Jorge
Carvalho do Nascimento*
Numa
roda de bate papo em uma cafeteria de um shopping center de Aracaju, um
amigo me propôs a seguinte questão: relacione os cinco empresários de maior
erudição em Sergipe. Eu fiz uma contraproposta: posso citar apenas três? E
emendei João Augusto Gama da Silva, Juliano César Faria Souto e Wagner Bravo.
É
claro que existem outros. Há inclusive muitos empresários que são também
autores de livros. Porém, como não converso frequentemente com esses outros
sobre hábitos de leitura, não sei avaliar os padrões de erudição de cada um. Ao
meu interlocutor, citei os três com os quais frequentemente costumo trocar
ideias sobre cultura, leituras, literatura, ensaios, romances, cinema e outros
temas.
Sobre
Gama, Juliano e Wagner posso afirmar que são três homens eruditos. Por isto, a
mim não surpreendeu a recente estreia de Juliano César em livro, como ensaista,
ao publicar CULTURA EMPRESARIAL: REFLEXÕES.VIVÊNCIAS E APRENDIZADOS, livro
organizado pela sua filha Fernanda Souto, médica, doutora em Oftalmologia,
empresária como o pai e, também, pelo jornalista Marcio Rocha.
Já
não era sem tempo. Juliano César tem o que dizer e disse muito nesse livro de
estreia, mesmo sendo o livro a compilação de artigos já conhecidos. O autor, mantem
o hábito de publicar textos curtos periodicamente em jornais, blogs e outros
espaços virtuais que a internet disponibiliza. Aprendeu a fazer textos
curtos com o seu pai, já falecido, o empresário Raymundo Juliano, de quem ouvia
sempre – não há nenhuma ideia que não se possa resumir em um texto de no máximo
uma página.
E
é isto que faz Juliano César toda semana, ao publicar artigos que variam entre
uma e duas laudas, tratando de questões que normalmente passam ao largo das
lideranças empresariais. Isto faz com que o autor que analiso seja, em Sergipe,
aquele com maior sensibilidade ao observar as relações entre os negócios e as
demandas sociais.
Levado
ao mundo empresarial pelo pai, ainda na adolescência, transformou-se em líder dos
negócios atuante na Federação do Comércio do Estado de Sergipe e atualmente vice-presidente
da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores – ABAD. Juliano César,
contudo, não descuidou da sua formação acadêmica.
Fazendo
sucesso na vida empresarial, cultivou um outro costume que herdou do seu pai: participar
em associações voluntárias. Assim, como Raymundo Juliano foi ao longo da sua
vida, Juliano César é membro do Rotary Club de Aracaju-Norte, além de
contribuir com muitas associações assistenciais sergipanas.
Tendo
ingressado no curso de graduação em Administração da Universidade Federal de
Sergipe, Juliano concluiu o curso na Faculdade de Administração de Brasília e
fez MBA em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas. O hábito de ler,
principalmente a literatura de romances e outros textos clássicos vem desde a
infância pela influência que recebeu da sua mãe, Sueli.
Fernanda,
a sua filha primogênita, não obstante se dedicar a Medicina, mantém atividade
empresarial como sócia do pai. Ela afirma que desde que começou a observar o
mundo guarda a imagem do seu pai, todas as noites e aos domingos dedicado a
leitura de livros, jornais, revistas e artigos publicados pela internet.
O
hábito de escrever e publicar artigos cultivado por Juliano César tem cerca de
15 anos e a primeira ideia de reunir tudo em um livro é de Fernanda que ensaiou
a reunião dos primeiros textos de Juliano em 2017. A sua escrita, desde os
primeiros textos, trata do mundo dos negócios e da vida social que envolve
empresários, trabalhadores e consumidores.
A
brochura que agora publica tem o selo da Editora ArtNer em bom trabalho de
design gráfico que contém 345 páginas, com textos de apresentação assinados por
Fernanda Maria Silveira Souto e pelo jornalista Jozailto Lima.
São
seis blocos de artigos tematicamente separados, nos quais o autor discute Por Que
Cultura, Empreendedorismo e Gestão, Associativismo e Política, Pessoal,
Discursos e Homenagens e o último bloco, Encerramento. Ao justificar o título
do livro – CULTURA EMPRESARIAL, Juliano César toma como ponto de partida uma
visão antropológica dos processos que estabelecem a dicotômica e, por
contraditório que pareça, una, a relação
homem-natureza.
O
bloco que tem por tema Empreendedorismo e Gestão é o mais denso do livro e nele
Juliano César expressa a sua visão do mundo dos negócios transitando por
questões a respeito do dia a dia do administrador, os clientes, a negociação,
os recursos humanos, a competição e outros problemas empresariais.
Os
textos a respeito de Associativismo e Política são os que mais me agradaram. Ali,
Juliano César expõe importantes ideias que dizem respeito a percepção que tem
das prioridades políticas de Sergipe, revelando crer na possibilidade de consolidação
da área de influência da economia sergipana como importante polo da região
Nordeste.
Também,
no mesmo bloco de textos, Juliano César escreve sobre Educação e revela o seu
entusiasmo com a escola de ensino integral. Neste ponto estamos absolutamente
acordes e considero da maior importância que o tema ensino seja também
preocupação das lideranças empresariais.
De
um modo geral, vejo como muito importante o papel que desempenham na vida de
uma sociedade empresários com um perfil como o de Juliano César. Penso que a
leitura dos seus textos ajudará muito na compreensão da percepção social de um
grupo mais lúcido dos homens de negócios que nos últimos anos não se deixaram
fanatizar pelo tensionamento radical com o qual alguns conservadores impregnaram
a vida política brasileira,
Juliano,
teoricamente um liberal, demonstra que há vida inteligente e com sensibilidade
social no mundo dos negócios. É o tipo de leitura que me agrada e que recomendo
a quem gosta de um bom debate.
*Jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História, do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
Parabéns pelo texto!
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