Janeiro e em São Paulo, com o mínimo de qualidade.

Mesmo tendo sido a empresa completamente constituída e registrada em 1967, foram quase quatro longos anos aguardando a autorização definitiva e a organização da equipe que iria operar as suas atividades. A luta envolveu não apenas os seus acionistas e dirigentes, mas também políticos locais que se dispuseram a colaborar tentando fazer com que o Ministério das Comunicações deferisse mais rapidamente o requerimento dos sergipanos.

Em dezembro de 1970, não obstante sucessivas promessas, todas frustradas, o governo federal ainda não havia autorizado a TV Sergipe a iniciar comercialmente as suas operações. Sequer a autorização para que a emissora entrasse no ar definitivamente em caráter experimental havia sido expedida.

Numa reunião de diretoria realizada no dia cinco de dezembro daquele ano, alguns diretores revelaram ter esperanças de que a autorização permitisse a emissora operar antes dos festejos natalinos de 1970. Foi necessário aguardar ainda quase um ano para a inauguração da emissora de TV.

Na reunião do dia cinco de dezembro, com a presença dos diretores Getúlio Dantas Passos, José Alves de Melo, Francisco Pimentel Franco, Augusto Santana e Paulo Vasconcelos, este último revelou que havia conversado com o então ministro das Comunicações, Higino Corseti.

O ministro assegurou a Paulo Vasconcelos que a concessão do canal de TV estava pronta, apenas aguardando o despacho do presidente da República para ser publicada no Diário Oficial da União. A notícia animou os sergipanos, mas em poucos dias, estes seriam novamente frustrados em suas pretensões com a ausência do ato autorizativo.

Aquela notícia fez com que os dirigentes da Rádio Televisão de Sergipe S. A. buscassem os diretores da empresa Maxwell, fabricante dos equipamentos em instalação, solicitando que tal processo fosse acelerado, de modo a evitar surpresas quando o Diário Oficial da União circulasse com o ato autorizativo.

Naquele momento era forte a crença dos dirigentes da Rádio Televisão de Sergipe S. A. de que a concessão estava mesmo prestes a ser publicada. O prefeito de Aracaju e o governador do Estado de Sergipe tinham feito gestões junto ao ministro Corseti buscando tal liberação.

Valdir Santos Brito, chefe do governo municipal de Aracaju, foi recebido em audiência pelo ministro das comunicações, acompanhado do seu assessor Carlos José Magalhães de Melo. À época, o ministério funcionava no então Estado da Guanabara. Ali, o prefeito de Aracaju redigiu de próprio punho um requerimento solicitando do ministro a aceleração do processo e deu entrada no protocolo, ficando com o jornalista Carlos Magalhães a responsabilidade de acompanhar os procedimentos junto ao ministério.

Além disto, Carlos Magalhães e Valdir Brito visitaram os dirigentes do Departamento Nacional de Telecomunicações - Dentel, buscando a superação de entraves burocráticos ainda existentes. Ali, receberam também acenos afirmativos de que em poucos dias todas as dificuldades estariam superadas.

Todavia, apenas cinco dias depois de a diretoria da TV Sergipe haver divulgado esse conjunto de boas notícias, o jornal Gazeta de Sergipe revelou que tudo era ilusório e que a autorização para funcionamento da emissora ainda iria demorar razoavelmente, como de fato ocorreu.

Na coluna Informe GS do dia 11 de dezembro de 1970, a Gazeta de Sergipe afirmou que “as notícias a respeito da possibilidade de funcionamento da Televisão de Sergipe, não passam de um sonho. A verdade é bem outra. Não esperemos a nossa Televisão tão cedo”. Naquele momento a Prefeitura de Aracaju vinha já relaxando os gastos com a manutenção da torre repetidora instalada no Morro do Urubu, que possibilitava aos lares sergipanos a recepção do sinal da TV Jornal do Comércio, do Recife.

Ao se dar conta de que a autorização para a TV Sergipe operar tardaria, o prefeito Valdir Brito determinou que fossem realizados urgentemente serviços de manutenção nos equipamentos da torre do Morro do Urubu, buscando garantir a continuidade do único sinal de televisão disponível na capital do Estado de Sergipe.

Na verdade, desde o mês de outubro de 1970, os aracajuanos tinham muita dificuldade em captar o precário sinal da TV pernambucana retransmitido em Aracaju. Havia necessidade de investimentos para adquirir equipamentos mais novos e mais modernos. Contudo, o município não o fizera em face da expectativa em torno da autorização para que a TV Sergipe iniciasse as suas transmissões.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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