Pular para o conteúdo principal

OS JORNALISTAS DE JOSIVAL


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Durante os anos nos quais me debrucei sobre a história da imprensa e a leitura e análise de jornais e revistas que resultaram no livro MEMÓRIAS DO JORNALISMO E DA COLUNA SOCIAL, publicado em 2023, pude perceber que não obstante o esforço e as contribuições de muitos estudiosos que se debruçaram sobre o tema da história da imprensa em Sergipe, ainda somos muito carentes de estudos históricos em torno da mídia.

Por isto, celebro com entusiasmo o livro TRÊS CAPELENSES NA IMPRENSA, que recebi, presenteado pelo autor, Josival Bezerra, nascido na cidade de Capela, no Estado de Sergipe, como são os três jornalistas por ele analisados: Austrogésilo Santana Porto, Leonídio Augusto de Souza Porto e Zózimo Lima.

Como os personagens sobre os quais se debruçou, Josival é igualmente jornalista, além de professor da rede pública estadual de Sergipe. O jornalismo, visível paixão do nosso autor, lhe permitiu trabalhar como secretário da cultura e da comunicação social de Capela e secretário de comunicação social, da cultura e do esporte e lazer do município de Campo do Brito. O jornalista Josival trabalhou ainda como produtor de jornalismo da TV Atalaia, da TV Sergipe e da Fundação Aperipê.

Prefaciado pelo seu conterrâneo jornalista e artista plástico Ismael Pereira, o livro de Josival é uma alentada brochura de 302 páginas, mas é, acima de tudo, uma qualificada contribuição à história da imprensa em Sergipe, a partir do perfil dos três capelenses estudados e de mais alguns citados lateralmente, não obstante a grande importância que tiveram no jornalismo sergipano do século XX, como Orlando Dantas, também nascido em Capela, que foi fundador e até a sua morte diretor do jornal Gazeta de Sergipe.

Como autor, Josival Bezerra não dissimula o seu encantamento com o trabalho dos jornalistas que estuda. Particularmente, considero isto muito bem. Tenho por hábito, sempre que escrevo, aclarar o palco a partir do qual eu falo e revelo com a mais transparente sinceridade os objetos de estudo pelos quais me apaixono.

Em tal direção, Josival fala entusiasmadamente do trabalho de Austrogésilo Santana Porto, fazendo dele um bom esboço biográfico e apresentando a sua produção literária e jornalística. Repete a mesma operação discursiva para expor as práticas de Leonídio Augusto de Souza Porto e de Zózimo Lima.

Sem nenhuma dúvida, dos três jornalistas estudados por Josival Bezerra, Austrogésilo Porto foi o de pendores literários mais refinados e de maior inspiração, além do domínio das regras e técnicas que a produção do texto literário requer. Não obstante ter morrido muito jovem, aos 47 anos de idade, Austrogésilo deixou importantes ensaios literários e artigos de fundo de cunho socialista.

O autor mostra a sensibilidade do poeta Austrogésilo Porto e o compromisso deste com a chamada poesia social. Em tal contexto lança luz sobre um importante livro do jornalista: O REALISMO SOCIAL NA POESIA EM SERGIPE, uma obra de crítica literária, analisando a produção poética no estado.

Militante entusiasmado do socialismo e simpatizante do udenismo liderado em Sergipe por Leandro Maciel, Austrogésilo era um importante desportista dedicado ao jornalismo esportivo, escrevendo muitas crônicas nos jornais em que atuou, dedicadas principalmente ao futebol.

Como Austrogésilo, Leonídio Augusto de Souza Porto foi também um importante ativista político. Dos três jornalistas estudados por Josival, sem nenhuma dúvida, Zózimo Lima era o mais conservador. Contudo, é importante sublinhar, todos eles mantinham entre si grau de parentesco na condição de descendentes da família Porto.

Josival Bezerra esclarece que, ao escrever não teve pretensão de produzir um ensaio de história, mas sim um trabalho jornalístico, uma espécie de reportagem na qual a história ganhou luz em face das questões nas quais os jornalistas analisados se envolveram ao longo da sua vida.

Por isto, o livro de Josival contribui para que seja lançada luz sobre alguns aspectos da história de Capela, como a criação da Comarca e a elevação à categoria de cidade. O autor mostra que entre o século XIX e a metade do século XX, os capelenses publicaram mais de 15 jornais.

Este é o caminho que ele busca para explicar a grande quantidade de jornalistas que saíram de Capela e ocuparam importantes espaços da imprensa em Aracaju, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Cita explicitamente figuras como Orlando Dantas, Carlos Oliveira, Carla Suzanne Lima, Carlos Valter Ribeiro, Ana Carla Barreto e João Marques Guimarães, dentre tantos outros.

Josival aguçou os sentidos dos interessados no tema da história da imprensa. Demonstrou que é bom pesquisador e fez com que os leitores do trabalho aqui resenhado fiquem a aguardar a sua próxima contribuição.

 

 

*Jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. É membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A MORTE E A MORTE DO MONSENHOR CARVALHO

  Jorge Carvalho do Nascimento     Os humanos costumam fugir da única certeza que a vida nos possibilita: a morte. É ela que efetivamente realiza a lógica da vida. Vivemos para morrer. O problema que se põe para todos nós diz respeito a como morrer. A minha vida, a das pessoas que eu amo, a daqueles que não gostam de mim e dos que eu não aprecio vai acabar. Morreremos. Podemos mitologizar a morte, encontrar uma vida eterna no Hades. Pouco importa se a vida espiritual nos reserva o paraíso ou o inferno. Passaremos pela putrefação da carne ou pelo processo de cremação. O resultado será o mesmo - retornar ao pó. O maior de todos os problemas é o do desembarque. Transformamo-nos em pessoas que interagem menos e gradualmente perdemos a sensibilidade dos afetos. A decadência é dolorosa para os amigos que ficam, do mesmo modo que para os velhos quando são deixados sozinhos. Isolar precocemente os velhos e enfermos é fato recorrente, próprio da fragilidade e das mazelas da socied...

O LEGADO EDUCACIONAL DE DOM LUCIANO JOSÉ CABRAL DUARTE

  Jorge Carvalho do Nascimento     A memória está depositada nas lembranças dos velhos, em registros escritos nas bibliotecas, em computadores, em residências de particulares, em empresas, no espaço urbano, no campo. Sergipe perdeu, no dia 29 de maio de 2018, um dos seus filhos de maior importância, um homem que nos legou valiosos registros de memória que dão sentido à História deste Estado durante a segunda metade do século XX. O Arcebispo Emérito de Aracaju, Dom Luciano José Cabral Duarte, cujo centenário de nascimento celebramos em 2025, foi uma das figuras que mais contribuiu com as práticas educacionais em Sergipe, sob todos os aspectos. Como todos os homens de brilho e com capacidade de liderar, despertou também muitas polêmicas em torno do seu nome. Ao longo de toda a sua vida de sacerdote e intelectual da Educação, Dom Luciano Duarte teve ao seu lado, como guardiã do seu trabalho e, também da sua memória, a expressiva figura da sua irmã, Carmen Dolores Cabral Duar...

A REVOLTA DE 13 DE JULHO, OS SEUS REFLEXOS SOCIAIS E OS MÚLTIPLOS OLHARES DA HISTÓRIA

      José Anderson Nascimento* Jorge Carvalho do Nascimento**                                                                                              Qualquer processo efetivamente vivido comporta distintas leituras pelos que se dispõem a analisar as evidências que se apresentam para explicá-lo. Quando tais processos são prescrutados pelos historiadores, a deusa Clio acolhe distintas versões, desde que construídas a partir de evidências que busquem demonstrar as conclusões às quais chega o observador. Historiadores como...