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O CIRINEU DA TV SERGIPE - IV

                                            Edifício Estado de Sergipe - Em construção
  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O entusiasmo de Irineu Fontes e a sua capacidade de reunir em torno da proposta outros grandes nomes que comungavam com ele dos mesmos ideais, como Nairson Menezes, além dos empresários investidores que ajudaram a viabilizar a ideia, terminou entusiasmando todos os sergipanos. Nairson foi o grande vendedor das ações da nova empresa.

Colocar a TV Sergipe em funcionamento se transformou em questão de honra. O poder público resolveu se somar ao projeto e a Prefeitura de Aracaju fez a doação de uma área de terra de sua propriedade no Morro da Piçarra, bairro Cidade Nova, para que ali fosse construído o edifício que sediaria os escritórios, os estúdios e os equipamentos de geração, reprodução e transmissão, além da torre.

Organizada a empresa, Josias Passos, o maior acionista, designou o seu filho, Getúlio Dantas Passos, também detentor de uma grande quantidade de ações, para assumir a presidência da organização. Começou uma fase mais difícil, com três importantes objetivos: a construção do edifício sede, a obtenção da concessão junto ao Ministério das Comunicações, a aquisição e também a montagem do equipamento necessário ao funcionamento da emissora.

O entusiasmo da população do Estado de Sergipe pelo empreendimento somente era superado pela ansiedade em torno do momento no qual começaria a ser transmitido o sinal da nova emissora de televisão. A assinatura do contrato para a aquisição dos equipamentos, em 1967, foi celebrada de modo efusivo.

Por orientação dos contatos que Irineu Fontes mantinha junto a empresa Empire, em São Paulo, os dirigentes da TV Sergipe receberam duas sugestões: a de contratação do engenheiro Linhares, que era funcionário da Empresa Brasileira de Telecomunicações – Embratel, em Sergipe, e a da contratação dos equipamentos de transmissão junto a empresa Maxwell.

Ao contratar junto a Maxwell a produção dos seus equipamentos, a TV Sergipe se tornava pioneira em um novo aspecto: foi a primeira emissora de televisão brasileira montada com equipamentos nacionais, totalmente fabricados no Brasil. É bom lembrar, que os fundadores da TV Sergipe já tinham inovado criando a primeira empresa de televisão no país com capital obtido a partir da subscrição pública e aberta de ações, com ampla participação popular.

A ansiedade pelo sinal da nova emissora de TV era tamanha que levou Irineu Fontes a tomar uma decisão ousada, assim que chegaram a Aracaju os primeiros equipamentos, em 1967. À época estava em construção o Edifício Estado de Sergipe, o mais alto da cidade de Aracaju, com 27 andares, destinado a abrigar a maior parte das Secretarias de Estado e algumas autarquias e empresas públicas estaduais.

Irineu Fontes conseguiu a autorização do governador Lourival Baptista, levou equipamentos para a laje de teto do edifício, com a colaboração de alguns técnicos, e instalou uma antena precária, fazendo a primeira transmissão de TV com sinal gerado em Sergipe.

Até aquele momento não existia em Sergipe um grupo de profissionais qualificados para trabalhar em televisão. Os primeiros foram treinados, recaindo a preferência dos técnicos que vieram de São Paulo sobre profissionais que possuíam experiência como operadores de emissoras de rádio e técnicos que lidavam com projetores nos cinemas que existiam em Sergipe.

O filho de Irineu, Neu Fontes, atualmente músico, gestor público e publicitário, então adolescente, estava ao lado do pai na aventura de transmissão do sinal no alto do Edifício Estado de Sergipe, em 1967. Recorda que os elevadores do edifício em construção ainda não estavam em funcionamento. Para subir até a laje superior do último pavimento, eles utilizaram os precários elevadores em caixote de madeira que serviam para o transporte de cargas e operários da construção civil que atuavam na obra.

Sem que a TV Sergipe tivesse recebido concessão do Ministério das Comunicações para operar, nem mesmo em fase de experiência, o Departamento de Polícia Federal considerou ter sido clandestina aquela transmissão e durante muito tempo Irineu Fontes teve necessidade de se explicar junto a autoridades policiais e da área de telecomunicações.

A primeira autorização precária para funcionamento em caráter experimental, por 90 dias apenas, foi concedida somente em 1968. Foram feitas algumas transmissões naquele ano. A TV Sergipe silenciou e voltaria a transmitir experimentalmente em ocasiões especiais, como em 1969, quando exibiu ao vivo a chegada do homem à lua.

Em 1970 ocorreu um novo período especial de transmissões, com autorização temporária, durante a realização dos jogos do Campeonato Mundial de Futebol, no México. Os sergipanos acompanharam as partidas de futebol e a conquista pelo Brasil do título de tricampeão da Copa do Mundo. Depois disto, a TV Sergipe parou de transmitir e somente recebeu nova autorização para operar em caráter experimental no dia 12 de maio de 1971, transmitindo ininterruptamente até o final do ano, quando foi inaugurada definitivamente.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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