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O CIRINEU DA TV SERGIPE - III

                                              Reunião dos primeiros acionistas - 1966

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A escolha do Morro do Urubu como espaço adequado na cidade para a instalação da torre repetidora do sinal da TV pernambucana Jornal do Comércio foi feita pessoalmente pelo próprio Irineu Fontes. Do mesmo modo, ele regressou a Aracaju no caminhão que trouxe de São Paulo o moderno equipamento.

Também da cidade de São Paulo vieram os técnicos da empresa Empire encarregados de montar e fazer funcionar a torre da TV, como era chamada pelas pessoas. É verdade que o poder irradiante era pequeno e o sinal não primava por qualidade elevada, mas isto não turbou a magia da transmissão simultânea de sons e imagens que encantaram os habitantes da capital do Estado de Sergipe.

A tarefa de manter a torre repetidora funcionando não era simples. No Morro do Urubu, onde foi instalada a antena, não havia energia elétrica. Para alimentá-la foi necessário adquirir um gerador movido a óleo diesel. As transmissões ocorriam entre as 17 e as 22 horas, de segunda a sábado. Aos domingos, das 12 às 22 horas.

Irineu Fontes subiu o Morro do Urubu diariamente com o seu Jeep, que possuía tração nas quatro rodas, transportando o óleo diesel necessário para alimentar o gerador de energia elétrica, tarefa penosa e cansativa, posto que a estrada precária só levava até a metade do Morro.

A fim de ajudá-lo na penosa tarefa, Irineu Fontes convidou alguns amigos. Dois deles tiveram papel destacado e passaram a trabalhar com ele na manutenção das atividades da torre de retransmissão: o empresário e radialista Paulo Silva e o empresário Milson Barreto, que compartilharam e dividiram as responsabilidades de fazer funcionar aquele equipamento.

A venda de aparelhos de TV Empire explodiu em Sergipe, mesmo sendo os preços muito caros e reduzida a população de privilegiados que tinham condições de pagar pela aquisição e instalação dos televisores em suas casas. A indústria e o comércio criavam facilidades e usavam todo tipo de artifício para assegurar as vendas.

Os aparelhos de TV eram vendidos em seis, 12, 18 e até 24 prestações. Lojas como P. Franco, A. Curvelo e Movelaria Brasileira sorteavam entre os compradores passagens aéreas para o Rio de Janeiro e São Paulo e faziam até sorteios do carro que era a grande sensação da década de 60 do século XX: o Fusca.

Irineu estimulou os comerciantes de Itabaiana, Estância, Propriá e Lagarto, dentre outros, e o interior do Estado de Sergipe começou a ganhar também torres repetidoras, aumentando a venda de aparelhos de TV no interior sergipano. Deste modo, Irineu se colocou como um dos maiores representantes do ramo de aparelhos eletrodomésticos do Brasil.

Irineu Fontes percebeu que seria possível ampliar ainda mais os seus negócios se o Estado de Sergipe possuísse não apenas uma torre repetido, mas uma emissora de Tv que gerasse o sinal em Aracaju e o transmitisse para os lares dos sergipanos. Nasceu, assim, em 1966, a ideia de criar a Rádio Televisão de Sergipe S. A.

Irineu convocou o seu contador para dar forma a nova empresa e buscou amigos comerciantes com tal objetivo. Lembrou de Nairson Menezes e da sua tentativa de se eleger deputado estadual em 1958 tendo como bandeira a instalação de uma emissora de TV em Sergipe.

O radialista e publicitário Nairson Menezes estava, em 1966, trabalhando em Salvador, no Estado da Bahia, onde era radialista e apresentador de programas de TV, além de continuar exercendo a sua atividade de publicitário, tal como aprendera trabalhando na TV Excelsior, em São Paulo. Irineu conseguiu seduzi-lo e Nairson que estava se transferindo para Aracaju resolveu aderir ao projeto.

À época, dentre outras atividades que passou a desenvolver no rádio, Nairson Menezes organizou a primeira agência de propaganda em Sergipe, nos mesmos moldes que conhecera nos mercados dos Estados de São Paulo e da Bahia, onde atuara até então. Nairson levou Sergipe a se libertar da “era dos reclames” e começou a produzir jingles comerciais gravados e peças publicitárias graficamente muito bem-acabadas, o que era uma grande novidade no mercado sergipano.

Nairson foi, por assim dizer, o primeiro modernizador do mercado publicitário de Sergipe e fundador da primeira agência de propaganda a funcionar no Estado – a NM Publicidade e Negócios. Agência de propaganda era, até então, uma instituição desconhecida no tímido mercado publicitário local.

No projeto de Irineu Fontes, coube a Nairson Menezes a responsabilidade por uma grande inovação – a subscrição pública de ações da empresa Rádio Televisão de Sergipe S.A. A TV Sergipe foi, em tal sentido, uma emissora de TV original no mercado brasileiro de televisão, ao constituir o seu capital social através da oferta pública de ações.

Foram implantados pontos de venda no então moderno edifício da Estação Rodoviária Governador Luiz Garcia e nos mais importantes pontos do centro comercial de Aracaju, como a loja P. Franco, situada na rua João Pessoa, um dos endereços de maior elegância do comércio à época.

O empreendimento conquistou também rapidamente a adesão de importantes líderes empresariais sergipanos como Francisco Pimentel Franco, Josias Passos (adquirente da maior quantidade de ações e que deteve por muitos anos o controle acionário do capital votante da empresa), Getúlio Passos (filho de Josias Passos e primeiro diretor-presidente da empresa), José Alves, Hélio Leão, Augusto Santana, Paulo Vasconcelos, Geonízio Curvelo, Carlos Menezes, Lauro Menezes e Luciano Nascimento, dentre outros.

Além destes grandes acionistas, disparou a venda popular de ações nos postos abertos ao público. Tinha cidadão assalariado que adquiria uma única ação. O fato é que em 1967 a empresa estava já constituída e iniciou os investimentos para implantação da emissora de TV.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

 
 

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