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A MAGIA DE SAYONARA


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A Universidade Tiradentes e o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe se uniram em 2021 para a execução do projeto de um livro que é uma doce declaração de amor ao Estado de Sergipe. A publicação reúne fotógrafos e uma iconografia que nos apresenta à história dos magos da imagem que viveram neste pedaço do território brasileiro e congelaram distintos lugares e momentos em papel fotográfico.

RETRATOS E PAISAGENS AFETIVAS DE SERGIPE, livro organizado por Sayonara Viana com projeto gráfico e editoração de Jean Carlos Petchas, é em si uma obra de arte que encanta a quem gosta de livros. Obsessivamente perfeccionista, Sayonara, além de realizar a pesquisa, a catalogação e a curadoria do projeto, organizou uma equipe muito qualificada para a execução dos seus objetivos.

Os textos foram produzidos por 15 importantes intelectuais, valorizando o conteúdo do livro: Aglaé d’Ávila Fontes, Ana Maria Fonseca Medina, Beatriz Góis Dantas, Cândida Oliveira, Claudefranklin Monteiro, Clínio Carvalho Guimarães, Eduardo Angelus Almeida, Fabrícia de Oliveira Santos, Humberto Lima de Aragão Filho, João Mouzart de Oliveira Junior, José Anderson Nascimento, Maria Lúcia Marques Cruz e Silva, Verônica Nunes e Wanderlei de Oliveira Menezes.

Os cuidados não param por aí. Para revisar os textos, Sayonara convidou três rigorosos auditores das regras gramaticais da língua de Camões: Joseane Moreira, Ronaldson Sousa e Wagner Lemos. A este último foi entregue ainda a responsabilidade de escrever o texto de uma das orelhas do livro (insisto que não me agrada a denominação de ABA, birra tola da minha parte). O historiador Antônio Lindvaldo Sousa fez o prefácio.

Ninguém executa um trabalho tão qualificado como este de Sayonara sem um bom assessoramento. Além de todos os nomes já citados, ela contou com o apoio técnico de Maria Magna Nogueira e de Sônia Cristina Carvalho Cardoso, ambas integrantes da equipe do Memorial do Poder Judiciário de Sergipe.

Para reproduzir algumas fotografias que exigiam mais esmero, Sayonara recorreu ao experiente fotógrafo Seiji Hiratsuka. E não poderia ser diferente com o tratamento de imagens produzidas a partir da primeira metade do século XIX, boa parte delas capturadas com negativos em vidro.

Sayonara não poupou esforços em busca de acervos e fontes, o que a levou ao Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe, ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, à Biblioteca Pública Epifânio Dória, ao Instituto Banese, ao Instituto Moreira Sales, à Biblioteca Nacional, ao Memorial de Sergipe (Unit), ao Museu Histórico de Sergipe, ao Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro e ao Memorial de Simão Dias, onde garimpou raros registros fotográficos.

Por trás do projeto, dois mecenas que ofereceram todo o suporte ao trabalho de Sayonara: o desembargador Edson Ulisses, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, e o professor Jouberto Uchoa de Mendonça, reitor da Universidade Tiradentes. O livro homenageia os 200 anos da emancipação política de Sergipe.

Indispensável dizer que Sayonara contou ainda com a colaboração de colecionadores como Waldemar Fontes Cardoso Neto, José Evangelista, Ana Medina, Sônia Cristina Carvalho Cardoso, Edmea Oliva e Adriana Hagenbeck. Do mesmo modo, Sayonara entrevistou Lineu Lins, Wilton Brito Porto, Gilson de Oliveira Figueiredo, Robério Barreto Santos e Jackson da Silva Lima.

As investigações de Sayonara possibilitaram a recuperação de registros escritos e iconográficos que dão conta da atividade de importantes eternizadores da memória em Sergipe ao tempo em que destaca a valorosa contribuição de fotógrafos que atuaram em Itabaiana e de um outro grupo que se reuniu em torno da Sociedade Sergipana de Fotografia.

Ao discutir os fotógrafos referenciais dos séculos XIX e XX, o livro faz emergir dos baús do esquecimento os nomes de Antônio Barbosa Guimarães Filho, Humberto Aragão e Walmir Almeida, além de homenagear fotógrafos marcantes do século XX, como Lineu Lins de Carvalho.

Não apenas os profissionais da fotografia que frequentaram os salões da elite merecem a atenção do estudo conduzido por Sayonara. Também foi registrado o trabalho dos chamados “Lambe-Lambe”, dos artistas da fotografia da cidade de Lagarto  e daqueles que desde o século XIX registraram a vida no então próspero município de Maruim.

Distintas efemérides da vida de Sergipe aparecem nas imagens prospectadas pelo trabalho que Sayonara Viana organizou. Eventos como a procissão de Bom Jesus dos Navegantes, em Aracaju, ganharam destaque especial. Da mesma maneira, as sedes da Academia Sergipana de Letras, as celebrações do 24 de outubro e outras festas populares sergipanas.

Por fim, vale o registro das imagens de personalidades marcantes na história de Sergipe, como Epifânio da Fonseca Dória, o Barão de Maruim e Horácio Hora. Tudo isto tocado por artistas da fotografia como Moura Quineau, Guilherme Rogato, Abílio August Cardoso Coutinho, João Goston e inúmeros outros.

Não tenho nenhuma dúvida. RETRATOS E PAISAGENS AFETIVAS DE SERGIPE é o melhor e mais completo trabalho acerca da história da fotografia entre nós.

 

 

*Jornalista, doutor em Educação pela PUC de São Paulo, professor aposentado do Departamento de História, Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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