Jorge
Carvalho do Nascimento
Quando
o Padre Galo chegou à Paróquia do Sagrado Coração de Jesus para investigar o
comportamento do Sônia e o descumprimento do voto de castidade pelo Frei
Fernando, ninguém imaginava que as coisas tomariam o rumo que a elas foi dado.
O Frei Fernando fora enxotado da Paróquia e estava vivendo na Amazônia, a
sertaneja se perdera nos braços do Desembargador Elífio e terminou na rua da
amargura, com uma criança na barriga, humilhada pelo magistrado e abandonada
por Orozimbo. E pior: sem nenhuma renda mais.
O
desejo do Padre Galo de se acostar com Sônia o levou a colocar toda a carga de
responsabilidades sobre o Frei Fernando e livrar a moça, levando o arcebispo
Dom Moisés a perdoá-la. Os encantos da sertaneja
acordaram o velho Pente Fino que jazia nos recônditos da consciência do
sacerdote desde que este fizera o juramento da castidade.
Ao
despertar e ficar impossibilitado de se deitar com Sônia, o Padre trouxe de
volta o boêmio devasso que habitava o seu eu e literalmente passou o Pente Fino
nas mulheres da sua Paróquia. Uma a uma, as beatas foram abrindo as pernas para
o sacerdote e colocando na boca aquilo que ele as convencia de ser um apito de
chamar santos.
Não
tardou e o falatório das beatas que eram recusadas pelo Padre voluptuoso tomou
conta de Cabedelo. As senhoras de boa família não ligavam e, contritas, punham
seus véus para ajoelhar-se no confessionário do Padre Galo. Invariavelmente,
ele estimulava as mulheres a lhe falarem sobre os pecados da carne.
O
assunto chegou aos ouvidos de Dom Moisés. O Arcebispo mandou chamá-lo ao
Palácio Episcopal, em João Pessoa.
-
Meu irmão Galo: eu o enviei a Cabedelo e coloquei em suas mãos o governo da
Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, a fim de que você reconduzisse o rebanho
aos braços do Senhor Jesus, a uma vida de virtudes, às boas práticas da fé.
Todavia, estou muito preocupado com as notícias que ando recebendo da sua
Igreja. O rebanho feminino está desgarrado e o pastor a quem eu confiei as
ovelhas é o verdadeiro lobo que as ameaça – afirmou o prelado, com voz grave.
-
Meu pastor. O senhor sabe que a maledicência humana não conhece limites. Aquela
paróquia estava sem rumo. A Casa Paroquial era um verdadeiro lupanar, um antro
de orgias comandadas pelo Frei Fernando. Considero natural que os invejosos, os
que se refestelavam com o ambiente de pecado agora estejam querendo me afastar
daquele templo – disse o Padre Galo. E complementou:
-
As mentiras a meu respeito são tantas que estão causando a indignação das irmãs
do nosso rebanho. Os que inventam essas coisas atingem a minha reputação, mas
também agridem as senhoras das melhores famílias de Cabedelo, seus maridos e
suas filhas e filhos. A Igreja está tão ofendida que marcou para o próximo
domingo uma procissão de desagravo para limpar o meu nome. Todos sairão as ruas
em oração, demonstrado que confiam no seu sacerdote e que ele se dedica
exclusivamente a administração do templo e a prática das boas ações, conforme
nos ensinam as sagradas escrituras – informou o Padre Galo.
O
Arcebispo Dom Moisés, de fato, gostava muito do Padre Galo e acreditou piamente
no que ele lhe dissera. Ele retornou a Cabedelo e, efetivamente, no domingo, no
final da tarde, as mulheres da paróquia, com seus véus pretos saíram às ruas,
em defesa do sacerdote.
César
de Nezinho, o bêbado mais conhecido de Cabedelo, sentado em uma mesa da
calçada, no boteco de Paulo Fonhen, não se conteve durante a passagem do
cortejo e gritou:
-
Vão pensando que esse padre não come ninguém. Na marcha que ele vai, não escapa
nenhuma mulher de Cabedelo. Ele vai passar todas nas armas.
Sem
dar atenção ao pé de cana, beatos e beatas, Padre Galo à frente, seguiam
cantando:
- Coração santo, Tu reinarás. Pro nosso
encanto sempre serás.
-
Anoiteceu, Divina luz. Anoiteceu, Divina luz. Em nossas almas acendei, o amor,
o amor de Jesus.
-
Bendito, louvado seja, no céu a Divina luz. E nós, também na terra. Louvemos a
Santa cruz. E nós, também na terra. Louvemos a Santa cruz.
A
procissão aplacou os falatórios dominantes em Cabedelo. O Padre Galo continuava
na sua rotina de levar as beatas o seu quarto na Casa Paroquial e purificá-las
com métodos pouco ortodoxos. A vida seguiu sua rotina e a curiosidade feminina
continuou crescente quanto aos poderes do sacerdote que deixava as mulheres felizes.
Deslocado
e desconfiado por também ter sido atingido por muitos falatórios que deram
conta das suas visitas à casa de Sônia, o Desembargador Elífio ficou à margem
desse debate. Naquela oportunidade lhe era mais conveniente ser discreto e
permanecer em silêncio.
Os
humores do magistrado somente se alteraram e o levaram à Igreja para tomar
satisfação com o Padre Galo, quando descobriu que Érica, sua filha mais velha,
então com 19 anos, era a maior entusiasta das visitas à sacristia do Padre
Galo. Visitava o sacerdote aos menos três dias por semana. E sempre voltava
para casa sorridente e feliz.
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