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ADEUS, OSMÁRIO


  

Jorge Carvalho do Nascimento

 

 

Conheci Osmário Santos quando eu fui aluno do Atheneu Sergipe, nos anos 60 e 70 do século XX. Osmário é cinco anos mais velho que eu e isto, na adolescência faz muita diferença. Eu tinha 14 anos de idade quando toquei corneta na banda. Estava na quarta série ginasial. Osmário, aos 19 anos, tocava caixa de repique, e estava já no terceiro anos científico se despedindo do Atheneu.

Depois encontrei Osmário quando ele trabalhou no comércio e atuou na elegante loja do seu pai, Zé do Magazin ou Zé da Seda, O Magazin dos Móveis, onde as famílias endinheiradas de Sergipe adquiriam a mobília que decorava suas residências. Era uma loja grande e muito movimentada.

Na segunda metade da década de 70 do século XX, eu trabalhava como repórter do jornal Gazeta de Sergipe e Osmário foi trabalhar como colunista social. Era uma espécie de era de ouro da coluna social no Brasil e, também, em Sergipe, marcada por grandes colunistas que eram figuras indispensáveis nos eventos de maior importância.

Osmário era um dos que mais se destacava dentre figuras como Karmen Mesquita, Ilma Fontes, Ivan Valença (Leilinha Leite), Pedrito Barreto, Clara Angélica Porto, Daisy Monte, Paulo Nou (que também assinava Caymmi), Anselmo Oliveira, Antonio Piuga, Araripe Coutinho, Arlene Chagas, Carlos Correia, João de Barros, Lânia Duarte, Thaís Bezerra, Ledinaldo Almeida (que também assinava Zuzu Lyra), João Barreto Neto, Luduvice José, Sacuntala Guimarães, Cristina Souza, Sônia Mara, Márcio Lyncoln, Roberto Lessa, Yara Belchior, Maria Franco e Madalena Sá.

Um universo que sucedia a geração anterior, marcada por jornalistas como Carlos Henrique de Carvalho, o Bonequinha, Luiz Daniel Baronto, Laurindo Campos, Maria Luiza Cruz, Kerginaldo, Tereza Andrade, Abrahão Crispim, Amaral Cavalcante, Anderson Nascimento, Antonio Newton Porto e muitos outros.   

Osmário foi um dos mais influentes dentre os muito nomes de colunistas sociais em Sergipe. É autor dos livros “Memórias de Políticos Sergipanos no Século XX”, publicado em 2002, e “Oxente, Essa é a Nossa Gente”, de 2004. Ambos divulgam dados biográficos de personalidades do Estado de Sergipe.

Jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Tiradentes, Osmário Santos teve o seu interesse pelo jornalismo despertado ainda na adolescência, ao cuidar do jornal mural dos estudantes do Colégio do Salvador. No final da década de 60 do século XX criou o jornal “Capacidade”, com a participação do poeta Danilo Sampaio e dos estudantes Aderbal Corumba e Antônio Menezes Barbosa.

Impresso em mimeógrafo, o jornal circulava uma vez por mês e era completamente dedicado a temas culturais, com poemas de cunho revolucionário em pleno auge da ditadura militar.

Estreou como colunista social com um programa na Rádio Jornal de Sergipe. Chamou a atenção ao fazer a cobertura do concurso Miss Brasil realizado em Salvador e transmitido por ele juntamente com o radialista Jairo Alves. Trabalhou também na Rádio Atalaia de Sergipe.

Como colunista social, manteve programas na Rádio Liberdade de Sergipe e na Rádio Difusora. Foi também responsável pela coluna social publicada na edição mantida pela sucursal de Aracaju no Jornal do Comércio do Recife. Assinou coluna diária de sociedade no Jornal de Sergipe.

No jornal Gazeta de Sergipe manteve coluna social diária e foi também editor do suplemente dominical “Gazetinha”. No Jornal da Cidade foi editor do caderno “Atalaia” que circulava aos sábados, onde era responsável pela coluna social. Quando o caderno deixou de circular assumiu a responsabilidade por uma página de coluna social que era publicada aos domingos.

Osmário Santos nasceu em 1952 e morreu aos 72 anos de idade, nesta quinta-feira, 16 de maio de 2024. Na década de 80 do século XX, quando o “Jornal da Cidade” se transformou no principal veículo da mídia impressa em Sergipe, manteve em seu quadro de jornalistas três colunistas sociais muito importantes: Osmário Santos, João de Barros e Thais Bezerra.

O próprio Osmário Santos confessou, em diversas ocasiões, que buscava praticar o mesmo estilo que se tornou marcante na década de 70 do século XX, no Rio de Janeiro, com o colunista Zózimo Barroso do Amaral, do “Jornal do Brasil”, que soube mesclar as tradições da coluna social com formas editoriais mais contemporâneas do Jornalismo. Em Sergipe, tal estilo foi muito cultivado nas décadas de 70 e 80 do século XX por colunistas como ele e, também por Luiz Adelmo Soares.

Adeus, Osmário. A minha geração está morrendo.

Comentários

  1. Somos breves nesse mundo porém nossos legados são eternos enquanto existir alguém que propague a essência dessa existência. Segue na paz Osmário 🙌

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